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Natureza E Cultura

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Por:   •  4/9/2014  •  2.197 Palavras (9 Páginas)  •  485 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS-UFGD

MESTRADO EM ANTROPOLOGIA

Disciplina: Teoria Antropológica I

Resenha: Natureza e cultura

(Estruturas elementares do parentesco)

Fernanda Ferrari

(Aluna Especial)

f.ferraripsi@hotmail.com

Dourados/MS

2013

A relação entre natureza e cultura permeou vários estudos de Levi Strauss no que diz respeito aos seus limites, princípios e diferenças. Daí surgiu muitos debates entre a antropologia e outras ciências no sentido de buscar a identificação ou determinação daquilo que é natural, determinado pela ordem biológica; e daquilo que é cultural.

Em seu livro As estruturas elementares do parentesco, publicado em 1949, realizou inúmeras pesquisas tentando, a princípio, definir para cada atitude uma causa de ordem biológica ou social, e paralelamente, buscou esclarecer os mecanismos que fazem atitudes de origem cultural se integrar à comportamentos de natureza biológica, num movimento de correspondência.

Em seu primeiro capitulo, Lévi-Strauss se esforçou na busca de uma maneira de identificar no comportamento humano, e até mesmo animal, a força da influência do biológico como também do social e em que momento se daria o fim do biológico e o início do cultural, para se estabelecer o início do social.

Encontrou muita dificuldade, uma vez que, natureza e cultura se interferem o tempo todo, num movimento supostamente cíclico e de retroalimentação, sugerindo que: “A cultura não pode ser considerada nem justaposta nem superposta à vida, em certo sentido substitui-se à vida, em outros sentidos utiliza-a e transforma para realizar uma síntese de nova ordem” (LEVI-STRAUSS, 2003, p.42).

O autor utilizou alguns métodos possíveis para descobrir tais limites entre o cultural e o biológico.

Para ele o método mais simples consistiria em isolar uma criança recém-nascida e observar suas reações, supondo que as respostas fornecidas nestas condições fossem de origem psicobiológicas. Verificou com esta experiência que, qualquer método rigoroso de isolamento fugiria do natural, visto que, os cuidados de uma mãe durante os primeiros anos de vida de uma criança faz parte da ordem natural.

Hoje, estudos de Desenvolvimento da Criança mostram que só é possível pensar o desenvolvimento do ser humano a partir dos estímulos que ele recebe, ao contrário da afirmação de que a criança anda espontaneamente desde que organicamente for capaz de fazê-lo

(RUOSO, 2009 citou LEVI-STRAUSS:1976, p. 42).

Se a criança não receber os estímulos sociais ela não irá se desenvolver. Desta forma, com aquilo que conhecemos hoje, é impossível pensar o desenvolvimento humano separado do meio social, o próprio desenvolvimento motor e intelectual está intimamente ligado ao meio social, de forma que não é possível fazer a cisão do momento que a criança trabalha somente a partir dos instintos para quando ela começa a aprender. Hoje se afirma que a criança começa a aprender mesmo dentro do útero materno (RUOSO, 2009).

Continuando com os estudos ainda apresentados no livro As estruturas elementares do parentesco, foram analisados casos de crianças perdidas na mata desde os primeiros anos de vida (os "meninos-lobo"), onde se encontraram relatos que identificavam seus comportamentos mais como causa inicial do que como resultado de seu abandono, por serem portadoras de anomalias congênitas.

Desta forma, o autor verifica que é impossível encontrar no homem um comportamento de caráter pré-cultural, pois não há registros de tais comportamentos que se pudesse utilizar como comparação à conduta de uma criança observada. No caso do homem não existe um comportamento natural da espécie que poderia fazê-lo voltar mediante regressão (possível nos animais domésticos), quando isolado do grupo (BLUMENBACK, 1811).

Outra opção para descobrir os limites entre natureza e cultura, foi procurar nas sociedades animais um modelo cultural universal. Porém, entre os insetos a transmissão hereditária e o equipamento anatômico necessário para satisfação dos instintos não contempla linguagem, instrumentos, instituições sociais e sistemas de valores estéticos, morais ou religiosos (LEVI-STRAUSS, 2003).

Então, buscou-se em mamíferos superiores- macacos antropoides- através da comparação entre o comportamento humano e o comportamento animal, indícios do que seria biológico, no comportamento animal, colocando o comportamento humano como cultural. Percebendo que é possível que alguém reconheça algumas atitudes nesse grupo semelhante ao humano, pois tais fenômenos são presentes: como atitudes de contemplação, comportamento sexual; mas a forma como se apresentam é precária. Além do que verificou que o macaco se comporta de forma inconstante, no âmbito individual, e irregular no que diz respeito ao comportamento em grupo.

E é a partir da análise das relações desordenadas nesses grupos que o autor chega à conclusão de que: “Esta ausência de regra parece oferecer o critério mais seguro que permita distinguir um processo natural de um processo cultural” (LEVI-STRAUSS, 2003, p.46).

Portanto: “Em toda parte onde se manifesta uma regra, podemos ter certeza de estar numa etapa da cultura; ao passo que se reconhece no universal o critério da natureza, ou seja, aquilo que é constante em todos os homens, necessariamente escapa aos domínios dos costumes, das técnicas e das instituições” (LEVI-STRAUSS, 2003).

A utilização dessa antinomia entre a cultura e a natureza representada na relação entre homem e animal parte do pressuposto de que o homem é o único animal que cria cultura, mas cada vez mais estão surgindo experiências que colocam isso em questão.

O próprio autor, após reflexões sobre o comportamento humano na criança e no adulto em comparação a um grupo simiesco, conclui que: “a constância e a regularidade existem tanto na natureza quanto na cultura, mas na primeira aparecem precisamente no domínio em que na segunda se manifestam mais fracamente, e vice-versa” (LEVI-STRAUSS, 2003, p.46).

Há um círculo vicioso ao se procurar na natureza a origem das regras institucionais. Ou seja, há um mecanismo de articulação entre esses dois fatores que impede de apreender exatamente o ponto de passagem de um para

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