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RESUMO DE LINGUAGEM, ESCRITA E PODER

Por:   •  28/8/2017  •  Resenha  •  1.361 Palavras (6 Páginas)  •  1.292 Visualizações

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Linguagem, escrita e poder

A partir do séc. XVII, o conhecimento da escrita e da cultura chinesa foi um fator decisivo para o estabelecimento de um continuum conceitual: a ausência de escrita/escrita não alfabética/escrita alfabética, com todos os possíveis estágios intermediários.

A posição mais alta desse continuum conceitual era ocupada pelas elites cultas da Europa. Estas também ocupavam a posição mais alta em outro continuum: aquele interno às sociedades europeias, que tinha, na base, as massas de analfabetos, para chegar, no topo, às pessoas letradas e “cultas”.

Entre as principais línguas europeias somente o inglês dispõe de uma palavra como literacy, que faz referência de forma abstrata a todos os possíveis aspectos de envolvimento social e individual com a prática de escrever: o oposto de illiteracy, que significa “falta de capacidade de escrever”.

Gelb definiu escrita como “um sistema de intercomunicação humana através de marcas convencionais visíveis”. A escrita veio a ser objeto de pesquisa nas últimas décadas por duas razões: aumento dos programas de alfabetização e de educação no mundo todo (como resultado de pressões de novas condições econômicas e políticas), e a padronização escrita de muitas línguas até então sem tal tradição. A escrita, e a reflexão do seu impacto sobre as sociedades humanas veio a ser objeto de interesse quando ela, praticada em moldes e formas tradicionais, parece ter alcançado seu apogeu e estar prestes a se tornar obsoleta. Este campo de estudo se desenvolveu com uma visão evolucionista (série linear de estágios), e mítica (assume que é a escrita que representa um avanço cultural e cognitivo).

O que nós consideramos “escrita” coexistiu durante milênios com outras formas de comunicação visual, como por exemplo, os símbolos de famílias, monogramas na cerâmica e porcelana, e etc. A alfabetização seria o passo decisivo para que as massas mergulhadas nas culturas orais se tornassem mais disponíveis para processos de industrialização e cooperassem de forma ativa para o processo de expansão do poder do Estado. O valor indiscutivelmente positivo da escrita foi intocável durante décadas. Ficamos internos às nossas referências conceituais e nos assumimos como medida ou ponto de chegada do processo de alfabetização, sem nos relativar.

Sócrates: Pois não imaginam que um manuscrito é muito mais do que aquilo que realmente é: um meio, para aquele que sabe, de retornar as matérias sobre que versa o escrito? [...] Se alguém discordar do que diz, refutando-o injustamente, para se defender, precisa sempre da ajuda do pai que o gerou: por si só é mudo, fraco e indefeso.

Ricoeur: Com a escrita começou a separação, a tirania, e a desigualdade... A fragmentação da comunidade de falantes, a divisão da terra, a analiticidade do pensamento, e o reino do dogmatismo foram todos originados da escrita.

A alfabetização generalizada era considerado um instrumento perigoso, que ia expor milhões de indianos a formas de pensamento ocidental. Mais tarde, porém, Gandhi modificou suas idéias e não teve mais restrições à alfabetização. Muitas vezes descobrimos em culturas que não dispõem de uma tradição escrita, ou em classes subalternas da nossa sociedade, uma polaridade de atitudes: ou a rejeição total, ou a aceitação total e acrítica do que está escrito, acompanhada esta última atitude, por declarações tautológicas, do tipo “tudo que está escrito é importante, porque foi escrito”. A renúncia de si próprio para aderir ao texto seria uma condição necessária para conquistar uma suposta condição mais alta dentro da sociedade de classes. Os que operam como agentes ideológicos e econômicos do ocidente no meio de outras culturas tendem a acreditar que os nativos nutrem admiração pelo nosso mundo.

Lévi-Strauss: Ainda que a escrita não haja sido suficiente para consolidar o conhecimento, ela foi talvez indispensável para fortalecer a dominação... a luta contra o analfabetismo está então em relação com um crescimento da autoridade dos governos sobre os cidadãos. Todos têm que ser capazes de ler, de forma que o governo possa dizer: a ignorância da lei não é desculpa.

Rahnema: No quadro daquelas campanhas encontramos referências constantes à vergonha que constitui o analfabetismo. Por toda parte se tinha a impressão de que se tratava de uma nova missão civilizadora, desta vez empreendida por bons “colonos” de tipo novo: uma operação de caridade que deia quase que impor a dignidade às categorias inferiores da população que viviam mergulhadas na vergonha da oralidade. A conquista do Egito por Alexandre é comparada ao controle chinês pelos europeus: países com sistema de escrita alfabética eram capazes de dominar países que não possuíam este sistema. Durkheim, Mauss e Lévi-Bruhl incluíram os chineses entre os exemplos de “povos primitivos” ou “pré-lógicos”. Foucault afirmou que a escrita é uma forma de duplicação, uma vez que representa elementos fonéticos, e não o seu significado, ao contrário dos ideogramas. Para Saussure, a palavra falada tem prioridade sobre a escrita, que é apenas a representação da primeira. Para Sapir, as formas escritas são “símbolos dos símbolos”. Entre os

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