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A COLONIZAÇÃO DO EXTREMO OESTE CATARINENSE

Por:   •  13/4/2018  •  Trabalho acadêmico  •  7.014 Palavras (29 Páginas)  •  324 Visualizações

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COLONIZAÇÃO DO EXTREMO OESTE CATARINENSE: Contribuições para a história campesina da América Latina

Paulo Ricardo Bavaresco

Doutorando em Ciências Sociais pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS e Professor na Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC. Campus de São Miguel do Oeste. Santa Catarina. Brasil.  paulo@unoescsmo.edu.br 

Resumo

A colonização do Extremo Oeste de Santa Catarina, região fronteiriça entre Brasil e Argentina, está marcada pelo empenho na conquista de suas fronteiras e pelo interesse da sua exploração econômica por meio das frentes de colonização, visando à riqueza de suas terras. Através da história da ocupação e colonização, observamos a cultura dos atores e as relações sociais durante os quatro ciclos econômicos: Pecuária, Erva Mate, Madeira e Agroindustrial, que ali se configuraram. Dessa forma, é possível chegar a uma visão realista da questão agrícola no Brasil, quando a opção nacional se faz por um modelo de produção agrícola equilibrado entre a grande agricultura de exportação e a proposta de incentivo à agricultura familiar.  

Palavras-chave: Ciclos Econômicos, Desenvolvimento Regional, Extremo Oeste, Paisagem, Região.

Abstract

The colonization of the Extreme West of Santa Catarina, bordering land between Brazil and Argentina, is marked by effort on acquisition of their borders and by interest of their economic exploration by the colonist, aimed at wealth of their lands. Through the history of the occupation and colonization, we can notice the culture of the actors and the social relations during the four economic cycles: Cattle, Herb Maté, Wood and Agroindustrial, that there was configured. So, is possible come a realist vision of the brazilian agricultural question, when the nacional option is make by a model of well-balanced agricultural production between the big agriculture of exportation and the proposal of incentive to the familiar agriculture.

Key-words: Economic Cycles, Regional Development, Extreme West, Scenery, Region.

1 As Questões Fronteiriças e o Ciclo da Pecuária

No histórico da disputa por terras, pelo Tratado de Madri de 1750, Portugal e Espanha deveriam definir os limites na região das Missões. Em 1759, comissários por parte dos Reis de Portugal e Espanha, exploraram a região e tomaram o rio Peperi-Guaçu como marco divisor entre as duas coroas. No Tratado de Santo Ildefonso, em 1881, os argentinos interpretaram que os rios que limitavam os dois países eram os rios Chapecó e Chopim, enquanto que os brasileiros entendiam como divisa os rios Peperi-Guaçu e Santo Antônio.

Apesar do Tratado de Santo Ildefonso, a questão dos limites entre os países permanecia indefinida. Foi somente no final do século XIX que Brasil e Argentina resolveram a questão dos limites territoriais, tempo suficiente para que o governo brasileiro enviasse expedições para lá a fim de expulsar o “gentio” e iniciar o povoamento da região, garantindo, assim, através da política do uti possidetis, o domínio sobre os referidos campos. A “Questão de Missiones”, como ficou conhecida pelos argentinos e “Questão de Palmas” para os brasileiros, foi resolvida em 1895, sob arbítrio do presidente dos Estados Unidos da América, Grover Cleveland.          

Resolvidos os conflitos externos entre Brasil e Argentina, restava, então, a demarcação interna dos territórios. A disputa do território se acirrou sobre aquela área, atual Estado de Santa Catarina, quando o Paraná se dizia herdeiro da questão com São Paulo. Os paranaenses alegavam a descoberta e ocupação dos Campos de Palmas e, para garantir a posse sobre o território, instalaram uma estação fiscal no Chapecó, objetivando controlar o trânsito do gado sulino, que era destinado às feiras em São Paulo.

No ano de 1901, após muitos conflitos e tentativas de acertos dos limites, o governo do Estado de Santa Catarina entrou em juízo contra o Estado do Paraná, reclamando a posse da terra. Em 1904, o Supremo Tribunal Federal deu ganho de causa a Santa Catarina e, em 1910, novamente, o Supremo Tribunal Federal confirmou a decisão anterior.

A riqueza da mata de araucárias, a abundância de erva-mate e os Campos de Palmas ótimos para a criação de gado, moveram uma das mais acirradas disputas no Oeste Catarinense. A disputa com a Argentina demonstra a expansão territorial que ocorria no século XIX, e o longo período de disputa com o Paraná reflete a busca das riquezas naturais para o desenvolvimento econômico dos estados brasileiros.

Por causa da indefinição quanto à demarcação dos limites nacionais na questão entre Brasil e a Argentina, a geopolítica portuguesa tinha como estratégia o envio de bandeiras para ocupação dos campos. Junto às bandeiras seguiam alguns fazendeiros para estabelecer suas possessões nos Campos de Palmas. Porém, outros seguiram em frente, mais para Oeste, fixando-se em Campo Erê. Conforme ia se consolidando a ocupação dos campos, melhorava-se também os meios de comunicação e de trânsito. Aliás, havia grande preocupação do Império em abrir estradas que ligassem as missões no Rio Grande do Sul ao comércio com São Paulo. O gado do Rio Grande do Sul era fonte de alimento muito importante para a região aurífera.    

A implantação de fazendas atraía diversas famílias, pois como garantia de ocupação da área, o Império distribuía concessões de terras aos fazendeiros que quisessem se estabelecer nos campos. Também não havia necessidade de grandes investimentos para a criação de gado. Outra razão é que existe o conceito de que os campos não podem ser cultivados [...] seu solo é pobre demais para a agricultura (WAIBEL, 1949, p. 199).

O ciclo da pecuária foi importante na ocupação da área, ao contribuir para o surgimento de povoações e novas rotas de deslocamento de tropas com destino a São Paulo.  Porém, o desenvolvimento verificado nesse período, resume-se em pequenos povoados, enquanto que, as terras das quais as famílias se apropriavam eram de grandes extensões, inaugurando o império dos latifúndios. Segundo Waibel sobre o pequeno número de colonizadores nos campos: A ausência de árvores era considerada como significativa de que eles eram inférteis. Para o lavrador, os prados com sua relva coriácea e de raízes entrelaçadas constituíam um problema novo e desconhecido no seu conjunto (WAIBEL, 1949, p. 52)

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