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Breves Considerações Sobre a Estrutura da Pessoa Humana

Por:   •  27/8/2022  •  Artigo  •  975 Palavras (4 Páginas)  •  83 Visualizações

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Breves considerações sobre a Estrutura da Pessoa Humana, de Edith Stein

Em primeiro lugar, cabe dizer que a "Estrutura da Pessoa Humana" foi não um livro, mas um curso, ministrado por Edith Stein entre 1932 e 1933 - uma espécie de cursinho preparatório para candidatas ao magistério. As aulas escritas num caderno de Stein foram publicadas em alemão, mas de maneira incompleta e com algumas diferenças. Ao passo que a versão espanhola das Obras Completas traz a tradução do texto integral, incluindo as notas e observações que a própria autora anotava nas margens das páginas [1].

O objeto do curso, diferentemente do que o título da obra dá a entender, é a pedagogia. Stein, com maestria, mostra como um filósofo autêntico chega às questões mais profundas partindo de problemas e situações reais e corriqueiras, pelas quais o homem comum geralmente passa despercebido.

Enquanto Platão teceu profundíssimas análises sobre a coragem a partir de uma conversa sobre hoplomaquia [2] e Aristóteles escreveu a Metafísica partindo da inclinação natural do homem pelo conhecimento [3], Stein deu à luz um rico e completo discurso sobre o homem (antropologia) a partir de uma prática tão antiga quanto a civilização: a pedagogia. Sendo este o assunto principal, Stein se põe a analisá-lo.

Ora, o melhor conhecimento é o conhecimento pelas causas [4], e dentre estas, a que melhor ajuda a compreender um objeto é a causa final, em outras palavras, para que algo "serve". Assim, Sein inicia sua análise sobre a pedagogia perguntando sobre seu objeto, o homem. (Cabe assinalar que Edith Stein, embora não faça a menor menção, de certo modo incorpora em seu discurso um ensinamento de Marco Túlio Cícero: há coisas que são de tal maneira evidentes que o assunto não merece discussão [5]. Assim, a autora não perde tempo em explicar que é o homem o objeto da educação, e não outro)

Contudo, a pedagogia é apenas uma parte de uma ciência maior que também tem o homem por objeto - ou melhor, a pedagogia é uma arte que pressupõe uma ciência. Assim como a arquitetura é uma arte que pressupõe uma ciência sobre os corpos físicos e suas relações, assim também é a pedagogia, que requer um conhecimento mais amplo sobre o que é o homem, caso contrário a educação do homem jamais teria fim, uma vez que o professor não saberia quando seu trabalho tivesse enfim terminado e se foi bem feito.

Deste modo, temos que a pedagogia é a educação do homem, mas o que é o homem? Há uma ciência  que trata de fornecer a resposta: a antropologia (que esta seja uma ciência, é caso para uma discussão posterior). Contudo, a antropologia pressupõe algo. Numa breve definição, antropologia é um "logos" sobre o "anthropos", isto é, um discurso sobre o homem, mas para se formar um discurso sobre algo, antes é preciso uma certa visão sobre este algo.

Para que alguém diga "o Abapuru de Tarsila do Amaral é horroroso" ou "Saudade, de Almeida Júnior, é belíssimo", antes é necessário ter visto o Abapuru ou Saudade. Assim, para que haja alguma antropologia, antes é preciso ver o homem - e não apenas: é preciso ver o homem nele mesmo (enquanto indivíduo) e no universo o qual integra (enquanto membro de uma sociedade, animal, coisa viva e ente meramente físico). A esta visão "individual" e "cósmica" chamamos metafísica.  

Com isso, temos o primeiro quadro pintado por Stein para que seja possível compreender o percurso que ela traça em Estrutura da Pessoa Humana: 1) a pedagogia é a educação do homem; 2) a pedagogia pressupõe uma visão mais ampla sobre o homem; 3) O discurso científico sobre o homem que a pedagogia requer é dado pela antropologia; 4) a antropologia, por sua vez, requer uma visão de mundo que abranja não só o homem, mas o universo no qual ele está inserido; 5) esta visão de mundo é a metafísica.

O esquema nu é de fácil entendimento - e se fosse apenas isto, não haveria motivo para um curso, e nem Stein seria uma filósofa. É no confronto da teoria com a realidade que a porca torce o rabo - e aqui mora o segredo não tão secreto da filósofa alemã: o método de que se vale, objeto de uma discussão mais adiante.

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