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Diversidade Cultural

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Por:   •  18/5/2014  •  5.646 Palavras (23 Páginas)  •  339 Visualizações

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Diversidade cultural e cosmopolitismo*

Cultural diversity and cosmopolitism

Renato Ortiz

Professor no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas — IFCH da UNICAMP

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RESUMO

Num mundo globalizado a diversidade cultural deve ser pensada de um ponto de vista cosmopolita. Somente uma visão universalista pode valorizar realmente o que denominamos "diferença".

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ABSTRACT

In a globalized world cultural diversity should be conceived from a cosmopolitan viewpoint. Only an universalist view is able to actually value "difference".

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1. O debate sobre a diversidade cultural se faz hoje sob o signo de uma contradição aparente. Afirmam-se simultaneamente conceitos que muitas vezes parecem ser excludentes: integração/diferença, globalização/localização. Alguns analistas de marketing não hesitam em preconizar a existência de um planeta homogêneo, unidimensional, unificado apenas pelos vínculos da sociedade de consumo1. Em todos os sítios os indivíduos teriam as mesmas necessidades básicas, alimentar-se, vestir-se, deslocar-se pela cidade, ir ao cinema, fazer compras, etc. Caberia ao mercado e aos bens materiais padronizados satisfazê-las. Uma visão antagônica encontra-se entre aqueles que sobrevalorizam os movimentos étnicos (seja para firmá-los como elementos de construção das identidades locais, seja para rejeitá-los como uma ameaça a qualquer proposta de unificação). O declínio do Estado-nação teria inaugurado uma era de fragmentação social, salutar ou perigosa, de acordo com os prognósticos mais ou menos otimistas. Por isso a metáfora da "balcanização" se generalizou. O mundo contemporâneo seria constituído por espaços desconexos, por fragmentos diversos (alguns dizem "fractais") independentes uns dos outros. No contexto da formação dos blocos econômicos, por exemplo a Comunidade Européia e o Mercosul, a mesma polaridade analítica se reproduz. No início a ênfase é colocada no primeiro termo, a integração. Privilegia-se assim a dimensão da expansão das fronteiras - moeda única européia, mercado comum, livre circulação das pessoas, intercâmbio entre os países, etc. Porém, uma vez considerado este aspecto integrador, como se por receio, retorna-se imediatamente à premissa anterior: a diferença cultural (especificidade das regiões, riqueza das culturas locais, variedade dos povos e do patrimônio nacional). O debate oscila desta forma da "totalidade" à "parte", da "integração" à "diferença", da "homogeinização" à "pluralidade". Tem-se a impressão de encontrar-se diante de um mundo esquizofrênico: por um lado pós-moderno, multifacetado ao infinito, por outro uniforme, idêntico em todos os lugares.

Esta bipolarização ilusória se agrava quando é rebatida no plano ideológico. Totalidade e parte deixam de ser momentos da análise intelectual para se transformarem em pares antagônicos de posições políticas. De um lado teríamos o "todo", apressadamente assimilado ao totalitarismo, de outro as "diferenças", ingenuamente celebradas como expressão genuína do espírito democrático. Modernidade x pósmodernidade, Habermas x Lyotard, direita x esquerda, razão x irracionalismo; escolher uma dessas trincheiras torna-se um imperativo de sobrevivência epstemológica2. Como se vivêssemos uma Guerra Fria no plano dos conceitos. "Tomar partido" esta seria a única maneira de se superar a contradição aparente entre integração e diferenciação, cada um encolhendo-se no universo seguro de um desses compartimentos estanques. Mas seriam as sociedades passíveis de serem compreendidas desta forma? Este pensamento dicotômico, que lembra as classificações primitivas estudadas por Durkheim e Mauss, é realmente convincente?

2. Duas disciplinas nos ajudam a pensar a problemática da diversidade cultural. A primeira é a Antropologia. Ela surge no final do século XIX sublinhando a radicalidade do outro. Ao se debruçar sobre as sociedades primitivas ela desvenda tipos de organizações sociais fundamentalmente distintas das sociedades industrializadas (relações de parentesco, crenças mágicas, explicações mitológicas, etc). Para alguns autores esta distância é tal que torna-se até mesmo impossível compreendê-las (é o caso de Levy Bruhl, quan do define a mentalidade primitiva como algo ininteligível para o pensamento científico). Certamente para o conjunto da disciplina esta orientação é logo abandonada (não faria sentido uma área de conhecimento se constituir a partir da negação do que se propõe estudar). De qualquer maneira, nos dois casos, o que está em pauta é o entendimento de grupos distantes no espaço e no tempo, isto é, um conjunto de formações sociais que teriam florescido à sombra da história dos mundos "civilizados" (europeu, chinês, islâmico). Em princípio cada uma delas constituiria um lugar à parte. Possuiria uma identidade e uma centralidade própria. Toda cultura deveria portanto enraizar-se num território específico. Ela possuiria um centro e fronteiras bem delimitadas. Fora de seu alcance se encontraria o caos, a desordem, o estranho, o perigoso. Por isso os povos primitivos aprimoraram uma série de mecanismos purificatórios e exorcizadores para se relacionar com o estrangeiro. Este será sempre concebido, como nos mostra Van Gennep, como um elemento potencial de perturbação da ordem, social ou mitológica3. As fronteiras, simbólicas e geográficas, devem ser respeitadas para que a integridade cultural possa ser mantida.

A Antropologia nos ensina portanto que os povos dispersos pelo planeta constituiriam uma série diversificada de culturas. Cada uma delas com suas características intrínsecas e irredutíveis. Não é por acaso que o debate sobre o relativismo cultural atravessa o pensamento antropológico

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