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Por que alguém pratica a intolerância?

Por:   •  22/11/2015  •  Trabalho acadêmico  •  1.724 Palavras (7 Páginas)  •  230 Visualizações

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Por que alguém pratica a intolerância?



        
Apesar de a tolerância ser hoje bastante enaltecida, reconhecida no país por sua legislação interna e por declarações de direitos internacionais, as quais somos signatários, como o sustentáculo dos direitos dos homens, e apesar da sociedade plural e diversificada em que vivemos, a intolerância é latente. Lideramos no ranking de violência contra homossexuais, a cada três dias, uma denúncia de intolerância religiosa chega à Secretaria de Direitos Humanos, são registrados mais de cem boletins de ocorrência a cada ano por injúria racial e a violência contra a mulher ainda é tolerada no país. A intolerância religiosa soma-se a intolerância política, cultural, étnica e sexual. A inquisição está presente no cotidiano dos indivíduos: no âmbito do espaço doméstico nos locais do trabalho, nos espaços públicos e privados. Ela por vezes assume formas sutis de violência simbólica e outras se apresenta na forma de manifestações extremadas de ódio. A intolerância é, portanto, uma das formas de opressão de indivíduos em geral fragilizados por sua condição econômica, cultural, étnica, sexual e até mesmo por fatores etários e vai desde o desrespeito ao lugar do outro à desvalorização do indivíduo.

        Em contraponto a tantos movimentos em prol da conscientização e dos vários mecanismos de controle pelo governo, cresce em nós a consciência de que o discurso sobre igualdade nem sempre expressa plenamente nossa condição humana, que é marcada pela diversidade.

        O termo tolerância, que apareceu pela primeira vez entre os iluministas, surgiu em meio às lutas religiosas, aos massacres entre protestantes e católicos. Os livres pensadores viam-se discriminados e perseguidos por todos os fanatismos. E foram eles que mobilizaram a opinião pública contra os horrores da intolerância, proclamando o sagrado direito de discordar, de pensar diferente e de ser diferente.

"Não é a diversidade de opiniões, algo que não pode ser evitado, mas a recusa da tolerância com os que são de opinião diferente, o que deveria ser reconhecido, que tem produzido todas as batalhas e guerras que ocorrem no mundo cristão, sob o pretexto da religião.”
 LOCKE, Carta sobre a tolerância

        Também era comum que a tolerância designasse uma atitude de impunidade frente ao mal, o que poderia significar uma espécie de conivência ou aceitação de um erro. Quem era "tolerante" poderia ser acusado de indiferença religiosa, ou mesmo de subversão. Por outro lado, a intolerância designava uma virtude, uma espécie de integridade moral ou firmeza para com os preceitos morais.

        A questão é que a palavra persiste em sua carga negativa condizente com seu sentido original do século XVI: tolerar era sofrer, suportar pacientemente um mal necessário, como se tratasse de uma doença ou infecção. A tolerância, portanto, é associada a uma atitude antipática de não aceitação verdadeira e espontânea do outro, sendo interpretada como indulgência, falsa aceitação ou consentimento forçado.

        A verdadeira tolerância, porém, é humilde, mas convicta. Respeita as idéias e condutas dos demais, sem desprezá-las, mas também sem minimizar as diferenças, porque tem a certeza de que o respeito é indispensável para o dialogo e para criar clima necessário a uma colaboração no nível elevado dos grandes objetivos humanos.

        O reverso, a intolerância é uma atitude mental caracterizada pela falta de habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar diferenças em crenças e opiniões. Pode-se manifestar de muitas formas e pode conduzir a outras tantas consequências, desde a discriminação, ao preconceito, à marginalização de até um povo, de grupos congregados em torno de um objetivo comum, de pessoas.

        A intolerância e a violência são conceitos que acabam por se confundir no cotidiano, apesar de não serem idênticos

        A questão da intolerância está presente na esfera das relações humanas fundadas em sentimentos e crenças religiosas. É uma prática que se autojustifica em nome de Deus. A religião acaba por separar os homens em dois blocos: os adeptos e os outros. O proselitismo contribuiu para a proliferação dos confrontos religiosos. Os prosélitos julgam-se conhecedores da verdade absoluta e para eles os outros vivem na mentira e falsidade. Essa foi a justificativa para tantas “guerras santas”.

        Ocorre que essa intolerância ultrapassa a esfera religiosa e alcança a de etnia, de gênero, de orientação sexual, de capacidades físicas entre tantas outras.

.        Na visão que um indivíduo tem do outro, que para ele lhe seja diferente, a ideia que prevalece é a do afastamento, da segregação. Apesar de sermos identificados pela diferença, não sabemos lidar com ela.

