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Síntese Surdo Surdez

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Por:   •  20/8/2014  •  1.307 Palavras (6 Páginas)  •  1.046 Visualizações

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O surdo

Surdo, surdo- mudo ou deficiente auditivo?

A maioria dos ouvintes desconhece a carga semântica que os termos mudo, surdo-mudo e deficiente auditivo evocam. É facilmente observável que, para muitos ouvintes alheios à discussão sobre a surdez, o uso da palavra surdo pareça imprimir mais preconceito, enquanto o termo deficiente auditivo parece-lhes ser mais politicamente correto:

Eu achava que "deficiente auditivo" era menos ofensivo ou pejorativo do que "surdo"... mas, na convivência com os próprios surdos, fui aprendendo que eles preferem mesmo é que os chamem de surdos e uns ficam até irritados quando são chamados de deficientes... (aluno ouvinte, 2004).

LIBRAS

Sobre essa questão terminológica, muitos surdos têm a oportunidade de se posicionarem nos cursos de LIBRAS que ministram para ouvintes:

Essa história de dizer que surdo não fala, que é mudo, está errada. Eu sou contra o termo surdo-mudo e deficiente auditivo porque tem preconceito... Vocês sabem quem inventou o termo deficiente auditivo? Os médicos! Eu não estou aqui só para vocês aprenderem a LIBRAS, eu estou aqui também para explicar como é a vida do surdo, da cultura, da nossa identidade... (professora surda, 2002).

O termo surdo-mudo não é correto porque o surdo tem aparelho fonador, e se for treinado ele pode falar. Eu sou surdo, fui oralizado e não ouço nada, mas a minha língua é a de sinais... (professor surdo, 2003).

As falas acima caminham no trilho que rejeita a ideologia dominante vinculada aos estereótipos que constituem o poder e o saber clinic (Lane, 1992), e mostram outro lado da discussão: o reconhecimento da dimensão política, linguística, social e cultural da surdez, e que a nomeação surdo, apropriadamente conota:

A deficiência é uma marca que historicamente não tem pertencido aos surdos. Essa marca sugere autor representações, políticas e objetivos não familiares ao grupo. Quando os surdos discutem a surdez, usam termos profundamente relacionados com sua língua, seu passado, e sua comunidade (Padden & Humphries, 1998:44).

Pensar tais termos é de suma importância, uma vez que eles têm implicações cruciais para a vida dos surdos (Gesser, 2006, 2008). É disso que fala Laborrit (1994), quando diz:

Recuso-me a ser considerada excepcional deficiente. Não sou. Sou surda. Para mim, a língua de sinais corresponde à minha voz, meus olhos são meus ouvidos. Sinceramente nada me falta, é a sociedade que me torna excepcional.

Infelizmente, o povo surdo tem sido encarado em uma perspectiva exclusivamente fisiológica (deficit de atenção), dentro de um discurso de normalização e de medicalização, cujas nomeações, como todas as outras, imprimem valores e convenções na forma como o outro é significado e representado. Cabe ressaltar, por outro lado, que não é apenas a escolha acertada de um termo que elimina os preconceitos sociais. Os preconceitos podem estar disfarçados até mesmo nos discursos que dizem assumir a diferença e a diversidade.

Mas o deslocamento conceitual é preciso e urgente, e vem ocorrendo em primeira instância na reflexão e problematização dos conceitos de que fazemos uso ao nomear o outro. Afinal, como argumenta Skliar (1997:33) "a construção das identidades não depende da maior ou menor limitação biológica, e sim de complexas relações linguísticas, históricas, sociais e culturais"; ou, como bem expressa Laborrit sobre a sua condição, “é a sociedade que me torna excepcional”.

O surdo vive no silêncio absoluto?

Muitos ouvintes têm a crença de que estar em um contexto de surdos é entrar em um contexto silencioso. Isso se dá porque a concepção de língua está do ponto de vista dos ouvintes, culturalmente conjugada ao som.

O surdo precisa ser oralizado para se integrar na sociedade ouvinte?

Não. A oralização deixou marcas profundas na vida da maioria dos surdos. Pode-se dizer que a busca desenfreada pela recuperação da audição e promoção do desenvolvimento da fala vocalizada pelo surdo são objetos que traduzem em vários sentimentos: desejo, dor, privação, aprovação, opressão, discriminação e frustração.

Oralizar é sinônimo de negação da língua dos surdos. É sinônimo de correção, de imposição de treinos exaustivos, repetitivos e mecânicos da fala. A figura do adepto convicto oralismo, Alexandre Graham Bell, por exemplo, ganhou força durante o famoso Congresso de Milão em 1880, durante o qual ele pregava que a surdez era uma aberração para a humanidade, pois perpetuava características genéticas negativas.

Nesse cenário, casamentos entre os surdos e qualquer tipo de contato eram proibidos, e tal proibição foi entendida como uma medida preventiva, capaz de “salvar” a raça humana. Dado seu prestígio de homem brilhante na sociedade da época, entende-se que Graham Bell contribuiu de maneira crucial para negação e a opressão da língua de sinais. Por isso é rechaçado com mais veemência pela comunidade surda em todo o mundo, do mesmo modo como são rechaçado todos os que se inscrevem nessa filosofia Gesser (2009). Gesser é enfática ao dizer que a oralização deixou marcas profundas da vida

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