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Percepçao Ambiental

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Por:   •  9/3/2015  •  1.683 Palavras (7 Páginas)  •  127 Visualizações

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MARX ECOLÓGICO? UMA CRÍTICA

GUILHERME DA S. RIBEIRO1

Resenha de A ecologia de Marx: materialismo e natureza, de John Bellamy

Foster. Rio de Janeiro, ed. Civilização Brasileira, 418pp, 2005 (2000).

A Ecologia de Marx: Materialismo e Natureza, de John Bellamy Foster, publicado

originalmente no ano 2000 e traduzido em português em 2005, não é um livro

despretensioso. Independente de abordar uma questão já bastante discutida pela

literatura marxista — a saber, o papel da natureza na obra de Marx —, Foster deseja ir

além. Para ele, o pensamento marxiano é integralmente ecológico; o materialismo

histórico-dialético seria indissociável de uma preocupação “ecológica” em relação à

natureza.

Estamos diante de um livro bem-documentado. Tal virtude está diretamente

ligada à tessitura argumentativa elaborada por Bellamy Foster, autor conhecido no

Brasil por ser um dos organizadores da coletânea Em defesa da história: marxismo e pósmodernismo

(Bellamy Foster & Wood, 1999 [1997]). Nesta coletânea, ele assina dois

artigos. Um deles chama-se “Marx e o meio ambiente”, onde podemos encontrar parte

das teses desenvolvidas no que viria a se transformar em livro. Conforme ele, as raízes

do materialismo de Marx devem ser procuradas em Epicuro, pensador que não foi

devidamente valorizado no âmbito da reflexão sobre Marx quanto o foi no que diz

respeito a suas influências sobre a Ciência Moderna. É assim que este pensador grego

ocupa praticamente todo o livro. No limite, uma leitura mais crítica diria que Epicuro

aparece mais do que o próprio Marx.

De fato, embora o livro deva receber créditos por iluminar determinados aspectos

ao redor do materialismo envolvendo Malthus, Marx e Darwin — ainda que recaia no

discurso já tão conhecido das críticas de Marx a Hegel e a Feuerbach, bem como em

uma defesa obsessiva e nem sempre convincente da dialética —, parece que ele acabou

por ampliar demais a discussão e, assim, negligenciar seu principal personagem. Nesse

sentido, se o livro fosse intitulado “A ecologia de Marx: as referências formadoras”

seria mais adequado, diante dos resultados do conteúdo apresentado propriamente

dito. Se estivéssemos a analisar uma tese de doutorado, a advertência seria inequívoca:

má delimitação do objeto de pesquisa...

1 Universidade Federal Fluminense - UFF (Geografia), 28015-030 Campos dos Goytacazes - RJ, Brasil.

RESENHA

246 Ribeiro

Ambiente & Sociedade  Campinas v. XIV, n. 1  p. 245-248  jan.-jun. 2011

Por exemplo, Bellamy Foster não se pronuncia, em momento algum, sobre seu

conceito de ecologia, nem tampouco sobre o que entende por fatores ecológicos.

Efetivamente, a nosso ver, é apenas no final do capítulo V, “O metabolismo entre

natureza e sociedade” — mais precisamente, a partir da página 230 —, que a

argumentação central da obra se torna convincente. Para Marx, existe uma interação

metabólica entre o homem e a natureza que será rompida pelo capitalismo. A

propriedade privada, instaurando a divisão do trabalho, separa o camponês da terra,

de uma relação íntima e tradicional com o solo, provocando uma “falha metabólica”

incontornável no modo de produção capitalista. Por conseguinte, a relação predatória

com a natureza, vista tão somente enquanto repositório de lucros em potencial. Portanto,

no capitalismo, o homem se aliena da natureza. A propósito, a Geografia marxista

brasileira possui vasta literatura a respeito.

Ensaiemos reconhecer os méritos do autor. Na verdade, sua investigação é uma

espécie de descoberta pessoal pois, segundo confessa no Prefácio, “minha trilha para o

materialismo ecológico estava obstruída pelo marxismo que eu havia aprendido pelos

anos afora” (p.8). Aos poucos, ele ia sendo convencido por alunos e colegas da

importância do tema em Marx. É assim que ele demarca um “ponto de virada do meu

pensamento” e a possibilidade de uma “história detetivesca” (p.10).

Ora; serão tais questões novidades para os geógrafos? Situações como essa nos

mostram que, mesmo que sejamos críticos incansáveis da história e da epistemologia

geográficas, talvez devamos valorizar um pouco mais nossas conquistas e debates —

tal como o fazem territorialmente, ou seja, protegendo muito bem suas fronteiras,

historiadores e sociólogos. Não por acaso, o geógrafo italiano Massimo Quaini e seu

Marxismo e Geografia (1979) são citados logo no início: “Marx... denunciou a espoliação

da natureza antes do nascimento de uma moderna consciência ecológica burguesa”

(p.23). Todavia, o que para Bellamy Foster é novidade, para a Geografia é parte

integrante de seus principais debates. Referimo-nos ao fato de que ele simplesmente

...

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