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O Mito Do Progresso

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Por:   •  29/4/2013  •  1.807 Palavras (8 Páginas)  •  825 Visualizações

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3 Gilberto Dupas e O Mito do Progresso

Entre as principais influências intelectuais presentes na obra O mito do progresso, podem-se destacar: Adorno, Bobbio, Frank, Freud, Gorz, Habermas, Hirschman, Lévi-Strauss, Löwi, Marcuse, Marx, Engels, Nietzsche, Rousseau, Weber, entre outros.

O período histórico vivenciado por Gilber-to Dupas antes da publicação da obra O mito do progressoé marcado pelo fim do período áureo do capitalismo de Estado (especialmen-te marcado pela segunda crise do petróleo de 1979); a abertura política no Brasil, com o processo de redemocratização e com o fim da ditadura militar em 1985; a famosa “década perdida” dos anos 1980; um processo de reto-mada das ideias liberais nos anos 1990 (marca-da pelo Consenso de Washington em 1989); a (re)ascensão dos movimentos sociais e o apro-fundamento das preocupações com a questão ambiental, marcada por eventos como Eco-92, Rio-92 e Rio+10.

Já na introdução da obra, Dupas (2006) chama atenção para o aspecto contraditório do progresso na sociedade contemporânea. No alvorecer do século XXI, o paradoxo está em toda parte. O saber científico conjuga-se à técnica e, combinados – a serviço de um sistema capi-talista hegemônico –, não cessam de surpreender e revolucionar o estilo de vida humana. Mas esse modelo vencedor exibe fissuras e fraturas; per-cebe-se, cada vez com mais clareza e perplexidade, que suas construções são revogáveis e que seus efeitos podem ser muito perversos. A capacidade de produzir mais e melhor não cessa de crescer e assume plenamente a assunção de progresso, mas esse progresso, ato de fé secular, traz também consigo exclusão, concentração de renda e sub-desenvolvimento (Dupas, 2006, p. 11).

O autor lança perguntas desafiadoras: “so-mos, por conta desse tipo de desenvolvimento, mais sensatos e mais felizes? Ou podemos atri-buir parte de nossa infelicidade precisamente à maneira como utilizamos os conhecimentos que possuímos?” (Dupas, 2006, p. 14). Retoma uma ideia importante de John Stuart Mill, que Do mito do desenvolvimento econômico ao mito do progresso: uma homenagem a Celso Furtado e Gilberto Dupas afirmava que “a distribuição do Produto Inter-no Bruto de um país poderia – e deveria – ser orientada em razão do bem-estar geral” (Du-pas, 2006, p. 15). Faz uma análise semântica da palavra progresso, destacando, com base na obra Alice no País das Maravilhas, que “o senti-do das palavras” está associado ao “poder de quem as pronuncia” (Dupas, 2006, p. 27). Des-taca os objetivos do seu livro:

Trata-se aqui de analisar a quem dominante-mente esse progresso serve e quais os riscos e custos de natureza social, ambiental e de sobre-vivência da espécie que ele está provocando; e que catástrofes futuras ele pode ocasionar. Mas, em especial, é preciso determinar quem escolhe sua direção e com que objetivos (Dupas, 2006, p. 26).

Sobre a evolução do conceito de progres-so, Dupas aponta que, “em termos gerais, pro-gressosupõe que a civilização se mova para uma direção entendida como benévola ou que conduza a um maior número de existên-cias felizes” (Dupas, 2006, p. 30). Mas a ideia de progresso dominante no ocidente a partir da metade do século XVIII até o final do sé-culo XIX é de que é através da ação humana que o progresso pode ser alcançado, não mais pela influência de Deus. “A partir daí, os ter-mos evolução, desenvolvimento e progres-so passaram a ter o mesmo sentido, sempre muito associados è evolução tecnológica. [...]

Mas progresso também foi, nessa fase, muitas vezes, associado a crescimento econômico” (Dupas, 2006, p. 43-44). E, assim, a “utopia do progresso” foi sendo construída. Entretanto, “aprendemos nas décadas finais do século XX que progresso técnico não conduz automati-camente ao desenvolvimento humano, que a riqueza gerada não é repartida de modo que minimize a exclusão, as diferenças de renda e de capacidades” (Dupas, 2006, p. 74).

O modo de produção capitalista exige permanen-temente a renovação das técnicas para operar o seu conceito motor schumpeteriano de destruição cria-tiva: ou seja, produtos novos a serem promovidos como objeto de desejo, sucateando cada vez mais rapidamente o produto anterior e mantendo a lógi-ca de acumulação em curso (Dupas, 2006, p. 84).

Esclarece que nas últimas décadas do século XX houve a retomada das ideias liberais, ou seja: [...] uma nova doutrina – batizada de neolibera-lismo – tentou ressuscitar o conceito de progresso associando-o à liberdade dos mercados globais e a um ciclo benévolo da lógica do capital. A queda do muro de Berlim e o desmoronamento final da utopia do império soviético permitiram ao capi-talismo, agora plenamente globalizado, um novo discurso hegemônico batizado por alguns intelec-tuais deslumbrados e imaturos como “o fim da História”. Para eles, os benefícios da globalização dos mercados eliminaria a miséria, as guerras e o papel dos Estados nacionais mundo afora, re-alizando em curto prazo a grande utopia do pro-gresso [...].

Os resultados concretos estão sendo muito diferentes; e mais uma fantasia do mito do progresso, construído como discurso hegemô-nico, se foi, não restando muito a comemorar (Dupas, 2006, p. 90).

Referindo-se ao “conhecimento e progres-so como verdade”, destaca que “quanto mais cresce a capacidade de eliminar toda a misé-ria, mais aumenta a própria miséria enquanto antítese da potência e da impotência” (Dupas, 2006, p. 101). Lança uma questão de fundo provocador:

[...] até que ponto o homem pode afastar-se de sua primeira natureza por ação da cultura – sua segunda natureza – sem entrar em oposição au-todestruidora com a primeira. A tecnologia, com-ponente da segunda natureza, transforma nosso potencial agressivo em uma força destruidora do planeta e de seu meio ambiente – a primeira na-tureza (Dupas, 2006, p. 104).

No terceiro capítulo, em que analisa a “eco-nomia política como ciência do progresso”, Dupas aponta que “o mito do capitalismo ra-cional previa que o progresso ocorreria conso-lidando-se um ciclo virtuoso de crescimento econômico baseado no fordismo e no tayloris-mo como processo de produção [...] apoiado pela intervenção seletiva do Estado” (Dupas, 2006, p. 138). Entretanto, no “estado de bem-estar social”, somado à ideia shumpeteriana de “destruição criativa”, Em vez da maior prosperidade geral, para que a engrenagem da acumulação funcionasse, assiste-se a um sucateamento contínuo de produtos em escala global, gerando imenso desperdício de matérias-primas e recursos naturais ao custo i-menso de degradação contínua do meio ambiente e de escassez de energia. É a opção privilegiada e inexorável pela acumulação de

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