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O Relógio de Lévi Strauss

Por:   •  27/11/2017  •  Artigo  •  995 Palavras (4 Páginas)  •  353 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

Centro de Educação e Ciências Humanas

Departamento de Ciências Sociais

Antropologia Contemporânea

Prof. Vander Velden

O relógio de Lévi-Strauss

Otávio Macacari

RA: 726957

São Carlos, Brasil

A antropologia carrega consigo diversos questionamentos que se mantém desde seu surgimento até os dias atuais. Onde acaba a natureza e onde começa a cultura? Quais as relações estabelecidas entre individuo e sociedade? A estrutura interfere na prática ou o inverso? Essas perguntas nos permeiam há muito tempo e talvez sejam esses pontos de interrogação que giram o moinho da nossa ciência. O antropólogo nunca deixa de lado tais inquietações, graças a isso esses temas são sempre contemporâneos.

 O primeiro dilema pressuposto é um dos debates mais quentes dentro da nossa área, indo além dela e estabelecendo relações com outros campos de pesquisa. Jean Jacques Rousseau, em seu discurso “Sobre a Origem das Desigualdades entre os Homens”, se preocupou em estabelecer um elo entre esses dois momentos, explicitando a passagem do ser humano no estado de natureza para o estado que conhecemos atualmente.  Segundo ele, nos nossos primórdios éramos dotados de bondade, mas quando o primeiro homem cercou um terreno afirmando que era seu criou-se a sociedade civil que deu origem ao desequilíbrio entre os homens (ROUSSEAU, 1857). Já para Hobbes, no estado natural não existia o respeito e a ordem, vivíamos em constante guerra e para cessar esses problemas era necessária a criação do Estado através de um contrato social.

No primeiro capítulo de “As estruturas elementares do parentesco”, Lévi Strauss utiliza o estado natural como instrumento de método para explicar como se dá a passagem para a cultura. A primeira proposta apresentada pelo brasileiro é de analisar as crianças que não tiveram contato com a humanidade, porém um meio para tal observação seria tão artificial como aquela que ela presenciaria em outra hipótese, para o autor os “meninos lobos” não eram testemunhas de um modelo anterior. Então, propõe-se que devemos estudar a outra extremidade para chegarmos a conclusões sobre o ser natural, tal extremo em Strauss são os macacos antropoides. A ausência da estrutura (gramática) entre eles nos permite distinguir processos intrínsecos de processos culturais, pois onde não há a norma não há erudição.

Sendo a ausência de regras o que nos permite diferenciar dos animais, devemos buscar uma que está presente em todas as sociedades. É nesse momento que surge o tabu do incesto, tal proibição é a única norma presente em todas as sociedades, ela gera a exogamia e proíbe a endogamia. Se não podemos estabelecer relações sexuais com os mais próximos necessitamos de trocas, são esses contatos externos que geram as normas. Torna-se necessário regular a partilha de comidas, de pessoas e de objetos, esses muros vão se erguendo através da cultura que é o grande marco dos indivíduos humanos, nos diferenciando assim de outros seres vivos.

Tal indivíduo está sempre em embate com a forma que é inconsciente e superior para o autor de Estruturas Elementares do Parentesco. Talvez seja esse o momento que mais notamos a interferência de Marcel Mauss na obra do brasileiro, esses dois autores estabeleceram relações diretas. O francês afirmava que nossas atitudes não eram exclusivamente fisiológicas e psicológicas, mas fenômenos sociais, carregados de uma não espontaneidade (MAUSS, 2001, p.235). Essas interferências externas são responsáveis por criar o fato social total, Lévi- Strauss afirma no prefácio da obra “Ensaios de Sociologia” que:

“o fato social total apresenta-se, portanto, com um caráter tridimensional. Ele deve fazer coincidir a dimensão propriamente sociológica, com seus múlti- plos aspectos sincrônicos; a dimensão histórica ou diacrônica; e, enfim, a dimensão fisiopsicológica. Ora, é somente em indivíduos que essa tríplice aproximação pode ocorrer […] a noção de fato total está em relação direta com a dupla preocupação, que nos parecera nossa única agora, de ligar, o social e o individual, de um lado, o físico (ou fisiológico) e o psíquico, de outro.” (STRAUSS, apud MAUSS 2001, p. 24)

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