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O Ritualismo Védico através da Cerimônia de Puja - Etnografia

Por:   •  6/9/2019  •  Pesquisas Acadêmicas  •  1.667 Palavras (7 Páginas)  •  85 Visualizações

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DIÁRIO DE BORDO DE ETNOGRAFIA

O Ritualismo Védico através da Cerimônia de Puja da comunidade Bhakti Marga em Goiânia

(celebração ao 40º ano do aparecimento de Paramahansa Sri Swami Vishwananda)

No dia 13 de junho de 2018 toda a comunidade da Bhakti Marga ao redor do mundo esteve reunida para dar graça a Sri Swami Vishwananda em celebração de seu aparecimento no planeta terra. Sri Swami Vishwananda, oriundo das Ilhas Maurício, mas de descendência hindu,  é um líder religioso fundador da instituição Bhakti Marga, que traduzida para o português significa: caminho da devoção. A instituição Bhakti Marga é ramificação derivada da tradição hinduísta da Sri Sampradaya, uma dentre as várias tradições de Vaishnavismo, que enfatiza o culto ao deus Vishnu, o Deus da preservação e manutenção de todos os universos materiais e espirituais.    

Sri Swami Vishwananda é considerado por Sua comunidade religiosa como sendo um avatara, ou seja, um ser divino que desceu voluntariamente à terra para ajudar a humanidade em seu processo de evolução espiritual: abrir o coração dos homens para o amor incondicional.

A instituição Bhakti Marga Goiânia fica localizado no Setor Pedro Ludovico onde seu grupo participante, a exemplo de todos os discípulos de Swami por todo o mundo, reuniram-se para reverenciar a divindade de Swami em uma cerimônia de adoração chamada Puja.

O Puja é uma cerimônia sagrada da tradição védica que tem por objetivo estabelecer uma conexão entre nós e o Divino, em que se cultua uma deidade ou divindade específica cujo objetivo é despertar o Deus interior, através de uma representação externa da Divindade.  De acordo com os devotos a Deidade pode ser representada na forma de murti (estátuas) ou mesmo quadros e se torna o próprio Deus manifestado em objetos aparentemente materiais, após a execução de mantras de invocação.

Participei da cerimônia de Puja onde pude observar aspectos importantes da prática, os quais descreverei a seguir:

A cerimônia de puja obedece a um conjunto de práticas ritualísticas a serem observadas pelos discípulos de uma linhagem, neste caso a de Swami Vishwananda, e pelo pujari (a pessoa que executa o puja) durante sua preparação e execução.

A preparação do Puja começa desde a limpeza do templo; o templo em goiânia é constituído de um salão, uma pequena área social e um banheiro. O salão é onde fica localizado o altar e de acordo com o pujari, os utensílios de limpeza são diferenciado: onde aquilo que se usa para limpar o local onde a deidade/divindade está instalada, bem como seus respectivos objetos e pertences, tais como copos, pratos, talheres específicos para seu uso ritualístico, não podem ser os mesmos a serem utilizados para limpeza de outras áreas e acessórios de uso geral  do templo. Isto porque tudo aquilo que é “consagrado” ou destinado à divindade/deidade tem que estar livre de impurezas mundanas.

 Após a limpeza do templo começou a preparação do puja propriamente dito, onde o altar foi decorado com arranjos de flores.

Logo em seguida os devotos começaram a chegar trazendo alimentos e preparações para serem oferecidas para a Deidade. Segundo informado por uma devota, tudo o que eles comem, mesmo em suas casas, são antes oferecidos para a divindade cantando-se um mantra, e logo após serem oferecidos eles se tornam o que eles chamam de prasada (fala-se prassada).

Na concepção dos bhaktas, a prassada significa a misericórdia de Deus e é um aspecto fundamental para o praticante de bhakti, pois pressupõe a espiritualização de um alimento antes mundano, bem como uma forma de oferecer gratidão Àquele que é o possuidor de todas as coisas (Deus). Ela também me esclareceu que somente alimentos em sattva-guna (Sattva: bondade; guna: “modo”, modo da bondade) podem ser oferecidos, estes alimentos compreendem frutas, legumes, grãos, ou seja, boa parte dos alimentos de origem vegetal; preferencialmente deve-se evitar alimentos em raja-guna (modo da paixão), tais como alimentos picantes, excessivamente doces ou salgados; e não deve ser oferecidos alimentos em tama-guna (modo da ignorância), ou seja, alimentos geralmente processados e industrializados pois geralmente promovem doenças associadas a má alimentação ou alterações de estados psíquicos (como álcool, determinados chás, e em alguns casos, até mesmo café, etc.), assim como também não são oferecidos alimentos proveniente de exploração animal como carnes, por exemplo. Esta forma de classificação alimentar também é descrita pela medicina Ayurveda.

Nesse sentido, eles adotam uma dieta entre o Lacto-vegetarianismo (consome apenas leite e derivados, preferencialmente em processo de produção caseiro)  e o veganismo.

Foi recomendado o uso de roupas claras e limpas, especialmente para os devotos e discípulos de Swami Vishwananda em que para as mulheres praticantes recomenda-se o uso de sari e lenços para cobrir a cabeça e para os homens recomenda-se o uso de kurta ou dhoti, que são roupas tradicionais indianas. E elas são indispensáveis principalmente para aqueles que vão executar o ritual. Além da roupa também foi passado tilak, uma marca feita de argila e pó de kumkum, (pó vermelho de origem indiana) em nossas testas, esta marca, segundo devotos tem como função a proteção e purificação espiritual do corpo que também é considerado um templo.

Logo após estas preparações iniciais, as pessoas foram se organizando para dar início a prática ritualística propriamente dita, as mulheres sentaram-se do lado esquerdo e os homens sentaram-se do lado direito. Uma outra devota esclareceu que as energias feminina e masculina são diferentes e portanto para que haja equilíbrio precisam ficar em lados opostos.

Enquanto o Pujari organizava os utensílios para fazer o puja, um outro devoto iniciou a celebração cantando mantras na forma de bhajans (orações melodiosas acompanhadas de instrumentos indianos de percussão e violão). Depois da cerimônia ao conversar com este devoto, ele me falou da importância do bhajan para elevar o padrão vibratório dos participantes para harmonizar a prática.

Assim que concluiu-se o canto dos bhajans o pujari tocou um búzio por três vezes e cantou-se mantras para as reverências iniciais ao guru principal e ao guru dele, cada um representado no altar. Eles entendem que ao soar o búzio estão convocando as divindades a manifestarem-se na forma material através da murti (estátua), quadros ou padukas (que representam os pés da divindade ou calçados que ele tenha utilizado; essa adoração aos pés da divindade é feita para denotar humildade e respeito), em seguida acendeu a lamparina (em sinal de iluminar nossas mentes e intelectos) e cantou o mantra Om (O mantra original da criação) três vezes. A partir daqui começou de fato o ritual de puja, ele foi executado pelo pujari enquanto todos assistíamos. Não obstante, eles afirmaram que o puja atinge a todos, mesmo que não saibam cantar os mantras, pois são de ordem divina e portanto contém poder em si mesmos, beneficiando a todos os participantes.

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