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ORDO AMORIS: UM PANORAMA ATRAVÉS DE AGOSTINHO DE HIPONA E MAX SCHELER

Por:   •  18/8/2021  •  Artigo  •  5.280 Palavras (22 Páginas)  •  185 Visualizações

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ORDO AMORIS: UM PANORAMA ATRAVÉS DE AGOSTINHO DE HIPONA E MAX SCHELER

1 Lucas Emanuel Souza Melo

2 Wesley Fernandes Fonseca

Resumo: Esse artigo pretendeu conceituar a ordo amoris a partir de duas perspectivas distintas, o modo como o conceito foi formado a partir da visão de cada autor, e as implicações para a existência humana. Através de revisão bibliográfica, foi possível construir um panorama sintetizado do conceito, e compreender como o estabelecimento do amor ordenado pode ser uma alternativa para o homem contemporâneo recuperar sua identidade mais profunda, radicada em Deus.

Palavras-chave: Ordo amoris. Pessoa humana. Interioridade. Valores. Deus.

Abstract: This article intended to conceptualize ordo amoris from two different perspectives, the way the concept was formed from the sight of each author, and the implications for human existence. Through bibliographic review, it was possible to construct a synthesized panorama of the concept, and to understand how the establishment of ordered love can be an alternative for contemporary man to recover his deeper identity, rooted in God.

Keywords: Ordo amoris. Human person. Interiority. Values. God.

INTRODUÇÃO

        O objetivo deste artigo se fundamenta na exploração do conceito de ordo amoris, a partir da visão de Agostinho de Hipona e Max Scheler. Desse modo, a problemática de pesquisa consiste na experiência da elaboração do ordo amoris na pessoa humana. Em virtude disso, a hipótese deste trabalho pode ser demonstrada da seguinte maneira: por meio do ordo amoris, o homem principia um itinerário de aperfeiçoamento pessoal que consista em uma vida ordenada, amando aquilo que de fato merece ser amado.

Portanto, serão apresentados conceitos importantes para a antropologia agostiniana. Agostinho, ao compreender a pessoa humana como um composto de alma e corpo, pressupõe a superioridade da alma, onde por excelência se faz a experiência consigo mesmo, com o mundo e com Deus. Desse modo, ele apresenta a metafísica da interioridade como caminho para o homem encontrar sua identidade mais profunda, que se radica em Deus, numa experiência trinitária. Para isso, será necessário investigar os vestígios da trindade na alma humana, bem como os conceitos de interioridade e amor na experiência agostiniana, para que seja de fato possível conceituar o ordo amoris de Agostinho, sua dimensão metafísica, religiosa e moral.

Já para Scheler, a dimensão metafísica mormente se faz importante, entretanto, a ordo amoris scheleriana assume uma condição muito mais prática, de ordem moral. A partir de sua concepção de pessoa, Scheler traça a teoria dos valores, que se traduzem pela opção fundamental de cada homem, para onde destinará seu amor. Outros conceitos como o valor do sentimento, a relação entre amor e ódio, Absoluto e sua relação com Deus serão fundamentadas, para delinear a concepção scheleriana de ordo amoris.

O método escolhido para este artigo será a revisão bibliográfica. No entanto, as considerações que serão apresentadas buscam demonstrar a atualidade do ordo amoris para o homem contemporâneo, massacrado pela cultura do efêmero.

1        A PESSOA HUMANA EM AGOSTINHO

Agostinho se debruça o homem a partir de uma autorreflexão, em que “como pessoa, Agostinho torna-se protagonista de sua filosofia: ao mesmo tempo observante e observado” (REALE, 1990, p. 437). Toda a antropologia agostiniana é fundamentada sobre uma ótica teológica, cristã. Desse modo, é inadmissível conceber o homem sem considerar sua total dependência de Deus, fonte e autor de toda a vida.

Ele estabelece a vida humana a partir da criação, e divide o homem em alma e corpo. A alma é a causa vital para o corpo, sendo com ele uma unidade. Ela, a partir de sua capacidade inteligível, estabelece a ordem do corpo e seus demais aspectos. Encarrega-se de, através do “sensus interior”, ordenar a dimensão sensorial e realizar o discernimento sobre o que é bom e o que é mau para o corpo.

Outrossim, Agostinho hierarquiza a constituição humana: a alma é superior ao corpo e capaz de governá-lo. Na obra “A Trindade”, livro X, Agostinho defende que  alma conhece a si mesma por inteiro e a disposição de conhecer-se a si mesma, no sentido de pensar, é entregue a ela de modo que viva de acordo com a sua natureza, sendo dotada de inteligência e de memória, fixando-se abaixo de Deus, sendo capaz de contemplá-Lo e gozá-Lo como maior Bem, do qual é dependente; e acima do corpo, pois apesar de estar ligada a ele, a alma é capaz de emitir juízos sobre a esfera do sensível.

Entretanto, não cede ao neoplatonismo, que busca realizar uma separação, onde “o corpo é o cárcere da alma”, reforçando a ideia supramencionada de unidade. Longe disso, Deus em sua infinita bondade criou o homem em alma e corpo, segundo seu desígnio de amor. Nessa constituição, existe uma dinâmica integradora, que orienta o homem de modo total a Deus, em ambas as dimensões.

Faz-se necessário remontar novamente à “Trindade”, no capítulo IX, onde Agostinho inicia a investigação sobre os vestígios da Trindade que se encontram na alma humana, e discorrer sobre alguns conceitos importantes. Nesse sentido, procura tríades e, no capítulo IV da referida obra, encontra uma primeira: “Mens et amor et notitia eius”, que constituem uma e mesma essência.

Segundo FITZGERALD (2019, p. 661), “A Mens é a interconexão entre ser, conhecimento e vontade, ou melhor; ela é a total inter-relação e atividades autorreflexivas de memória, entendimento e amor”.

Já o termo notitia indica a “certeza absoluta de si mesmo que o ser humano encontra no fundo invulnerável de sua própria identidade” (FITZGERALD, 2019, p.266). A partir desses conceitos, Agostinho compreende que só se ama aquilo que se conhece.

Contudo, os objetos sensíveis, imprimem sobre a alma, especificamente na memória, uma confusão que a entorpece e a faz não mais pensar em si mesma, e, por conseguinte, se aliene de sua essência e de Deus. Desse modo, é necessário que a alma se despoje das imagens sensíveis e fixe-se sobre si. Essa ação é para Agostinho o “conhece-te a ti mesmo”.

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