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Os Partos no Município de Benjamin Constant – Amazonas: Da Prática Tradicional ao Modelo Médico Hegemônico

Por:   •  24/11/2020  •  Artigo  •  4.468 Palavras (18 Páginas)  •  136 Visualizações

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Os Partos no Município de Benjamin Constant – Amazonas: Da Prática Tradicional ao

 Modelo  Médico Hegemônico

Ana Maria de Mello Campos Sebastião Melo Campos

Introdução

Repensar as práticas tradicionais de assistência aos partos tornou-se fundamental para as discussões relaciona- das à humanização dos partos e a violência obstétrica, embo- ra alguns autores definam a prática das parteiras tradicionais exclusivamente de mulheres, não utilizaremos da mesma de- finição, pelo fato de termos conhecido parteiros no seio fa- miliar e nas redondezas de onde moramos. Tal conhecimento nos permite dizer que não é o fato de ser uma mulher assis- tenciando o parto que o torna mais ameno, isso depende das práticas que o auxiliar oferece às mulheres durante o acom- panhamento gestacional até o pós-parto.

Desde pequena sempre ouvimos, às escondidas, nos- sa avó falar sobre como eram os partos no “alto1”. Uma vez ou outra ela saia de casa na madrugada, à noite, à tarde, não havia hora certa. Quando perguntávamos aonde ela iria, dizia: “vou pegar uma criança2”. Ficávamos se perguntando, como era pe- gar uma criança.

Nossa avó nasceu em 1928, aos treze anos casou-se  e foi morar longe de sua mãe, numa distância de oito dias de canoa de um lugar ao outro. Passados alguns meses, engravi- dou, viu-se aflita, morando sozinha com o marido, sem vizi- nhos por perto, sendo que demorava um dia para se chegar ao

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1Chamavam assim as Terras Indígenas, nas quais moravam na época da extração de ma- deira.

2 Era um tabu falar para as crianças como nascíamos sempre inventavam histórias.

vizinho mais próximo. Quando o patrão/regatão da borracha viajava, levava cartas aos familiares e minha avó escrevia3 pe- dindo ajuda a sua mãe. Nossa bisavó Amélia esperava o patrão/ regatão fazer o retorno da viagem e enviava a minha avó cartas com instruções de como fazer durante a gravidez e na hora do parto. Junto com as cartas enviava orações e mudas de plantas para usar antes, durante e depois do parto.

Imagem 1: Maria Pereira de Melo[pic 13]

Fonte: Ana Maria de Mello Campos. Pesquisa de Campo - 2016

Nossa avó recebeu a visita de sua mãe poucas vezes durante a gravidez, o parente mais próximo era sua irmã mais velha que já era mãe e foi ajudá-la no nono mês de gestação. De- pois do seu parto, ela começou a ajudar algumas vizinhas que o pediam no mês de parir, assim, viajava dias antes do parto para esperar o chegado momento. Havia todo um conhecimento tradicional sobre a cosmologia, plantas medicinais, técnicas de massagem para colocar o feto na posição certa, exemplos disso são as crenças de que as fases da lua influenciam no parto; nas reparações4 as parteiras deduziam o sexo do bebê, dificilmente erravam. O parto estava intimamente ligado ao familiar, não era dominado apenas por mulheres, pois meu tio-avô também era parteiro5.[pic 14]

  1. Minha avó contava com orgulho que aprendeu a ler e escrever em folhas de bananeiras, sua mãe era professora.
  2. Massagens em mulheres grávidas
  3. Meu tio-avô parteiro e rezador. Quando vivo, contava que havia aprendido a partejar

A demarcação das Terras Indígenas do Vale do Javari e a queda da venda de borracha foram determinantes para o deslocamento de centenas de pessoas que viviam nas Terras Indígenas para o centro urbano em busca de trabalhos para sobreviverem. Minha avó, meus tios e primos que residiam nas “colocações” mudaram-se para Benjamin Constant-AM , devido ao costume de viverem próximo ao rio, instalaram-se às margens do rio Javarizinho, mantendo assim os costumes ribeirinhos.

As  famílias  que  desceram  do  “alto”  também  cons- truíam suas casas próximas ao rio, a fim de facilitar suas ati- vidades diárias, fizeram roçados e plantações e começaram a conviver mais próximos uns dos outros, o que facilitou a ajuda às mulheres na hora do parto.

Com a implantação do Hospital no município de Ben- jamin Constant- AM, na década de 506 (CAMPOS, 2012), hou- ve a imposição da tecnologia associada ao modernismo contra a tradição que era ligada ao subdesenvolvimento, ao atraso. A partir da década de 80, os partos que eram realizados em casa por parteiras tradicionais, passaram gradativamente a ser uma prática hospitalar e medicalizada que, atualmente, vem bus- cando nas práticas tradicionais, maneiras de tornar os partos mais humanizados, resgatando o protagonismo das mulheres na gravidez, parto e pós-parto.

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