        A intolerância faz com que o indivíduo veja seu diferente não como um ser humano concreto, mas como algo abstrato, ou seja, o 'estigma', ou a diferença hipostasiada. Assim, é comum referir-se a ele unicamente por sua diferença: um negro, um índio, um velho, uma mulher". A diferença substancializada incomoda o intolerante ante qualquer nível de argumentação racional a favor da dignidade humana ou de nossa fraternidade enquanto espécie comum.

        A violência, por sua vez é a intervenção com ato de brutalidade, abuso, agressividade, fundamentado numa ideologia. A violência é a dimensão prática da intolerância.

        A intolerância é, portanto, o agente impulsionador da violência. Apesar de se tratar de dois conceitos distintos, são subseqüentes. A primeira está ligada ao ato de julgar e a segunda a execução.

        Hannah Arendt ao pesquisar o nazismo percebeu que o mal não pode ser explicado como uma fatalidade, mas como uma possibilidade da liberdade humana. Para a pensadora, o mal é banal quando sua justificativa motivacional é inválida, sem profundidade, e incide sobre as massas. A banalidade, porém, para Arendt, não significa normalidade. O mal se torna banal, segundo a autora, porque os agentes são “superficiais” e suas vítimas são consideradas “supérfluas”, já que os atos de intolerância são praticados contra grupos minoritários e marginalizados.

        A intolerância, segundo especialistas em comportamento humano, segurança pública e direito, é a principal causa dos linchamentos que têm ocorrido em vários estados do Brasil. Para a pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo, Ariadne Natal, os espancamentos são fruto da combinação da percepção de Estado ineficiente, por parte da população, com uma tradição de desrespeito aos direitos humanos. A pesquisadora fala que há uma cultura de resolução de conflito por meio do emprego da violência.

        As motivações variam, mas partem da ideia de que algumas regras foram quebradas e, com isso, os suspeitos são alvo de ameaças ou de agressões físicas, que podem ter um desfecho fatal.  O linchamento tornou-se uma espécie de controle social, punição ou pena dada à pessoa acusada de cometer um crime, não necessariamente culpada, porque ali não tem uma investigação real, é com base em indícios momentâneos.

        Esquecem-se, porém, os linchadores que praticam ato criminoso que pode até mesmo ter como resultado infração mais grave que a daquele por eles condenados, tornando-os tanto ou mais criminosos do que o “penalizado”.

        São aprisionamentos, espancamentos coletivos e cenas bárbaras que já fizeram vítimas em quase todos os estados do país e que em alguns casos levaram até a morte.

        Uma questão de extrema relevância sobre a intolerância nos dias de hoje é a homofobia. O machismo ainda é predominante na cultura do país e estabelece um padrão homem-branco-adulto-heterossexual e faz com que essa intolerância caminhe para o caos que há muito tempo já vem trazendo sofrimento e desigualdade

        A maior parte dos homossexuais busca se esconder para evitar a perseguição gratuita e o martírio

        Embora haja um projeto de lei (PL 122\66) que criminaliza a homofobia esta continua aguardando votação no Senado enquanto a violência se perpetua. São mais de 200 assassinatos a homossexuais por ano no país e centenas de ocorrências.

        A igreja reforça esse problema ao convencer os fiéis que a homossexualidade é um dos principais problemas que assolam o país e é o mal da sociedade moderna, apesar de tantos problemas sociais que o país vem enfrentando e esse discurso ultrapassado só corrobora para que o Brasil seja colocado no ranking das nações menos evoluídas no que se refere a comunidade LGBTT.

        O Brasil é extremamente homofóbico e é necessário que os governantes dêem a esse tópico a devida atenção e punição por parte do Estado. A comunidade LGBTT busca a aplicação de um direito que é direcionado a toda a sociedade: a segurança

        Outra questão a ser mencionada sobre a intolerância da atualidade é o preconceito contra o nordestino, que tem estado em voga na nossa sociedade. Questões ligadas ao preconceito racial e de classe partem do próprio preconceito e conservadorismo de uma parte da população.

        Nas penúltimas eleições presidenciais, os nordestinos foram rotulados como “burros por natureza” por votarem na Dilma, embora os votos angariados no Nordeste tenham apenas ampliado sua vitória, já que Dilma venceria mesmo sem os votos do Nordeste.

        O fato de a maioria dos eleitores ter votado em Dilma foi contra os preceitos da ideologia dominante.

        Segundo essa classe dominante, o eleitor do Nordeste, que não está em uma situação econômica favorável e possui pensamentos condizentes com a ordem vigente não é digno de respeito. É como se apenas aqueles que se encaixam nos preceitos da cultura neoliberal ocidental fossem os únicos a possuírem autonomia e liberdade individual , ficando acima da solidariedade e da responsabilidade social, do dever de conviver com o diferente.

        

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