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BLACK MIRROR – UMA ANÁLISE SOBRE TÉCNICA E SOCIEDADE

Por:   •  3/11/2016  •  Trabalho acadêmico  •  2.546 Palavras (11 Páginas)  •  933 Visualizações

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BLACK MIRROR – UMA ANÁLISE SOBRE TÉCNICA E SOCIEDADE

Amanda Sartori Souza1

“Seja qual for o país, capitalista ou socialista, o homem foi em todo o lado arrasado pela tecnologia, alienado do seu próprio trabalho, feito prisioneiro, forçado a um estado de estupidez. ” (Simone de Beauvoir)

Resumo: O artigo em questão tem a pretensão de explicar sobe a ideia de técnica e sua relação com os hábitos da sociedade atual. Utilizando estudos de Galimberti e Sibilia para criar os conceitos da técnica, e um episódio da série televisiva britânica intitulada Black Mirror para exemplificar a ideia de uso da tecnologia na sociedade atual, criamos uma relação entre técnica e sociedade pertinente aos estudos da Filosofia da tecnologia.

Palavras-Chave: Técnica, Tecnologia, Sociedade, Black Mirror.

A técnica e tecnologia estão presentes em nosso cotidiano mesmo que não possamos perceber; Dos usos mais óbvios como smartphones e computadores, a um semáforo de trânsito por qual passamos, uma porta automática na entrada no shopping, e tantos outros que nem ao menos percebemos se tratar de usos da técnica, por já terem se tornados tão habituais. Com a seguinte afirmação de Galimberti conseguimos entender que, a técnica não é uma escolha pessoal, na verdade, todos já estamos inseridos em sua realidade:

A técnica não é neutra, porque cria um mundo com determinadas características com as quais não podemos deixar de conviver e, vivendo com elas, contrair hábitos que nos transformam obrigatoriamente. (GALIMBERTI, 2003, p.8)

Mas afinal, qual a definição de técnica? Para Galimberti “Com o termo “técnica” entendemos tanto o universo dos meios (as tecnologias), que no seu conjunto compõem o aparato técnico, quanto a racionalidade que orienta o seu emprego em termos de funcionalidade e eficiência. Com estas características, a técnica nasceu não como expressão do “espírito” humano, mas como “remédio” para sua insuficiência biológica.” (GALIMBERTI, 2003, p. 9) A definição de Galimberti para a técnica nos faz pensar em seu conceito não só como a ideia de máquinas e aparatos, ou seja, vai além da ideia de pura tecnologia, mas também em técnica como forma de racionalidade.

Black Mirror é uma série de televisão britânica criada por Charlie Brooker, produzida pela Zeppotron para a Endemol, foi transmitida inicialmente no ano de 2011. A série em geral aborda a relação homem versus tecnologia de forma inteligente, crítica e problematizada. Para nosso estudo, selecionamos o primeiro episódio da segunda temporada da série, intitulado “Be Right Back” (Volte logo). O episódio é futurista, e transmite uma ideia de sociedade totalmente infiltrada e até mesmo controlada pela técnica, o que nos leva as ideias de Galimberti (2003).

Por isso, vivemos a técnica irremediavelmente, sem possibilidade de escolha. Esse é o nosso destino como ocidentais avançados, e aqueles que, embora vivendo-o, acham que podem encontrar uma essência do homem além do condicionamento técnico, como às vezes ouvimos, são simplesmente pessoas inconscientes, que vivem a mitologia do homem livre para todas as escolhas, o que só existe nos delírios de onipotência dos que continuam a ver o homem fora das condições reais e concretas da sua existência. (GALIMBERTI, 2003, p. 9)

No episódio em questão, com o auxilio da tecnologia, o personagem “Ash” é “revivido” por meio de um boneco, uma cópia, hiper realista, que interage com a personagem Martha por meio de um software que capta tudo que já foi publicado pelo falecido em redes sociais, nuvem, e na internet em geral. Se problematizarmos esta ideia, podemos pensar em como a humanidade busca cada vez mais ultrapassar as barreiras do natural, e criar até mesmo “vida” por meio da técnica. Podemos até mesmo julgar que por meio da técnica o ser humano busca “brincar de Deus” ao tornar a morte não mais definitiva, mesmo que seja de forma artificial. As ideias de Galimberti explicam esse fenômeno, com a afirmação de que o homem é inferiorizado, e que sua existência não é tão importante em sua pura essência, buscando sempre evolução.

Esta prerrogativa, que o homem atribuiu primeiro à natureza e depois a Deus, agora passa a ser referida não a si mesmo, conforme deixavam antever a promessa prometeica e a promessa bíblica quando aludiam ao progressivo domínio do homem sobre a natureza, mas ao mundo das suas máquinas, com respeito a cuja potência, além de ficar inscrita no automatismo do seu potenciamento, o homem - como declara G. Anders - acaba sendo decididamente inferiorizado e ficando inconsciente da sua inferioridade. (GALIMBERTI, 2003, p. 16)

Galimberti, na citação a cima, faz uma alusão ao mito de Prometeu, onde ao ser humano foi concebido o poder de raciocinar, ter ofícios e aptidões, e colocando em pensamento a ideia de seu domínio sobre a natureza, busca justificar a necessidade humana por modificações e evoluções.

No episódio, é retratado como a técnica vem interferindo nas relações interpessoais. Cada vez mais, a técnica deixa de ser mero instrumento para facilitar tais relações, e passa a ser parte crucial das mesmas. Muitas vezes, estamos próximos fisicamente e ainda assim nos comunicamos por meio de nossos aparelhos; essa ideia pode ser tanto um problema, quanto uma facilidade, mas devemos nos atentar se essas facilidades passam a se tornar mero comodismo e se possam se tornar vícios irremediáveis ao nosso dia-a-dia. Por exemplo, se no meio de uma aula você necessita se comunicar com um colega, é mais pratico enviar uma mensagem de texto do que interromper a aula, levantar-se da cadeira, se dirigir ao colega, para então poder dar o recado; mas se, o acesso físico for fácil e nada atrapalhe tal comunicação, e ainda assim mandar uma mensagem seja a escolha, talvez seja a hora de rever os conceitos de como a técnica está influenciando a vida. “Os meios de comunicação. Para a homologação social, contribuem de modo cada vez mais intenso os meios de comunicação, que a técnica potencializou modificando o nosso modo de fazer experiência” (GALIMBERTI,

2003, p. 21) Os meios de comunicação são uma das formas mais simples de podermos identificar a influência direta da técnica no nosso convívio social, pois, são eles, o que mais utilizamos a todo tempo e para variados objetivos.

já não se trata de um contato com o mundo, mas com a representação midiática do mundo, que aproxima o que está longe, torna presente o ausente, e disponível aqui que estava indisponível.

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