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A teoria dos Geossistemas: a busca pela compreensão da totalidade na Geografia

Por:   •  31/5/2016  •  Trabalho acadêmico  •  1.518 Palavras (7 Páginas)  •  980 Visualizações

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A teoria dos Geossistemas: a busca pela compreensão da totalidade na Geografia

“A paisagem não é a simples adição de elementos geográficos disparatados. É, em uma determinada porção do espaço, o resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em perpétua evolução. A dialética tipo-indivíduo é próprio fundamento do método de pesquisa." (BERTRAND, 2004, p. 141).

Considerações iniciais

Há quase cinqüenta anos, na extinta União Soviética, fora desenvolvido um método e referencial de análise que revolucionaria o campo físico-ambiental da Geografia, que tomava como fundamental o reconhecimento dos geossistemas como sistemas territoriais naturais, numa tentativa de responder a ânsia por articulações entre a Geografia Física-Humana, o todo estruturante na Geografia: a Teoria de Geossistemas.

A Teoria de Geossistemas surge como referencial teórico-metodológico de um esforço de teorização sobre o meio natural com suas estruturas e seus mecanismos. Em 1963, V. B. Sotchava, introduziu o termo geossistema para descrever a esfera físico-geográfica como um sistema, como forma de estudo de paisagens geográficas complexas. Ele a designou "Geographical Cover", classificando-a como geossistema de nível global. No entanto, é a escola francesa que deve-se a sua difusão no mundo ocidental, principalmente com Georges Bertrand (1968).

No Brasil, a teoria do Geossistema fora divulgada através dos Cadernos de Ciências da Terra nº. 13, publicação do artigo de Bertrand em 2004. Todavia, a teoria é introduzida na geografia por Carlos Augusto Figueiredo Monteiro, que “além de utilizá-la como referencial teórico, pode testá-la, incrementá-la e adaptá-la a algumas situações particulares de nosso território e ao próprio conhecimento territorial disponível” (RODRIGUES, 2001, p. 74); acaba configurando-se numa das reconstituições das experiências de teoria e método mais ricas que a geografia brasileira teve.

É necessário destacar que esta teoria segue forte inspiração da Escola Naturalista no século XIX, na figura do geógrafo von Humboldt e seus procedimentos metodológicos da observação e da descrição detalhada de campo. Contudo, o fundamento do enfoque geossistêmico é encontrado na "Teoria Geral dos Sistemas" de Von Bertalanffy, em 1901, e uma parte substancial de esforço na tentativa de aplicação de um paradigma sistêmico em Geografia Física pode ser encontrada nos estudos das paisagens.

Evitada pela Geografia Humana,

“[...] a teoria dos sistemas persiste até hoje como idéia precursora de uma série de referências ainda relevantes em Geografia Física. Desde a fase em que se inicia a valorização da mensuração, a incorporação definitiva da dimensão temporal, adotam-se modelagens e ampliam-se as experimentações e não se abandonam conceitos e referências dela originados”. (RODRIGUES, 2001, p. 72)

Fortemente marcada pelos pressupostos do positivismo, esta teoria encontra abrigo na Geografia, no campo da geografia física, sem o consenso de através de quem e quando[1]. Entretanto, segundo alguns autores, ela demarca um esforço na tentativa de busca pela compreensão da totalidade na Geografia.  

A teoria Geossistêmica: conceito e aplicações

Segundo Cleide Rodrigues (2001), para uma melhor compreensão dos elementos basilares da teoria gessistêmica é preciso reafirmar que ela faz parte de um conjunto de formulações ou tentativas teórico-metodológicas da Geografia Física, que tem sua gênese na “função da necessidade de a Geografia lidar com os princípios da interdisciplinaridade, síntese, com abordagem multiescalar e com a dinâmica, fundamentalmente, incluindo-se prognoses a respeito desta última” (RODRIGUES, op cit, p. 72).

Estas idéias ficam bastante claras a partir do momento que Sotchava considera o geossistema como muito mais que fenômenos naturais; são, também, fatores sociais e econômicos que se articulam na configuração/conformação da paisagem, ou como destaca Bertrand (2004), “não se trata somente da paisagem ‘natural’, mas da paisagem total integrando todas as implicações da ação antrópica” (p. 141). É preciso perceber, que a paisagem é um constructo também social, daí o Bertrand atribuir a dialética como uma ferramenta fundamental no entendimento da mesma.

Entretanto, destacará Sotchava (1977), que apesar dos fatores socioeconômicos modificarem um geossistema, “a noção sobre esse último não pode abranger a do sistema territorial/industrial” (SOTCHAVA, apud RODRIGUES, 2001, p. 73). Isso significa que não caberia uma análise essencialmente geográfica ao referido fenômeno? Rodrigues acredita que é justamente isso que o autor crera.  

Um dos primeiros princípios basilares da teoria dos geossistemas é a consideração da natureza como sistemas dinâmicos abertos e hierarquicamente organizados, passíveis de delimitação; não se subdividindo infinitamente visto que depende de um arranjo geográfico.

Um outro aspecto importante é o princípio da dinâmica,

“[...] pela qual é possível classificar os geossistemas de acordo com seu estado ou estados sucessivos, assim como é possível assumir ou propor hipóteses sobre sua dinâmica futura, característica fundamental para a aplicação ou para o planejamento”. (RODRIGUES, op cit, p. 73)

Bertrand (op cit), é que vai propor uma melhor sistematização, na tentativa de resolver problemas quanto à taxionomia, de tipologia e de cartografia das paisagens. Em seu esquema taxionômico ele inclui e posiciona as unidades inferiores, dentre as quais figuram o geossistema, o geofácies e o geótopo, conforme o quadro representado na figura 1.

[pic 1]

Figura 1 - Sistema de Classificação temporo-espacial da paisagem proposto por Bertrand (2004)

Nessa classificação a escala define-se no tempo e no espaço, delimitadas em unidades superiores e inferiores. Unidade superior refere-se às zonas, aos domínios ou às regiões naturais; as unidades inferiores, dentro da unidade das regiões naturais, destacam-se recortes menores, os geossistemas, os geofácies e os geótopos, anteriormente citados. Bertrand reafirma a importância da identificação dos geossistemas, por se situarem na 4ª, 5ª ou 6ª grandezas temporo-espaciais de Tricar & Cailleux (1956), escalas esta mais compatível com a humana, em que a dinâmica desses geossistemas, modificada ou não, poderia expressar a dinâmica e a complexidade social, portanto geográfica.

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