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O PIERRE BOURDIEU E A SOCIOLOGIA DA PRÁTICA

Por:   •  6/6/2019  •  Trabalho acadêmico  •  4.067 Palavras (17 Páginas)  •  248 Visualizações

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PIERRE BOURDIEU E A SOCIOLOGIA DA PRÁTICA

“Honrar um pensador não é elogiá-lo, nem mesmo interpretá-lo, mas discutir sua obra, mantendo-o, dessa forma, vivo, e demonstrando, em ato, que ele desafia o tempo e mantém sua relevância”.

 Cornelius Castoriadis 

RESUMO

Este breve estudo, de cunho bibliográfico, tem como objetivo refletir sobre a construção teórica do sociólogo Pierre Bourdieu.  A partir da leitura do próprio autor e de alguns de seus comentaristas, buscamos explicitar o que é o conhecimento praxiológico, assim como conceitos básicos como habitus e campo. O presente trabalho está dividido em quatro partes. Na introdução optamos pela contextualização da trajetória pessoal e cientifica de Pierre Bourdieu; já na segunda parte trazemos o dilema do antagonismo entre objetivismo e subjetivismo, assim como a ideia de mediação entre agente e estrutura, configurada no conhecimento praxiológico, formulado por Bourdieu. Na terceira parte, buscamos entender as noções de habitus e campo, noções propostas por Bourdieu durante sua extensa obra. Por último, apresentamos algumas considerações sobre a importância da obra de Bourdieu para o desvelamento das práticas e mecanismos de reprodução social. 

        

1 INTRODUÇÃO

        Pierre Bourdeu (1930-2002), nasceu em uma família campesina na cidade francesa de Denguin. província de Béan, formou-se em filosofia na prestigiosa École Normale Supérieure em 1954; mas enveredou-se pelos caminhos da sociologia, e tornou-se um dos intelectuais mais influentes desde o final dos anos de 1960.

        Um período marcante na trajetória intelectual de Bourdieu, foi sua passagem pela Argélia. Convocado em 1955, pelo exército francês, para servir em um regimento da aeronáutica, adentrou a sociedade argelina local em que desenvolveu pesquisas etnológicas, realizou registros e fotografias da cultura e práticas locais e publicou seu primeiro livro, Sociologia da Argélia (1957).

        Seus conceitos estão presentes em diferentes campos de pesquisas das ciências sociais e sua vasta obra não encontra barreiras disciplinares e contempla temas como literatura, educação, cultura, arte, religião, entre outros.

        Para Bourdieu a sociologia é uma ciência e traz verdades que incomodam ao revelar coisas ocultas e reprimidas na sociedade, corroborando com a afirmação de Bachelard (apud BOURDIEU, 1983, p 28) que “só há ciência do que está escondido”. Aponta, que a sociologia é constantemente acusada de partidária por “ferir os interesses dos dominantes que são cumplices do silêncio” (BOURDIEU, 1983, p 28), já que é notável que os agentes que ocupam uma posição privilegiada na estrutura criam estratégias para manter a ordem estabelecida. Entretanto, enfatiza que a função da sociologia é justamente a de desnaturalizar os mecanismos de dominação na sociedade.

        Debruçou-se sobre o trabalho empírico, para criar um imenso arcabouço teórico, rompendo com o antagonismo entre teoria e prática e assim propondo abordagens metodológicas capazes de dissolver estas distinções. 

        Na tentativa de compreender o percurso teórico de Bourdieu, optamos por desvelar pontos centrais da obra, iniciando com as formas de ver o mundo apontadas por Bourdieu, rompendo assim com uma dualidade clássica entre o objetivismo e subjetivismo e penetrando no que chama de conhecimento praxiológico. 

        Importante ressaltar que nos primeiros trabalhos de Bourdieu, as influências do estruturalismo de Lévi-Strauss ainda estavam muito presentes, porém aos poucos foi trilhando sua própria trajetória intelectual.

        Caracterizou seu próprio trabalho como estruturalista construtivista, por entender que o estruturalismo confere uma garantia do que é próprio do mundo social e não do mundo simbólico ,ou seja, afirma a existência das estruturas objetivas e construtivista, por distinguir “que há, de um lado, uma gênese social dos esquemas de percepção, pensamento e ação [...] e de outro, das estruturas sociais” (BOURDIEU, 1990, p.149).

        Em seguida, discutimos os conceitos de habitus e campo, por serem noções básicas para compreender suas obras. O habitus é constituído por um sistema de disposições duráveis e transferíveis, fruto da inculcação de estruturas objetivas e que em geral reproduzem práticas que se ajustam às mesmas, podendo ainda ser entendido como fruto da socialização, relacionando-o diretamente a noção de campo. Por campo, entendemos um espaço simbólico, relativamente autônomo e que apresenta regras próprias, também podendo ser entendido como um espaço de socialização.

        Em suma, podemos dizer que: habitus e campo são noções que se relacionam dialeticamente, sendo uteis para a leitura da realidade social e compreensão das práticas. Não obstante, se faz necessário ressaltar que Bourdieu traz também outras noções fundamentais em sua obra, como a de capital e violência simbólica.

        Reiteramos que para Bourdieu, teoria e prática andam lado a lado e era na pesquisa empírica em que os conceitos estavam em funcionamento. A perspectiva metodológica adotada, consistia em estudar o campo, tentando entender os objetos sociais e as relações no interior do campo, assim como encontrar os habitus que regem as práticas.

        Os primeiros trabalhos de Bourdieu apontam um jovem que mergulhou na etnografia, porém, vai articulando em sua trajetória de pesquisa,  tanto técnicas qualitativas como quantitativas. Não vê a coleta de dados como tarefa técnica e recusa uma hierarquia convencional, propondo liberdade com vigilância, na escolha de técnicas que possam ser adequadas a cada problema colocado. Em suas pesquisas, percebemos ênfase nas demonstrações estatísticas por entender que a realidade é probabilista e não absoluta, permitindo estabelecer uma regularidade e situar os casos observados no universo dos casos existentes. Ainda assim, a etnografia aparece em suas obras, entretanto aponta como limitado o seu alcance, visto que só pode se apoiar num pequeno número de casos.

        Entendemos que adentrar ao universo conceitual de Bourdieu é um processo complexo, no entanto a partir de algumas obras selecionadas e de seus comentaristas é possível iniciar um exercício reflexivo em busca de compreensão de seu pensamento e do que está em jogo no campo da sociologia.

2  POR UMA TEORIA DO MUNDO SOCIAL

        Pierre Bourdieu contribuiu consideravelmente para o conhecimento do mundo social e origem das práticas, ao trazer em sua obra um dilema clássico da sociologia, o antagonismo entre objetivismo e o subjetivismo, assim como uma proposta de mediação entre agente e   sociedade.

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