Análise de Discurso de um editorial da TV Band

Análise de Discurso do editorial da Band: “País é agredido por um absurdo trem da alegria”

Daniel Queiroz da Silva Costa – Jornalismo, 2º Período

Além de analisar conteúdo do discurso propriamente dito, é preciso observar o contexto em que esse discurso ocorre: quem o disse, o que influenciou esse autor, para quem foi dito, o que acontecia na época.

Na noite do primeiro dia de junho de 2016, a Câmara dos Deputados – “com aval de Temer”, como muitos jornais enfatizaram – aprovou um reajuste para servidores dos três poderes que resultaria em despesas superiores a R$ 50 bilhões de reais até 2019. No dia seguinte, o então presidente interino ainda comemorou a aprovação da chamada “pauta-bomba”, como ficaram conhecidos os projetos que aumentavam grandemente os gastos públicos. Neste mesmo dia 2, logo após a reportagem no Jornal da Band que explicava o aumento, o jornalista Ricardo Boechat leu o seguinte editorial:

Num momento em que a crise exige, como nunca, sacrifícios de todos, impondo às empresas e aos trabalhadores uma dura batalha pela sobrevivência, o país é agredido pela notícia de que um absurdo trem da alegria chega distribuindo aumentos de até 41% para 16 categorias de servidores públicos. Os primeiros agraciados estão nos tribunais, que ganham novo teto salarial com seu efeito dominó. O presidente Michel Temer, ciente da grave herança que recebeu e do estrago que estas despesas farão nas contas públicas, não teve coragem suficiente para enfrentar as pressões e as chantagens de sempre. Simplesmente se rendeu. Deu ao Brasil uma prova de fraqueza, quando o que se precisa é de um governante disposto a enfrentar, sem hesitações, o enorme desafio que aí está. Presidente Temer, se o senhor não se convence diante dos números trágicos que deve administrar com responsabilidade, pense, pelo menos, no estado de espírito com que 12 milhões de brasileiros desempregados devem receber esta desastrosa decisão do seu governo. Esta é a opinião do Grupo Bandeirantes de Comunicação.

É evidente que uma decisão como essa provoca indignação em praticamente toda a população, e este editorial da Band foi claramente uma maneira da emissora se posicionar como “aliada” de seu público. Era um editorial seguro de se veicular, já que virtualmente ninguém discorda do que foi dito e, portanto, não havia risco de “irritar” os telespectadores nem afastar os anunciantes com uma opinião impopular.

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