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O Costureiro sua Grife por Pierre Bourdieu

Por:   •  1/9/2018  •  Monografia  •  2.295 Palavras (10 Páginas)  •  254 Visualizações

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Introdução

        

O presente texto traz a interpretação sociológica de Pierre Bourdieu, realizando uma análise dos gostos de classe e estilos de vida como sistemas de diferenças comportamentais e existenciais entre as classes no espaço social. Discute a ideia de Habitus como operador simbólico para orientação de ações dentro das relações sociais.

 

Gosto de classe de estilo de vida

Para Bourdieu a expressão do estilo de vida se dá através do habitus, é a partir deste princípio que ele conceitua o gosto de classe e o estilo de vida, trazendo a análise da particularidade de cada indivíduo como um ser único na sua relação com o outro e, através de encontros que se articulam os diversos estilos de vida como um conjunto simbólico, onde o indivíduo ou os grupos específicos comportam-se de maneira muitas vezes semelhante e fazendo escolhas geralmente similares.

O autor conceitua o habitus como aquilo que fazemos sem pensar, automaticamente, é a internalização do sistema de regras, um “comportamento naturalizado”. É o princípio unificador e gerador das práticas (aquilo que fazemos) e das propriedades (aquilo que possuímos). Ele tem o poder de reprodução e conservação social, pode inventar e até provocar mudanças. Sendo assim, só é possível entender a posição de um indivíduo no espaço social se conhecermos suas características sociais, econômicas e seu habitus. O que diferencia uns (grupos) dos outros, sem a estrutura de camadas, é o conjunto dessas relações de gosto e habitus, estilo de vida, no espaço social.

O gosto, para Bourdieu é a: “[…] propensão e aptidão à apropriação (material e/ou simbólica) de uma determinada categoria de objetos ou práticas classificadas e classificadoras, é a fórmula generativa que está no princípio do estilo de vida.” (1983, p. 83). Assim, o gosto é a capacidade para apropriação dos bens materiais e simbólico, é o fator que determina o estilo de vida. Uma definição provisória sobre os gostos é a de ser um conjunto de práticas e propriedades, de escolhas, de um grupo ou pessoa.

Já o estilo de vida corresponde às posições ocupadas no espaço social, é como um indivíduo ou um grupo vivenciam o mundo, como se comportam e como fazem suas escolhas, ele é determinado pelo gosto e expressado por meio do habitus. No contexto da ordem simbólica, o estilo de vida é o elemento fundamental de definição dos grupos e de seu status.

Um dos fatores de diferenciação mais importante no estilo de vida, como forma de vivenciar o mundo, é a variação do distanciamento com o mundo. Esta distância é medida pelas escolhas em relação às necessidades básicas dos indivíduos ou dos grupos, pois ela depende da urgência da situação do momento considerado, é uma relação com fins práticos. É no confronto deste distanciamento que Bourdieu focaliza o luxo e a necessidade. Considerando as classes populares, classes médias e as privilegiadas, o autor menciona que as classes populares, por sobreviverem com o mínimo poder aquisitivo, reduzem seu consumo àqueles bens de “primeira necessidade”, como a higiene, a limpeza de sua moradia, por exemplo. Já as classes médias, mais distanciados destas necessidades básicas e liberadas desta urgência, procuram por valores mais simbólicos como vestuário e o conforto em seu lar. As propriedades possuídas pelas classes privilegiadas são consideradas como situações naturais em seus cotidianos e por isso não precisam mais serem reivindicadas, elas perdem seu valor distintivo mas guardam seu valor de uso, ou seja, o que é raro e inacessível para um grupo inferior, é corriqueiro para o grupo superior. O que é luxo pra uns é necessidade pra outros.

A distinção das classes sociais se expressa mais claramente quando há o conhecimento da cultura legítima, do que quando há o reconhecimento, uma simples aceitação. Ao realizar entrevistas, em sua pesquisa, fica claro para Bourdie o reconhecimento da cultura, quando em suas respostas os entrevistados tentam esconder a sua ignorância, se esforçando para dar as suas opiniões. Essa é uma das características da distância respeitosa que existe nas classes dos dominados, que não tem estruturação para entender e apreender os produtos culturais, enquanto que a familiaridade é uma característica das classes dominantes, pois, estes sentem-se muito à vontade diante de produtos culturais legítimos. Nessa parte do texto, ele está se referindo a arte. Segundo o autor, as classes mais favorecidas, ou seja, que tem grande capital cultural adquirido, tem maior familiaridade com as obras de arte, em contraponto com os que não têm esse capital cultural, as classes menos favorecidas, que não tem quase contato com as obras de arte, mas que tem respeito por essas artes, até reconhecem mas não conhecem. Existe uma diferença de Habitus entre essas classes.

 Para a maioria dos entrevistados, a cultura erudita (proveniente de estudos, produzida através de pesquisas, análises teóricas) é um universo estranho, distante, inacessível e que somente entre pessoas que tem o ensino superior completo, que o sentimento de conhecer as obras legítimas torna-se um atributo estatutário e não um privilégio. E se a pessoa não tiver essa cultura erudita, ela vai se esforçar para parecer que tem, para não se sentir diminuída na frente dos outros.

Bourdieu diz que tomamos por gosto, ou inclinação natural um determinado estilo de vida, mas que não tem nada de natural nisso, existe um processo de socialização que nos determina os gostos e que essa inclinação a determinados gostos e que parece natural, na verdade são elementos que a escola, a família e outros círculos sociais nos oferecem. As diferenças vão se dar a partir do grau de conhecimento e cultura, Bourdieu acredita que a família e a tradição aumentam o grau de conhecimento no indivíduo. Por exemplo, se você quando criança ia a museus, assistia filmes, você tem o grau de legitimidade de cultura, já aquela criança que só foi para escola não tem tal, essa legitimidade é algo que vem com a tradição e a família. Cultura autentica: é aquela que se insere no contexto cultural, na família, que veio através da tradição. Cultura adquirida: superficial, é aquela em que o indivíduo se esforça para ter e mesmo com o esforço, não é o suficiente.

Em termos gerais o estilo de vida reproduz as diferenças sociais, os operários não tem os meios de produção e também não tem capital social, ou seja, são desapossados da possibilidade de formular os seus próprios fins e segundo o autor isto não deixa de ser uma forma de racismo de classe, já que o objetivo é perpetuar as diferenças sociais, que se reafirmam nos estilos de vida.

Esse desapossamento da capacidade de formular seus próprios fins (e a imposição correlativa de necessidades artificiais) é, sem dúvida, a forma mais sutil da alienação. É assim que o estilo de vida popular se define tanto pela ausência   de todos os consumos de luxo, uísques ou quadros, champanhe ou concertos, cruzeiros ou exposições de arte, caviar ou antiguidades, quanto pelo fato que esses consumos nele estão, entretanto, presentes sob a forma de substitutos tais como vinhos gasosos no lugar do champanhe ou uma imitação no lugar do couro, indícios de um desapossamento de segundo grau que se deixa impor a definição dos bens dignos de serem possuídos. (BOURDIEU, 1983, p. 100)

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