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O Estudo das mulheres

Por:   •  17/4/2018  •  Artigo  •  1.933 Palavras (8 Páginas)  •  136 Visualizações

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O ESTUDO DAS MULHERES

"sapiens mulier ædificavit domum suam

insipiens instructam quoque destruet manibus" (1)

Este texto é uma resposta a um artigo sobre o estudo das moças publicado no blog católico Jardim Fechado em janeiro (2).  No artigo, como infelizmente também fazem muitos católicos ditos tradicionais, se defendia que o aprofundamento da mulher na filosofia e na teologia seja contrário à sua natureza e contrário, ou ao menos inútil, aos seus deveres do matrimônio. Tal estudo seria tolerável nos nossos tempos, mas ainda de forma bem restrita, por consideração da atual crise da Igreja e da sociedade.

Creio que essas ideias decorrem de uma má compreensão da natureza da mulher, do matrimônio e da vida intelectual e por isso venho refletindo muito sobre o assunto e, apesar das minhas limitações, resolvi escrever as minhas razões para discordar do artigo, a fim de contribuir para que a verdade triunfe sobre esse confuso apego ao passado disfarçado de amor à Tradição. Não responderei diretamente ao artigo supramencionado, ponto por ponto, mas creio que as objeções colocadas fiquem respondidas pela exposição que farei. Trabalharei primeiro por demonstrar que um sério estudo de filosofia e teologia não é contrário à natureza da mulher, depois mostrarei que isso também não é necessariamente contrário às circunstâncias da vida de mulher casada, para, por fim, demonstrar que, além de não serem contrários, tais estudos são ainda benéficos à santificação da mulher.

O estudo da Filosofia e da Teologia não é contrário à natureza da mulher

I) Porque ela, antes de mais nada, é um animal racional, ainda que seja também adjutória do homem na geração. Enquanto animal racional, sua felicidade se encontra na contemplação da verdade, que é a operação da inteligência especulativa segundo a virtude da sabedoria. De forma natural, essa contemplação é alcançada após a aquisição de todas as virtudes práticas e intelectuais que precedem a virtude da sabedoria, o que exige a perseverança na prática do bem e nos estudos – inclusive o estudo da metafísica e da teologia. É verdade que houve quem alcançasse a contemplação mesmo sem estudo, porque pela graça Deus pode fazer o extraordinário. Contudo, Deus não costuma agir extraordinariamente para suprir aquilo que por negligência deixamos de buscar pela via natural e ordinária. Se os deveres da mulher impedem o seu estudo em certas circunstâncias, nem por isso há que desesperar de alcançar a felicidade: quem serve ao bem, serve à verdade. Mas, notemos, esses impedimentos são circunstanciais, não intrínsecos: não decorrem da natureza da mulher.

II) Além disso, segundo São Tomás, a divisão dos sexos existe justamente para que o ser humano, homem e mulher, possa se dedicar à intelecção:

os animais perfeitos têm a virtude geratriz ativa, no sexo masculino, e a passiva, no feminino. E como eles são capazes de alguma operação vital mais nobre que a geração, para cuja operação a vida se lhes ordena principalmente, por isso, o sexo masculino não se une com o feminino a todo o tempo, mas só no do coito (...) o homem [ser humano] se ordena a uma operação vital mais nobre, que é o inteligir. E por isso nele, com maior razão, devia haver a distinção entre uma e outra virtude [a masculina e a feminina, diferentemente das plantas], de modo que a fêmea fosse produzida separadamente do macho; e, contudo, ambos se unissem, carnalmente, para a obra da geração (3).

Como seria possível, então, que a mulher fosse impedida de agir como animal racional, buscando a sabedoria pela via ordinária, pelo fato de ser adjutória do homem na geração? Exatamente por ser animal racional, que precisa se dedicar à intelecção, é que o ser humano foi feito com dois sexos distintos.

III) Em verdade, o desinteresse das mulheres pela especulação é extremamente comum, a) mas isso não muda a sua natureza. Também são poucos os homens que se dedicam aos estudos, e, dos que se dedicam, poucos são os que alcançam a contemplação. Essa observação, porém, não nos levará a negar que todo homem naturalmente tende à contemplação como ao seu fim último, ainda que dela se desvie no decorrer da vida. Para a mulher vale a mesma coisa: pode haver maior inclinação para a prática, pode haver mil deveres que com justiça a tirem o tempo dos estudos, pode haver fraqueza, falta de perseverança na meditação etc., a sua natureza, porém, continua a mesma: sua felicidade continua residindo na contemplação e a via ordinária para se chegar a ela continua sendo a vida intelectual. b) Nem, porém, se pode dizer que esse desinteresse seja universal, pelo simples fato de ser comum. A não ser com uma grande dose de ideologia, não há como negar coisa tão clara: há mulheres que tem a vocação intelectual, assim como há homens que não a tem.

IV) O aprofundamento na especulação não é, portanto, algo tolerável por causa das circunstâncias atuais: é o que pede a própria natureza da mulher, em todos os tempos. Se ela precisa deixar de estudar filosofia e teologia por causa de outros deveres, não deixa por isso de tender à sabedoria: o que podemos tolerar não é que ela estude, como se segure no artigo, mas sim que, por amor do bem, tenha que deixar de fazê-lo.

O estudo de filosofia e teologia, pela mulher, não é contrário aos deveres do matrimônio

I) Porque toda vida prática, inclusive a da mulher no matrimônio, se ordena para a contemplação da verdade, que é o fim de todas as ações propriamente humanas. A contemplação da verdade não se ordena a nada. Ao contrário, tudo se ordena a ela. É natural, portanto, que a contemplação não sirva para a perfeição da mulher nos seus deveres de casada: esta perfeição é que se ordena à contemplação. Consequentemente, não se pode afirmar que o estudo seja necessariamente contrário à vida de casada, mas apenas circunstancialmente. São dois meios distintos para alcançar o mesmo fim. Em grande parte dos casos o bom emprego de um fará com que a mulher – assim como o homem – tenha que abdicar do outro, mas isso não é algo que possa ser definido universalmente, e sim caso a caso.

II) Todavia, é preciso ainda lembrar que Deus não pede a Seus filhos aquilo que lhes excede as forças sem, por outro lado, lhes dar as graças necessárias para fazer o que parece ser impossível. Se uma mulher casada, vendo em si os indícios de uma verdadeira vocação intelectual, tem o receio de não conseguir conciliar os deveres de casada com os deveres de uma estudiosa, não precisa por isso desistir. Precisa, isto sim, fazer o possível para ordenar as coisas, pois é próprio do sábio ordenar, e em tudo buscar o auxílio de Deus, cuja providência não falha. Se há vocação, não faltará oportunidade, ainda que essa oportunidade seja muito diversa da que planejamos.

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