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Leitura sociocultural da família

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Por:   •  20/3/2014  •  Tese  •  1.458 Palavras (6 Páginas)  •  208 Visualizações

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Família uma Leitura Sócio-Histórica

Ana Mercês Bahia Bock

Nascemos e nos desenvolvemos em um grupo de pessoas que costumamos chamar de família. Tão familiar a família que raramente paramos para pensar que ela nem sempre existiu, que nem sempre se constituiu como se constitui hoje. Tendemos a naturalizar a família e isto, muitas vezes, impede de se enxergar melhor as relações e os aspectos importantes da família. É como se ela sempre tivesse existido, sempre se estruturasse como se estrutura hoje e seus problemas fossem estes porque sempre foi assim. Mas não. A família é uma construção de grupos humanos e já se organizou de várias maneiras. A família que conhecemos hoje pode ser chamada de família monogâmica burguesa e surge com a propriedade privada.

F. Engels, a partir de estudos de L. Morgan, escreveu “A origem da família, da propriedade privada e do estado” e numa importante formulação dialética deu visibilidade à gênese da família monogâmica. A questão da propriedade privada e as necessidades que ela instalava na sociedade, como a herança, vão gerar novos padrões de relacionamento e exigências. Das mulheres passa a ser exigida a fidelidade e a castidade como garantias de paternidade para a passagem da herança (propriedade privada). Dos homens o sustento, já que as mulheres estavam com a incumbência da criação e educação dos filhos. Isto tudo era novo. A criação dos filhos, antes da propriedade privada, era tarefa da comunidade.

A industrialização é outra força social que modificará a organização familiar. Os membros do grupo familiar, que trabalhavam em casa e ali ensinavam seus filhos os ofícios que possuíam, agora não estariam mais ali para essa tarefa. Estariam na fábrica. Enquanto as mulheres puderam estar em casa, os filhos foram educados por elas. Mas quando a indústria precisou desta mão de obra, a tarefa de educar passou para a escola.

Interessante notar que as tarefas da família vão se diversificando enquanto agentes responsáveis pela educação, mas a família vai ao mesmo tempo e contraditoriamente se fortalecendo como referência e lugar dos filhos. O afeto vai aparecendo como uma qualidade das relações familiares; a autoridade paterna se fortalece; a mãe ocupa o papel de cuidadora e os irmãos vão exigindo a igualdade no trato e no afeto.

A família burguesa monogâmica, como a conhecemos hoje, vai se constituindo nesse processo histórico, sempre respondendo às necessidades sociais que vão se colocando para os grupos. Nasce da realidade da burguesia do século XVIII na Europa, mas se expande, tornando-se o modelo dominante na sociedade. Os grupos proletários, que viviam uma realidade distinta da burguesia, estarão sujeitos ao mesmo padrão e ela passa então a se constituir como A FAMÍLIA, no seu padrão dominante já no início do século XIX.

A família burguesa é um grupo fechado em si mesmo, distanciado do espaço do trabalho e caracterizado por fortes vínculos afetivos entre seus membros. A divisão de papéis entre homens e mulheres se aprofundou e o lar passou a ser o lugar da mulher. Frágil, afetiva, cuidadosa e amorosa, a mulher se tornou mãe. A tarefa de educar e cuidar dos filhos já não era mais dividida com a comunidade e, se dividida com empregados da casa, era de sua inteira responsabilidade. O homem por sua vez, no pólo oposto, se fortaleceu como o provedor, racional, inteligente e forte deveria produzir o sustento necessário à família. A família se instituiu assim como um espaço de circulação de afeto e proteção que deveria garantir a reprodução da força de trabalho necessária à continuidade da sociedade e como lugar de reprodução da moral dominante.

Esse grupo fechado e a necessidade de constituí-lo como tal não poderiam deixar de influenciar o desenvolvimento da sexualidade e vamos encontrar, ricamente descritos nos estudos freudianos, aspectos importantes destas relações. Disputas entre os filhos pelo amor dos pais e disputa entre pais e filhos pelo amor da mãe são exemplos de vivências que passam a ocorrer nos grupos familiares marcados por essas novas formas de relacionamento, convivência e papel social.

A família respondia a várias necessidades da sociedade que se desenvolvia: a submissão à autoridade aprendida em casa servia à sociedade capitalista e às relações de produção vigentes. O autocontrole e a obediência às regras se estendem à obediência à lei e à necessidade de disciplinamento do trabalho e à submissão ao capital; os valores se instalam com eficiência porque são ensinados a partir de vínculos afetivos fortes.

E os humanos do século XX e XXI encontrarão este modelo de família estabelecido que será tomado como natural, universal e inquestionável, deixando de compreender a relação que as formas familiares atuais mantêm com as formas de produção da vida.

Muita coisa fica assim invisível.

Uma delas é a apropriação que os pais acabam desenvolvendo sobre a vida de seus filhos. Depois de nascidos e registrados com o sobrenome da família, os filhos deverão obediência e respeito a seus pais. Os pais deverão cuidar deles e poderão então cobrar submissão. Muitos dos problemas familiares e dos conflitos entre pais e filhos, hoje, se devem ao fato de os pais se pensarem como proprietários de sua cria. Dar surras nos filhos, colocá-los de castigo, obrigá-los a isto ou aquilo são atitudes pensadas como naturais, afinal são os pais que sustentam e criam esses filhos! Os pais se sentem na obrigação de responder à sociedade pela educação que dão a seus filhos e isto os pressiona a comportamentos autoritários. Esta realidade fragiliza e esconde relações de parceria que

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