Perry Anderson - Linhagens do Estado Absolutista
Por: roman00f • 23/4/2017 • Resenha • 1.305 Palavras (6 Páginas) • 1.724 Visualizações
Linhagens do Estado Absolutista
- Monarquia Absolutista
 
- Engels: ''O absolutismo é um produto do equilíbrio entre a velha nobreza feudal e a nova burguesia urbana''
 
A respeito dessa frase podemos afirmar que a monarquia absolutista mantinha o equilíbrio entre as duas classes, adquirindo por vezes certa autonomia em relação a elas
- A classificação do absolutismo como um mecanismo de equilíbrio desemboca muitas vezes em uma designação desse Estado como um Estado tipicamente burguês
 
Engels - absolutismo como época em que a nobreza feudal percebeu que o seu período de dominação política e social chegara ao fim
Marx - as estruturas administrativas do absolutismo eram mecanismos tipicamente burgueses. Marx entendia que a burocracia era apenas um meio para preparar o domínio da classe burguesa
- O absolutismo introduziu:
 
. Exército permanente
. Burocracia permanente
. Sistema Fiscal nacional
. Codificação do direito
. Princípios do mercado unificado
Tais características aparentam ser essencialmente capitalistas e coincidiram com o desaparecimento da servidão. No entanto o fim da servidão não significou o fim das relações feudais no campo, isso porque enquanto o trabalho não foi separado das condições sociais de existência, ou seja, não se tornou força de trabalho, as relações rurais de produção permaneceram feudais. Em outras palavras, a transformação da renda em trabalho para renda em espécie não alterou a natureza da renda fundiária
Durante todo o primeiro período da idade moderna a classe dominante era a mesma do período medieval feudalista: nobreza. Portanto o estado absolutista era apenas um aparelho de dominação feudal alargado e reforçado destinado a manter os camponeses em seu papel tradicional
Perry Anderson vai discordar dessa perspectiva e vai afirmar que o Estado Absolutista era uma nova carapaça política de uma nobreza amedrontada, sendo portanto a nova forma política necessária à manutenção da dominação e exploração feudais no período de desenvolvimento de uma economia mercantil.
* corveia : trabalho não pago pelo qual não é recebido equivalente, sob a forma de um sobreproduto transformado em dinheiro
- Feudalismo
 
- modo de produção que se definia por uma unidade orgânica política e econômica distribuída por uma cadeia de soberanias recortadas que atravessava toda a formação social
 - com a gradual mudança de renda em trabalho para a renda em espécie ( trabalhos livres e contrato salarial), a unidade celular de opressão política e econômica dos camponeses (senhores) foi enfraquecida e o poder que neles residia foi transferido para a cúpula política (rei); ou seja; o poder político teve deslocamento ascendente para uma cúpula centralizada e militarizada a qual conhecemos como estado absolutista
 - a reorganização do sistema político feudal resultou no enfraquecimento da concepção medieval de vassalagem que funcionou em dois sentidos
 
1) a monarquia tinha novos e extraordinários poderes
2) a nobreza se via livre de restrições tradicionais
- os novos poderes que se encontravam à disposição da monarquia serviam até mesmo para controlar a própria nobreza
 - o absolutismo serviu como um mecanismo para o reforço da dominação da nobreza sobre os camponeses
 
- Burguesia Mercantil
 
- Perry Anderson também defende que o desenvolvimento da economia mercantil foi possível graças à libertação do modo de produção feudal do domínio das classes dirigentes
 - considera que a condição de existência das cidades era exatamente a destotalização da soberania dentro da ordem político-econômica do feudalismo
 - Foi precisamente o desenvolvimento dessa economia que por sua vez gerou a burguesia mercantil que impediu que a nobreza controlasse diretamente, derrotando a resistência camponesa
 
- Avanços técnicos
 
- invenção dos tipos móveis
 - canhão de bronze fundido, deu à pólvora protagonismo na arte da guerra
 - construção do galeão de três mastros com leme à popa
 
- As novas monarquias absolutistas surgiram em decorrência do caos e turbulência feudais devido à Guerra das Duas Rosas, Guerra dos Cem Anos e pela II Guerra Civil de Castela
 - Formação do absolutismo
 
- marcado pela reagrupação feudal contra o campesinato
 - caracterizado pela ascensão de uma burguesia urbana que foi desenvolvendo manufaturas pré-industriais em escala considerável
 - a ordem política permanecia feudal enquanto a ordem econômica passava a ser comandada cada vez mais pela burguesia urbana em ascensão
 - reflorescimento do direito romano, para atender às necessidades das duas classes cujo nível e poder desiguais marcavam fortemente as estruturas do Estado Absolutista.
 
