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Análise Episódio Hang th Dj (black Mirror)

Por:   •  27/8/2019  •  Resenha  •  1.872 Palavras (8 Páginas)  •  330 Visualizações

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Nos dias atuais usamos e abusamos das redes sociais. Segundo Canezin et al (2015) “as pessoas da chamada sociedade pós-moderna estão imersas nessas tecnologias” (pag. 143) e as usam para alcançar os mais diversos fins. Dentre eles podemos citar a comunicação, divulgação de ideias, promoção e acompanhamento de vagas laborais, realização de trabalhos acadêmicos, acompanhar acontecimentos do cotidiano e encontrar pessoas. Isso tudo impacta de alguma forma os relacionamentos que as pessoas estabelecem com os pares, com o próprio corpo e consigo mesmas ( CANEZIN et al, 2015).

O autor segue dizendo que as redes sociais são usadas, ainda, para manter o vínculo. Talvez o maior desses objetivos seja obter novas amizades ou conservar aquelas com as quais, devido à alguma circunstância, é difícil manter contato físico. O contato com os amigos, mesmo aqueles com os quais se convive, muitas vezes é realizado pelas redes sociais, é por elas que os amigos combinam encontros, compartilham ideias e discutem assuntos diversos.                                                        

Nessas redes as pessoas assumem ou inventam identidades virtuais, e se torna mais fácil esconder seus furos e falhas, para que não sejam percebidos pelo outro. Pode se atingir o mesmo objetivo estabelecendo relacionamentos pouco duradouros. No tocante a relacionamentos amorosos, na atualidade existem aplicativos que rastreiam a região, em busca de pessoas que também estão procurando alguém, dentre eles o Tinder, Happen e o Hornet.

Conforme Gomes et al (2016), na contemporaneidade as relações, sobretudo as amorosas, são firmadas com base nas afinidades, o que fortalece a cultura hedonista, ou seja, a busca pelo prazer e a fuga do desprazer. Ainda que haja a vontade de estar junto, essas relações são construídas por filtros de interesse. Nos aplicativos existentes, tais como o Tinder, os usuários escolhem seus pretendentes a partir da aprovação dos caracteres divulgados por aquele perfil, atrelados à imagem deste. Uma excelente ilustração está presente no episódio “Hang de Dj”, pois, há um sistema que promove encontros entre pessoas com características de personalidade parecidas ou complementares.

Nessa linha de pensamento, é possível perceber que não há mais a necessidade de despender energia, dinheiro e tempo para conhecer alguém e se surpreender negativa ou positivamente. Tudo se tornou mais fácil, porém, devemos levar em conta a representação social desses aplicativos. Conversando com algumas pessoas que os utilizam ou sabem da existência desses elas dizem ter pensado em algum momento que tais aplicativos reunissem apenas pessoas que quisessem, de forma estrita, com o intuito de manter relações sexuais e que não estivessem dispostos a assumir relacionamentos mais duradouros.

No episódio em questão, os casais estão subordinados às regras do sistema, inclusive ao tempo de duração do relacionamento com os parceiros. A personagem Amy disse que “não se apega” quando sabe que os relacionamentos serão curtos, quando assim é determinado pelo sistema.

Retornando à representação social dos aplicativos de encontros, a ideia de que seus usuários estão a procura apenas de sexo, contribui para que as pessoas não se apeguem umas às outras. Devemos considerar, ainda, que encontrar um parceiro para relações amorosas ou afetivo-sexuais ficou mais fácil, o que também corrobora para a existência de relacionamentos mais curtos, mais hedônicos.

Segundo Vieira & Stengel (2012), as relações amorosas são tomadas de grandes expectativas diante inúmeros fatores que vai da realização pessoal a felicidade em meio as incertezas e ao mesmo tempo pode ser vista como um empecilho para a liberdade. Esse convívio quando se está conhecendo outra pessoa é tomado de grandes desafios, é preciso realizar uma série de escolhas para que juntos construam histórias. O que o aplicativo do episódio propõe é uma facilitação e minimização dessas expectativas para o sujeito que se dispõe.

Há uma potencialização da intolerância à diferença, inclusive nos relacionamentos amorosos. Amy não suportava os suspiros de Nicola, enquanto Frank não se identificou em nada com o seu segundo “match”.  As representações sociais que se tem daqueles que usam esses aplicativos também guiam nossas ações em relação a eles.

Percebe-se isso em Hang the Dj, quando Amy e Frank não sabiam como se comportar, se comiam ou não, se fariam sexo na primeira noite ou não. Outro aspecto interessante a ser apontado é a ideia de que quem usa esses aplicativos são mais experientes, inclusive sexualmente. Isso é ilustrado por um dos “matchs” de Amy, Nicola, quando cita que, devido ao fato de já ter se relacionado pelo sistema por cinco vezes, sabia que deveriam fazer sexo logo na primeira noite.

O episódio nos revela algo que soa de fato muito próximo ao que vivemos: estamos tão acostumados com as relações do mundo virtual, que esquecemos como comportar no offline. Habilidades sociais que antes eram tão naturais, hoje se apresenta com maior dificuldade. É isso que podemos refletir também em Bauman no trecho:

Quanto mais atenção humana e esforço de aprendizado forem absorvidos pela variedade virtual de proximidade, menos tempo de dedicará à aquisição e ao exercício das habilidades que o outro tipo de proximidade, não virtual, exige. Essas habilidades caem em desuso - são esquecidas, nem chegam a ser aprendidas, são evitadas ou a elas se recorre, se isso chega a acontecer, com relutância. Seu desenvolvimento, se requerido, pode apresentar um desafio incômodo, talvez até insuperável. (BAUMAN, 2003, p.84)

É importante considerar que, como usuários dessas plataformas, não somos tão livres como imaginamos. Conforme exemplo dado por Oliveira (2012) citado por Canezin et al (2015) o Facebook é como uma metrópole formada por diversas tribos, que promove encontros e desencontros. Através dos mecanismos de sugestão de amigos e assuntos, possibilita a comunicação do usuário com determinados perfis. As redes funcionam como ferramenta para aproximar as pessoas e facilita o estabelecimento de relações interpessoais, sejam amorosas, afetivo-sexual ou não.

Os relacionamentos são estabelecidos, cada vez mais, pelas afinidades parceiro-parceiro, tendendo a uniformidade. É chamado de algoritmização, a memorização de ações que guiam os estímulos emitidos ou apresentados pela rede ao seu usuário na sequência. Através desse processo as redes sociais como o Facebook nos sugerem amigos, assuntos e páginas variadas, assim como os sites de compra nos oferecem produtos de acordo com nossas pesquisas e curtidas. Esse processo favorece a chamada homofilia, uma bolharização, que promove encontros entre indivíduos cujos interesses são comuns, gerando intolerância às diferenças e a falsa ilusão de que vivemos em um mundo de iguais. (GOMES et al, 2016)

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