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Principais Afirmações Da Filosofia Das Luzes

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Por:   •  23/7/2013  •  9.002 Palavras (37 Páginas)  •  2.525 Visualizações

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O Iluminismo - Trevas na época das luzes

Ronaldo Mota

Introdução

O século XVIII é normalmente apresentado como a época do triunfo da razão. Pegando ao acaso um desses livros de história geral e lendo o tópico Iluminismo, encontramos coisas do tipo: “Os escritores franceses do século XVIII provocaram uma verdadeira revolução intelectual na história do pensamento moderno. Suas idéias caracterizavam-se pela importância que davam à razão: rejeitavam as tradições e procuravam uma explicação racional para todas as coisas.”.[1] Isso não é, entretanto, mais uma simplificação – para não dizer distorção – de manuais de divulgação, mas um reflexo grosseiro do que os principais autores dessa época afirmavam. Voltaire, por exemplo, afirmou que antes de Bacon ninguém conheceu a filosofia experimental. Ao lembrar-se, porém, das grandes descobertas científicas que foram feitas antes de Francis Bacon, apressou-se a declarar:

“foi na época da mais estúpida barbárie que essas grandes mudanças foram feitas sobre a Terra: só o acaso produziu quase todas essas invenções e parece que até mesmo o que se chama acaso participou muito da descoberta da América;”.[2]

Em seu panfleto O que é o Iluminismo?, Emmanuel Kant escreveu:

“O iluminismo é a libertação do homem de sua culpável incapacidade. A incapacidade significa a impossibilidade de servir-se de sua inteligência sem o direcionamento de outro. (...) Sapere aude! Tenha o valor de servir-te de tua própria razão! Eis aqui o lema do iluminismo.”[3]

Sabendo disso, não seria muito difícil imaginar como se construiu, com o passar do tempo, a idéia de uma época da razão em oposição à outra de barbárie e de trevas. Como lembra Paolo Rossi, um importante historiador da ciência, basta “ler o Discurso preliminar à grande Enciclopédia dos iluministas ou também o início do Discurso sobre as ciências e sobre as artes de Jean-Jacques Rousseau para ficar ciente de como circulava com força, desde meados do século XVIII, a definição de Idade Média como época obscura, ou como um ‘retrocesso para a barbárie’”.[4]

O que há de verdade nessa visão iluminista?

Paolo Rossi, apesar de ser um relativista admirador dos modernos, não hesitou em declarar que:

“Hoje sabemos que o mito da Idade Média, como época de barbárie, era, justamente, um mito, construído pela cultura dos humanistas e pelos pais fundadores da modernidade.”.[5]

A afirmação de P. Rossi é importante, visto que vem de um dos maiores historiadores da ciência atualmente.[6] Contudo, ela diz respeito apenas à metade do problema. P. Rossi esqueceu, como veremos nesse artigo, que iluministas e companhia não criaram apenas o mito da Idade das Trevas, mas também o mito do Século das Luzes.

I. Alguns mitos

Antes de analisarmos o Século das Luzes, é importante tratarmos de alguns mitos iluministas sobre a “ignorância” científica dos medievais.

É interessante notar que as críticas aos medievais oscilavam entre afirmações sutis e declarações grotescas. Chegou-se a dizer que na Idade Média não houve ciência; os homens daquela época não passavam de brutos e ignorantes. Depois, ao ficar evidente que afirmações como essas eram inverossímeis de mais, declarou-se que os medievais eram absolutamente submissos à autoridade dos antigos, e por isso seus conhecimentos científicos nunca ultrapassaram os dos gregos e romanos. Por fim, como se percebeu que era impossível afirmar que não houve desenvolvimento científico na Idade Média, passou-se a dizer que os medievais misturavam ciência e religião, acabando por obscurecer, com a teologia, o desenvolvimento da ciência.

Infelizmente, afirmações do tipo não são encontradas apenas em manuais escolares. O próprio P. Rossi, analisando o nascimento da ciência moderna, afirmou que: “o fato de se estabelecer com firmeza que a verdade das proposições não depende de modo algum da autoridade de quem as pronuncia e que não está ligada de forma nenhuma a uma ‘revelação ou iluminação’ qualquer acabou constituindo uma espécie de patrimônio ideal ao qual os europeus podem ainda hoje se referir como a um valor impreterível.”.[7] Ora, P. Rossi repete exatamente as duas últimas acusações que citamos.

Em vista disso, para tornarmos mais didática uma crítica desses mitos, faremos um pequeno índice dessas acusações:

1. Na Idade Média não havia ciência.

2. Antes de Francis Bacon não se conhecia a filosofia experimental. [8]

3. A ciência medieval baseava-se na autoridade.

4. Na Idade Média misturava-se confusamente teologia e ciência.

Quanto à primeira acusação, é evidente que alguém que lhe de crédito não possui nem sequer um conhecimento rudimentar de história. Neste caso, basta que a pessoa folheie qualquer manual de história da ciência, ainda que bem rapidamente, para que seu problema seja sanado. Quanto às demais acusações, separamos alguns textos do século XIII que serão, pela sua clareza e exatidão, suficientes para refutá-las.

Sobre a segunda acusação, basta lermos o que Sto. Alberto Magno (1193-1280) escreveu em um escrito sobre os meteoros, para constatarmos que ela baseia-se pouco na razão e muito na imaginação. De acordo com Sto. Alberto: “A prova pelos sentidos [isto é, a indução] é a mais segura no estudo da filosofia natural, e situa-se acima da teoria sem observação (Meteoros 3, tr. 1, c. 21).”.[9] Ou ainda, em sua obra De Animalibus, Sto. Alberto afirmou: “A experiência, através de repetidas observações, é a melhor mestra no estudo da natureza (Sobre os animais 1. c. 19).”.[10]

É difícil tornar mais evidente o erro da acusação. Porém, vale a pena lembrar que ela vai contra o simples fato de que os medievais sempre estudaram, em lógica, a indução, que nada mais é do que o processo de conhecimento pelo qual nós passamos, através da consideração suficiente

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