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Niilismo De Nietzche

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Por:   •  24/3/2015  •  8.115 Palavras (33 Páginas)  •  268 Visualizações

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tormentas do niilismo

Muitos chamam Nietzsche de niilista, não sem razão, mas sua concepção de niilismo é diferente daquela que o acusam. Nihil significa nada, coisa alguma, sendo niilismo então algum tipo de movimento negador de toda e qualquer coisa. Se seguirmos este caminho estaremos nos afastando do filósofo alemão.

A obra de Nietzsche pode ser didaticamente separada em duas partes. Uma de completa negação, que abordaremos neste texto, e outra, de completa afirmação. Sendo assim, o “Não” de Nietzsche é fruto, é a preparação para um grande “Sim!” muito mais alto e poderoso. O “crepúsculo dos ídolos” abre espaço para o grande meio-dia, onde Zaratustra dança e a sombra é mais curta. O som estridente do impacto martelo dá lugar à alegre música.

O título deste texto foi retirado de um livro de Michel Onfray, “A sabedoria trágica – sobre o bom uso de Nietzsche“. Nesta obra, Onfray fala das tormentas do Niilismo, movimento negador de Nietzsche, túmulo do sagrado, martelo destruidor, niilismo, morte de Deus; e depois da Grande Saúde (veja aqui), movimento afirmador de Nietzsche, amor-fati, super-homem, gaia ciência, efetivação da potência do ser. Vamos então ao que interessa, eis os sete movimentos do niilismo, prelúdio da Grande Saúde que se anuncia:

1. Nova cosmologia: toda metafísica do ocidente acabou, foi desagregada. Todo idealismo desintegrou-se. Depois que o Uno decompôs-se, sobrou espaço apenas para a multiplicidade das forças. Potências cegas se enfrentam, a ordem é efeito do caos. A existência é um campo de batalha, onde não há vencidos nem vencedores, apenas forças que buscam se afirmar. Fluxos, velocidades, forças, energias, intensidades: “esse mundo é Vontade de Potência – e nada além disso“

2. Pura irreligião: Nietzsche trouxe as boas novas: “Deus está morto!“. Se não há nada fora da Vontade de Potência, os deuses não têm mais onde se esconder. Ou Deus é esta realidade múltipla, ou ele não é nada. Como não há nada fora do todo, e o todo é plural e descontínuo, então Deus não existe. Os que recusaram este mundo, criaram deuses para cultuar o nada. Os homens perderam-se nestes fantasmas, mas já é tempo da criatura matar seu criador. Deus exige a renúncia, mas nós renunciamos a Deus. É preciso fincar o punhal nesta divina ideia, rasgar o véu que nos separa da realidade.

3. Devir fragmento: Deus sai do centro do mundo, e, no reverso da moeda, o homem sai também de cena. A forma homem é fruto da fraqueza, da interiorização das forças, doença dos instintos. O homem não é mais o centro do universo, nem o centro de si mesmo, é apenas uma fragmento do todo, é um animal entre outros animais, só que mais pálido, fraco e preso nas celas da civilização. Sim, claro, é preciso superar o homem, esta carcaça andante já não cria, não vive, quase não respira: tornou-se máquina entre máquinas, pecador entre pecadores. Devir fragmento é perceber que se agitam infinitas forças dentro desta casca que chamamos de ser humano.

4. Retórica da moralina: Quem quer a moral? Quem quer o bem e o mal? Nietzsche desmonta a retórica dos moralistas em Genealogia da Moral. Não, a moral não pode mais ser nossa guia, ela é filha dos idealismos e irmã dos asceticismos. Todo “tu deves” será abolido. Todos os mandamentos serão queimados, as tábuas da salvação serão quebradas. A moral castra, o castrado pede senhores, os senhores tornam-se donos da verdade, a verdade não se deixa ser questionada. A vida torna-se morte quando as forças vitais rendem-se aos pregadores da morte.

5. Elogio a Pôncio Pilatos: Este momento é delicado. O que fez Pôncio Pilatos? Deixou o povo decidir entre Barrabás ou Cristo, lavou as mãos. Pôncio Pilatos não quer saber de Cristo, não lhe dá atenção, não perde seu tempo. É preciso escolher entre Dionísio ou o Crucificado. Quem primeiro suspeitou da vida disse: “meu reino não é deste mundo” (Jo 18:36). Isso não é um crime, claro, mas tampouco é atitude para se admirar…

6. Antipolítica: “Se manter limpo frente à necessária sujeira de toda política” (Nietzsche, Além do Bem e do Mal, §61). Nietzsche não é de nenhum partido (e, com certeza, não é anti-semita); palavras como pátria, se tornam indiferentes para ele, seu caminho é outro. Desfazer o poder. Como? Seguindo outras linhas, linhas de fuga… O mesmo vale para o trabalho: parem de servir. O mesmo vale para a família: quebrem o triângulo edípico. Não se é livre passando de uma prisão à outra. A filosofia nietzschiana ignora fronteiras.

7. Anatomia do Socialismo: Nietzsche desmascara o socialismo em seus primórdios, ele não passa de uma reinvenção do cristianismo, uma encarnação do mito de salvação. “Haverá o dia em que todos seremos um, e não haverá mais oprimidos nem opressores”, diz o revolucionário; mas ele, de alguma forma, também aguarda a volta de Cristo, a salvação e o julgamento (da história). Sonho, vontade de nada, negação do real. A luta é diária, sem perspectivas de um céu na terra. Não há lugar para se chegar, tudo se faz aqui e agora; não há ideais para se seguir, apenas a Vontade de Potência se afirmando.

É fácil ficar atordoado com as ideias de Nietzsche. Ainda mais neste primeiro momento. Pode parecer assustador, as tormentas niilistas anunciam tempo difíceis, o mundo está em ruínas, os deuses precisam ser enterrados. Ficamos zonzos com o peso do martelo caindo sobre tudo que um dia acreditamos. Mas não terminamos, estamos apenas limpando o terreno. A noite, por mais longa e fria que seja, sempre chega ao fim, e a aurora anuncia o tempo da Grande Saúde.

A Grande Saúde

Desse isolamento doentio, do deserto desses anos de experimento, é ainda longo o caminho até a enorme e transbordante certeza e saúde, que não pode dispensar a própria doença como meio e anzol para o conhecimento, até a madura liberdade do espírito, que é também auto-domínio e disciplina do coração e permite o acesso a modos de pensar numerosos e contrários — até a amplidão e refinamento interior que vem da abundância […] até o excesso de forças plásticas, curativas, reconstrutoras e restauradoras, que é precisamente a marca da grande saúde” – Nietzsche, Humano Demasiado Humano, Prólogo §4

Depois de demolidos todos os sistemas, depois das tormentas do niilismo passarem destruindo tudo ao seu redor, resta um pensamento telúrico, uma pura filosofia da imanência. Nenhum filósofo mais encostará sua pena no papel para maldizer este mundo, apenas para dar vazão à Vontade de Potência. Depois de um “não” a toda moral, religião, imperativo categórico, vem o grande “Sim!” para tudo que seja deste mundo, é

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