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O Apresentador Nos Estudos De Jornalismo: Reflexões Sobre A Transformação Das Rotinas De Produção E No Modo De Atuar

Por:   •  10/5/2015  •  Artigo  •  5.604 Palavras (23 Páginas)  •  264 Visualizações

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O APRESENTADOR NOS ESTUDOS DE JORNALISMO: REFLEXÕES SOBRE A TRANSFORMAÇÃO DAS ROTINAS DE PRODUÇÃO E NO MODO DE ATUAR

Fabiano Morais [1]

Resumo: O apresentador de telejornal vem sendo tratado com recorrência na bibliografia do telejornalismo. Essas abordagens assumiram, predominantemente, um caráter de prescrição de condutas (o que fazer ou não fazer). O presente trabalho propõe uma reflexão no que se refere as transformações que levaram o apresentador de TV da posição de simples ‘locutor de notícias’, com condutas ‘importadas’ do rádio, (veículo de maior abrangência na década de 50 quando surgiu a TV) ao ‘âncora’, que assume posições sobre o que noticia. Telejornais  pioneiros servem de importante parâmetro para analisar a atuação dos apresentadores. As discussões acerca das distinções entre os papéis de âncora e apresentador a partir das funções desempenhadas pelos apresentadores no telejornal também são abordadas, permitindo entender como esse fator influenciou na mudança nas rotinas de produção e na construção da imagem dos apresentadores.

Palavras-chave: apresentador; telejornalismo; âncora; voz; telejornais;

  1. Um breve histórico sobre os telejornais e o formato de

Apresentação

O telejornalismo teve sua entrada no Brasil em setembro de 1950, coincidindo com o início da indústria da televisão. Inicialmente os programas não tinham horários definidos, diferente do modelo adotado nos Estados Unidos, base de referência para implantação do jornalismo brasileiro e que trazia do cinema a estrutura logística de produção e comercial. Aqui, a televisão, incluindo o telejornalismo, teve como base o rádio, veículo, até então, predominante na preferência popular devido à facilidade de aquisição. Logo, o rádio passou a ‘ceder’ seus profissionais ao veículo que entrara no país. Era a forma, a princípio, mais cômoda para os veículos conduzirem a programação, que, mais tarde, se especializaria, tornando a TV brasileira uma das mais conceituadas no mundo. Na época, os programas de jornalismo precisavam ‘recrutar’ os apresentadores de telejornais. Esses profissionais foram selecionados entre os locutores de noticiários de rádio, que possuíam certa habilidade profissional. Os jornalistas, nesse momento, não foram pensados como profissionais que poderiam exercer tal função, o que só ocorreria anos mais tarde.

Como observa Squirra (1993), o programa jornalístico Imagens do Dia[2], o primeiro telejornal da televisão brasileira, tinha essa característica ao trazer do rádio o apresentador de TV. O Telenotícias Panair, também idealizado e veiculado pela TV Tupi, dois anos mais tarde, seguia o mesmo modelo. Ambos privilegiavam a expressão verbal e não exploravam os recursos visuais do mais novo veículo, pois não existia a quantidade suficiente de reportagens gravadas, em função da ausência de VT’S[3]. Praticamente o jornal era lido e com algumas inserções de fotos. Em seguida o mais famoso programa jornalístico do rádio brasileiro e primeiro telejornal de sucesso, o “Repórter Esso”, se transferia para a TV, inclusive com o mesmo nome da produção radiofônica. Veiculado também pela TV Tupi, inicialmente no Rio de Janeiro, em 1952, e em São Paulo, no ano seguinte, ficou no ar quase 20 anos, tornando-se o primeiro telejornal de sucesso do Brasil.

Nos anos 50 os telejornais funcionavam como uma espécie de rádio com imagem. Só anos depois haveria uma preocupação dos editores em casar imagem e texto. A propósito da importação do locutor de notícias do rádio, profissionais de TV da época já acreditavam que essa era uma função, dentro do telejornal, de muita importância, uma vez que do trabalho do apresentador dependia grande parte da audiência. Logo, era comum buscar profissionais que também tivessem capacidade de redigir o próprio texto, uma espécie de editor-chefe nos telejornais de hoje. Squirra (1993) lembra ainda que o locutor deveria  ser tão ligado à notícia que, em caso de problemas no script, a informação levada ao telespectador não seria prejudicada, pois dominava o texto com maior propriedade já que tivera escrito o mesmo.

        No entanto, o processo de seleção para esses profissionais nem sempre foi presidido por suas competências jornalísticas. A aparência, que incluía também uma ‘bela voz’, era critério de decisão na hora de escolher o que hoje denominamos apresentador de TV. Era evidente, desde aquela época, o valor que se dava a outros atributos como locução de tom grave e bem interpretativa. Era comum a leitura das notícias em blocos ou segmentos, sendo a principal notícia do dia lida em tom vibrante e quase dramático no final dos programas.

        Decorrida essa primeira década, de 1950 a 1960, uma fase inicial e importante da TV brasileira, surgem programas jornalísticos que vão substituindo o locutor de notícias e abrindo espaço, mesmo que bem distante do formato atual, para o apresentador de TV, tal como concebemos hoje. Se, atualmente, é possível identificar com relativa facilidade os telejornais da televisão brasileira com os similares norte-americanos, o mesmo não ocorria com os programas nos primeiros momentos, apesar de, como dito, termos como referência o que se fazia nos Estados Unidos. É que segundo o jornalista Fernando Barbosa Lima (apud, SQUIRRA, 1997, p. 107) “cada estação de TV procurou criar suas próprias formas, encontrar seu próprio estilo, sem copiar os telejornais americanos.” Tanto é que Fernando Barbosa Lima implantou e dirigiu o Jornal de Vanguarda, que trazia uma nova proposta na forma de apresentação de um telejornal. O telejornal estreou na TV Excelsior, no Rio, em setembro de 1962. Rompeu com o formato padronizado. Abandonou o estilo radiofônico passando a ser apresentado por jornalistas e a apresentar inovações visuais. O Jornal de Vanguarda, que tinha como slogan “Show de Notícias”, é considerado um marco de criatividade e ousadia devido às inovações introduzidas no telejornalismo brasileiro no início da década de 1960. O telejornal apresentava uma idéia bem clara do que era em termos de identificação com o público. Segundo Lima (2007, p. 59), a frase dizia o seguinte: “O jornal de quem sabe compreender o mundo de hoje e ver o mundo de amanhã. Um jornal livre para brasileiros livres. Um show de notícias. Nossas câmeras são os seus olhos”. Ia ao ar às dez e meia da noite, ao vivo e com muitos apresentadores, cerca de oito ou nove. No quadro de profissionais havia desenhistas, humoristas, comentaristas políticos, cronista, comentarista internacional, além de locutores como Luiz Jatobá, Cid Moreira, Fernando Garcia e Jorge Sampaio.

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