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O Expresso: a cidadania em formato de jornal-mural

Por:   •  2/2/2017  •  Artigo  •  3.379 Palavras (14 Páginas)  •  417 Visualizações

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O Expresso: a cidadania em formato de jornal-mural

Laene MUCCI DANIEL[1] - Universidade Federal de Viçosa

Hideíde TORRES[2] - Universidade Federal de Juiz de Fora

RESUMO: Este trabalho analisa o jornal alternativo O Expresso, à luz da Comunicação Comunitária. Investiga-se seu processo de produção participativa e sua busca pela construção da cidadania, a partir dos conceitos de notícia-cidadã (VIDAL, 2010) e personalização de notícias (SCHIMITT e OLIVEIRAS, 2009). A equipe do jornal (estudantes de Jornalismo da UFV) afirma que ouvir o público-alvo (que circula e/ou trabalha nos ônibus municipais) é a base para a produção de O Expresso, mesmo considerando as críticas sobre a superficialidade das opiniões públicas (ROTHBERG, 2011). O artigo também reforça a importância do jornalismo como instrumento para a cidadania, democracia e fortalecimento dos laços da comunidade local.

ABSTRACT: This paper analyzes the alternative newspaper O Expresso, based on Community Communication. It investigates the process of participatory production and its quest for the construction of citizenship, considering the concepts of citizen-news (VIDAL, 2010) and personalization of news (SCHMITT and OLIVEIRAS, 2009). The staff of the newspaper (journalism students at UFV) states that hear the audience (people that circulate or work in the city busses) is the basis for the production of O Expresso, even considering the criticism of the superficiality of public opinions (ROTHBERG, 2011). The article also reinforces the importance of journalism as a tool for citizenship, democracy and strengthening of the ties of the local community.

PALAVRAS-CHAVE: O Expresso, jornalismo comunitário, comunicação comunitária, notícia cidadã.

KEYWORDS: O Expresso, community journalism, community media, citizen news.

INTRODUÇÃO:

Em dezembro de 2011, nasce, em Viçosa, interior de Minas Gerais, o jornal O Expresso, como parte do projeto de extensão Comunicação em Movimento, realizado pelos discentes e docentes do Curso de Comunicação da Universidade Federal de Viçosa. O projeto propõe a produção de um veículo impresso de comunicação objetivando maior aproximação possível à realidade dos usuários dos ônibus municipais, sendo neles disponibilizado gratuitamente. Segundo o professor Tancredo Almada Cruz, diretor da ONG Census, em Viçosa, o jornal alcança mais de oito mil pessoas, entre passageiros, motoristas e cobradores, que circulam no transporte coletivo cotidianamente. Para os dez estudantes de Jornalismo da UFV atualmente envolvidos é uma oportunidade para o fazer jornalístico numa perspectiva de cidadania e de localidade, consistindo num autêntico encontro com os leitores, que também são beneficiados com informação, entretenimento e autorreferenciação por meio das seções do jornal.

O Expresso pode ser considerado uma forma alternativa de comunicação, desde a escolha do seu público-alvo (usuários de ônibus urbanos) até o seu formato (em forma de cartaz) e distribuição (jornal mural afixado em ônibus do transporte coletivo urbano). O Expresso se diferencia dos três jornais impressos feitos em Viçosa, nesse sentido, por sua gratuidade, pelo modo de produção e distribuição e pela especificidade do público. Leve-se em conta que entre os usuários de ônibus estão os moradores de bairros periféricos, carentes de informação.

A fim de chamar a atenção, facilitar a leitura em tempo real, durante o percurso e otimizar os custos de impressão, o jornal tem forma de um cartaz, em que imagens são destacadas, atendendo também aqueles que têm dificuldade ou não sabem ler. Desde o início, o Expresso busca constantemente a atratividade visual, uma das características da sociedade da imagem, já incorporada pelo jornalismo, em que a tendência permanente é a de se privilegiar as imagens, associadas a textos curtos, objetivos, dispostos de forma legível. Afixado um exemplar em cada “lotação”, (denominação popular para ônibus urbano em Minas Gerais), o jornal Expresso tem mantido uma tiragem de 80 exemplares, sendo 60 reservados aos ônibus, 10 para o arquivo do jornal e 20 colados em pontos de ônibus distribuídos pela cidade.

A construção do jornal o Expresso, especificamente de agosto a dezembro de 2011, também se fez de outra forma, se comparada aos projetos editoriais do Curso de Jornalismo da Universidade de Viçosa (UFV) e dos jornais da cidade, quando a linha editorial já é preestabelecida pelo programa disciplinar (no caso de jornais laboratórios) ou por empresas de comunicação viçosenses.

Ouvir o público-alvo sempre foi um objetivo basilar na produção do Expresso. O leitor preferencial, durante o período de construção do projeto editorial (entre agosto a dezembro de 2011), teve seu perfil traçado por meio da investigação de três áreas: identificação dos usuários, hábitos de leitura e opinião.

A edição-teste (dezembro/2011) pautou assuntos a partir de temas gerais apontados por entrevistados. Após nove edições, foi lançada, em maio-junho/2013, a “Edição especial foto-ilustrativa”, produzida a partir de pesquisa com usuários de ônibus que indicaram a preferência pelas fotos e ilustrações e a importância de matérias do tipo prestação de serviço. As edições 11 e 12, de novembro-dezembro/2013 e janeiro-fevereiro de 2014, respectivamente, foram produzidas com base em reunião de pauta do dia 31 de outubro de 2013 entre a equipe e leitores do jornal.

Atenta às críticas de autores como Rothberg que afirma que “em geral, os veículos de comunicação consideram como opinião pública aquilo que eles obtêm através de pesquisas que captam rasos posicionamentos pessoais” (2011, p. 164), a equipe produtora do O Expresso planejou a formação de grupos de discussão com as associações de bairros de Viçosa, que podem resultar em “oportunidades para o desenvolvimento de opiniões mais referenciadas e substanciais” (ROTHBERG, 2011, p. 165).

Em parceria com o Instituto Vida de Viçosa[3], foi agendada para outubro/2014 a produção colaborativa da edição OUT/NOV 2014 do Expresso, na comunidade de Amoras, região periférica da cidade que se avizinha às comunidades do Córrego São João, Duas Barras, Piúna, Paiol, Nobres, Barrinha, Vau-Açu, Inácio Martins, São João Batista e Vale do Sol. Desse encontro será esperado o compartilhamento de interesses, valores e tradições, compondo assim “um substrato adequado para a afirmação das próprias expectativas dentro de um senso de comunidade e pertencimento à coletividade” (ROTHBERG, 2011, p. 165). A oficina, no entanto, não aconteceu.

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