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Resumo de "Introdução a uma ciência pós-moderna" de Boaventura de Santos Sousa

Por:   •  28/12/2016  •  Trabalho acadêmico  •  1.571 Palavras (7 Páginas)  •  2.452 Visualizações

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O senso comum como conceito desenvolveu-se no séc. XVIII como um meio de auxílio da burguesia para se impor ao regime político da época e obter um lugar no poder, o que acabou por acontecer. No entanto, após isso passou a ser considerado um tipo de conhecimento leviano e falacioso.

Passados dois séculos, esta concepção manteve-se semelhante no geral, mas foi muito abordada e aprofundada por Gaston Bachelard. Segundo este, o senso comum opõe-se de forma absoluta à ciência, sendo uma forma de conhecimento altamente errónea e que deve ser descartada. É um conhecimento que aparenta ser evidente e que esclarece a consciência de certas questões e problemas instantaneamente.

De forma geral a ciência (ciências naturais e sociais) constrói-se, isto é, evolui, através de crises a que se sucedem três fases: Ruptura, Construção e Constatação. Porém, nas ciências sociais este processo é mais complicado de se concretizar porque o objecto de estudo é um ser complexo, que pensa e fala, capaz de mentir também, e que se considera previamente conhecedor das explicações para os fenómenos sociais, através do senso comum, e também porque o próprio cientista social é facilmente influenciado por ele, pois pô-lo de lado e tomar uma postura neutra é muito difícil, se não mesmo impossível na totalidade. A cedência ao senso comum representa um grande obstáculo epistemológico, dado que dela deriva uma relação imaginária do cientista com a ciência por se sustentar em falsas suposições. Isto só pode ser controlado com uma firme e constante vigilância epistemológica. Para que esta vigilância epistemológica exista é imprescindível que a comunidade científica tenha uma abertura que permita uma intercomunicação funcional e que esteja também altamente organizada para analisar cada ideia da forma mais objectiva possível.

Para que se inicie uma crise têm que se verificar dois acontecimentos. O primeiro, exposto por Kuhn, é a acumulação de crises dentro do paradigma em vigor, isto é, a acumulação de problemas sem solução. O segundo, que de certa forma deriva do primeiro, é que exista um ambiente social propício para que se possam começar a formular pensamentos que o paradigma emergente tenha impossibilitado até então. Esta crise dá, deste modo, origem a uma revolução científica ou uma ruptura epistemológica. Após isto, “o ato epistemológico mais importante é a ruptura com a ruptura epistemológica”. E para que esta segunda ruptura epistemológica aconteça nas ciências sociais, têm que se satisfazer também dois pressupostos, ambos desenvolvidos por Durkheim. Um designa-se por princípio da não-consciência, que visa a maior imparcialidade científica possível ao determinar que as explicações dos problemas e dos fenómenos sociais não podem ser investigadas do prisma das intenções pessoais dos cientistas para que não fiquem comprometidas com falsas conjecturas. O outro denomina-se princípio do primado das relações sociais, que afirma que as questões sociais têm origem apenas em factos sociais e não individuais, pois os factos individuais dependem muito do contexto histórico e social em que o indivíduo se encontra.

A ruptura epistemológica bachelardiana enquadra-se perfeitamente no paradigma da ciência moderna, mas se assim é, só faz sentido dentro do mesmo. Dentro de um paradigma que respeita religiosamente o modelo de racionalidade, que estuda um objecto a partir de um distanciamento entre este e o sujeito que o estuda, que desconfia do conhecimento imediato dado pelo que os sentidos podem compreender, que se reconhece como limitado na medida em que não tem pretensões de concluir nada que não consegue explicar de forma fundamentada e que tem por base uma linguagem clara e objectiva. Um paradigma geral, isento de crises, uma vez que admite previamente possíveis crises dentro dele mesmo, que se admita mutável, sem alterar as suas principais premissas, uma estrutura que não é fixa como os paradigmas anteriores. Quando se dá uma crise existe uma grande contradição de ideias. Segundo Boaventura Santos, a ciência moderna já se encontra em crise pois a discrepância de ideias defendidas por vários campos, entre os quais, o campo político, literário, científico e religioso corresponde ao segundo acontecimento necessário para que decorra uma crise.

Embora o paradigma se encontre em crise e se tenha iniciado a primeira ruptura epistemológica, não é aconselhável que se abandone por completo esta primeira epistemologia. Tal decisão poderia levar ao caos, pois esta, querendo ou não, é o único patamar que nos sustenta. Ainda que em crise, mantém a estabilidade social, o que tem que ser levado muito em conta, pois sem estabilidade não será possível criar um novo paradigma. A segunda ruptura epistemológica tem que ser relativizada tendo em conta o contexto prático. Embora as ciências naturais sempre tenham rejeitado vigorosamente o senso comum, nas ciências sociais não acontece o mesmo, por várias razões. Nem todas as ciências sociais consideram benévola essa rejeição. Existe também uma discordância na própria definição de senso comum e do seu efeito entre as diversas ciências sociais. E ainda, pelo facto de as teorias sociológicas virem a ser consideradas elas próprias senso comum pelas teorias seguintes, mesmo tendo as actuais combatido as teorias antecedentes sustentadas pelo senso comum. Apesar da concepção que tem sido feita acerca do senso comum ser muito depreciativa, não é completamente justo descrevê-lo como apenas negativo, porque este efectivamente orienta as acções do quotidiano. Apesar de ser infundamentado, não obedecer a um método específico e de não ser explicativo, pode ter efeitos positivos. Numa sociedade tão dividida em classes como esta, não deixa de ser injusto e conservador, mas simultaneamente não deixa de ter o seu papel na união e estabilidade social. Várias razões permitem concluir que não é inteiramente coerente contrastá-lo tão drasticamente à ciência. Uma delas é o facto de o senso comum muitas vezes conter

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