A retomada do direito romano foi importante para o crescimento do capital livre tanto na cidade quanto no campo, isso porque uma característica marcante do direito romano era sua concepção da propriedade privada absoluta e incondicional.
A aceitação do direito romano na Europa Renascentista era um sinal da difusão das relações capitalistas nas cidades e no campo visto que economicamente ela correspondia aos interesses essenciais da burguesia comercial e manufatureira
'paradoxo' do direito romano: o caráter juridicamente incondicional da propriedade privada encontrava seu equivalente contraditório na natureza formalmente absoluta da soberania imperial. Ou seja, o ressurgimento das noções de propriedade privada promovia o crescimento geral da troca de mercadorias nas economias de transição da época, ao passo que o florescimento das prerrogativas autoritárias consolidava a concentração de poder de classe aristocrática
- a ideia de que os reis e príncipes eram isentos de restrições legais proporcionou os protocolos jurídicos para esmagamento dos privilégios medievais o que significava dizer que podia-se subordinar as imunidades privadas. para além disso, tais monarquias confiaram num estrato qualificado de juristas para cuidar da administração
 
- Exército profissional
 
- Diferentemente do estado burguês moderno o exército era formado majoritariamente por mercenários estrangeiros, não por uma força nacional de recrutas
 - a escolha por mercenários era muito clara visto que a aristocracia sabia que não era possível armar a população e mantê-la sob controle ao mesmo tempo
 - guerra como modo mais racional e rápido de expansão e extração de excedentes visto que com a conquista territorial a produtividade agrícola e o volume de comércio aumentaram maciçamente
 - a nobreza era uma classe proprietária de terras cuja profissão era a guerra, ou seja, sua vocação social estava intimamente ligada à sua posição econômica. maquiavel afirmava que um príncipe deveria ter seu foco e sua especialidade na guerra pois esta seria a única arte própria daqueles que comandam
 - O Estado absolutista como máquina de guerra se afirma nas suas estruturas íntimas, visto que um dos primeiros impostos a serem cobrados serviam para financiar as primeiras unidades militares regulares
 
- Integração no aparelho estatal
 
- a forma mais comum de integração da nobreza feudal no estado absolutista consistia na compra de ofícios
 - os gastos feitos com a compra desses cargos poderiam ser 'reembolsados' através do abuso de privilégios e da corrupção
 - tal medida é um claro sinal da monetarização das economias modernas, além de sinal da relativa ascensão da burguesia mercantil e manufatureira
 - a burocracia absolutista tanto registrou a ascensão do capital mercantil como a impediu visto que a nobreza constituía sempre o tipo da hierarquia social
 
- Tributos
 
- a classe notadamente mais afetada pela tributação régia era a dos camponeses
 - tamanha tributação foi um dos principais fatores para os levantamentos camponeses
 
- Mercantilismo
 
- doutrina dominante que visava a remoção das barreiras internas com o objetivo de formar um mercado unificado para a produção de mercadorias
 - balança comercial favorável - mais exportação, menos importação
 - metalismo - acúmulo de metais preciosos
 - criação de manufaturas régias e guildas controladas pelo Estado
 - o mercantilismo contava com forte intervenção do estado visto que os estados mais ricos e consolidados impunham rígidas regras para proteger seus interesses; o consumo interno era regulado por medidas protecionistas, além do desenvolvimento de indústrias nacionais (manufaturas e guildas)
 - a teoria mercantilista era intensamente belicista visto que acentuava a necessidade e a rentabilidade da guerra ao passo que o objetivo de uma economia forte consistia no desenvolvimento de uma política estrangeira de conquista
 - a centralização econômica, o protecionismo, a expansão ultramarina engrandeceram o estado feudal, mas também beneficiaram a burguesia em ascensão
 - o estado absolutista era baseado na supremacia social da aristocracia e limitado pelos imperativos da propriedade fundiária
 
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