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A Nova abordagem historiográfica sobre a questão indígena

Por:   •  16/1/2018  •  Ensaio  •  1.865 Palavras (8 Páginas)  •  539 Visualizações

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A nova abordagem historiográfica da questão indígena: desconstruindo séculos de estereótipos, uma luta constante.

                                                                                                           

A abordagem historiográfica até recentemente colocava as populações indígenas em estado primitivo de “evolução”, reforçando e colocando o indígena numa posição inferior e decadente. Essas visões dos povos nativos que são verdadeiramente os donos por direito natural de todo o território “descoberto”, fundamentaram a colonização e dizimação de diversas etnias indígenas, e o processo “civilizador” da colonização foi exaltado durante um longo período da historiografia que diz respeito à formação do Brasil da perspectiva colonialista e expansionista.

“Pero de Magalhães Gândavo, no seu Tratado da terra do Brasil, escrito no final do século XVI, constrói uma imagem terrível de seus primeiros habitantes, que segundo ele, seriam desumanos e viviam como animais, sem ordem nem sociedade” (LEONARDI, 1996) está visão é uma das muitas visões etnocêntricas e colonialista lançado aos nativos do Brasil, estereotipando o indígena. Essas perspectivas tinham (e tem) caráter homogeneizador, não considerando as especificidades de cada povo, com suas tradições, sua história e seus modos de vida: as populações indígenas foram consideradas bárbaras, primitivas, bestas, desprovidos de razão e sem história (idem). Tais perspectivas eram comumente transmitidas à Europa através das crônicas de viajantes e de missionários, este segundo era enviado para catequizar os indígenas, numa manobra para conseguir mão de obra para os interesses dos colonizadores e novos cristãos para a igreja católica.

O padre João Daniel em suas crônicas ilustrou bem a visão que os colonizadores tinham das práticas culturais indígenas, e de como o colonizador ou o missionário deveria lhe dar com o nativo: “é mais útil o rigor do que a brandura, por obrar mais neles o medo que o respeito, o pau que a retórica, o castigo que o disfarce.” (DANIEL, 2004) na perspectiva de João Daniel, o colonizador não deve manter um contato brando, e sim impor suas exigências, pois só assim ele coagira o indígena a fazer o que ele deseja. João Daniel continua a relatar em suas crônicas o total estereótipo do índio: ingrato, bárbaro, preguiçoso e perigoso. O tal cronista nos revela admiração e curiosidade em relação às práticas de cura dos indígenas, o seu saber prático que foi adquirido em várias gerações e passadas oralmente através das gerações posteriores. Relatando o cronista que indagava os índios sobre esses saberes, eles não contavam para os padres como eles faziam as curas eram saberes próprios dessas populações, uma medicina totalmente natural.

  Gagliardi argumenta que nas três primeiras décadas de “descobrimento” não foi delegada muita atenção por parte do governo lusitano para o Brasil. Mas, com as novas facetas da economia mundial e política, em que Portugal perde o monopólio de comércio com as Índias, volta sua atenção para o Brasil, assim eles dividem o território brasileiro e os distribuem aos seus partidários ou cortesãos (GAGLIARDI, 1989). Os colonizadores destacados pela coroa portuguesa para ocupar o território brasileiro tinham total autonomia para fazer o que quisessem com a terra e seus habitantes, a única obrigação era a de pagar um tributo para a coroa. Gagliardi não se aprofunda na escravidão indígena, mas adentra nesse assunto e relacionando as considerações acerca das primeiras décadas de colonização com Victor Leonardi que diz: “(...) a escravização dos indígenas que habitavam o atual território brasileiro, muito antes da chegada dos primeiros europeus e dos primeiros escravos africanos (...)” (LEONARDI, 1996) o autor atenta para o fato de que a força de trabalho indígena também foi escravizada, e foi amenizada em algumas regiões do Brasil pela inserção do negro, mas nunca deixou de existir nos dois séculos seguintes, principalmente na região norte.

Glagiardi afirma que:

Paralelamente à prática de preação, o indígena foi assediado por um outro tipo de guerra desenvolvida principalmente pelos padres, preocupados com a propagação dos dogmas religiosos. Essa prática de inculcação ideológica visava despojar o índio dos seus traços culturais peculiares, a fim de transformá-lo num trabalhador braçal, com mentalidade do homem ocidental” (GAGLIARDI, 1989, pág 28)

Com o reestabelecimento do tráfico transatlântico de escravos foram progressivamente sendo substituídos pela mão de obra escrava africana, entretanto, os índios não escaparam do proselitismo dos padres, e da imposição de seus valores cristãos ocidentais, forçando os mesmos a se converterem, ou serem dizimados como pagãos. Esse processo de imposição cultural do opressor, para os oprimidos, ficará marcado na historiografia brasileira como indicador de aculturação por parte dos indígenas e até de perda de identidade.  

Gagliardi continua com as Reformas Pombalinas, nesse contexto havia o conflito entre os colonos que defendiam o uso da mão de obra indígena e dos religiosos que queriam a segregação total das populações que estivessem sob seu controle (idem). Com sua política assimilacionista incentivou o casamento inter-racial, consolidou por decreto a liberdade do indígena e preocupou-se com a educação e liberdade do indígena visando legitimação do território brasileiro e acabar com a desagregação interna (GAGLIARDI, 1989, PP, 29), após a morte de D. José I, Pombal perdeu o cargo de ministro e sua política indigenista abolida. O autor mostra a política indigenista no Brasil Imperial, nos trás o projeto de José Bonifácio no qual admite que o indígena pode ser integrado a sociedade de forma pacifica, para isso, o estado deveria se relacionar com as populações indígenas a partir de quatro princípios básicos: justiça, brandura, constância e sofrimento, mas esses “princípios” estavam todos fundamentados em valores que não são indígenas, uma imposição de valores europeus para a “civilidade” do índio, o fator alteridade foi totalmente dispensado da ideia de Bonifácio, apesar de sua –acredito eu- boa vontade, o índio teria de se adequar a normas sociais que seriam estranhas a sua natureza, os povos indígenas, cada qual com sua especificidade já tinham os seus próprios valores, os quais muitas dessas política, e esse problema é observado até os dias atuais, se  mostraram insuficientes ao meu ver. Uma política que adéqua e transforma o indígena em um cidadão, para poder desfrutar de seus “direitos” é um tanto quanto paradoxal para esses povos, eles eram livres antes do contato com o branco, tinham seus regimentos específicos de sociedade e seus próprios princípios, os seus verdadeiros princípios, não estes que tentam, desde 21 de março de 1500, empurrar em suas cabeças.

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