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As Sagas Islandesas: Legado e Identidade Étnica

Por:   •  15/5/2018  •  Resenha  •  1.828 Palavras (8 Páginas)  •  152 Visualizações

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL

ESCOLA DE DIREITO

Lucas Barbieri Scalzilli

As Sagas Islandesas: Legado e Identidade Étnica

Porto Alegre

2017

Resumo: O artigo apresenta ligações entre as Sagas Islandesas e a identidade étnica da Escandinávia, assim como reflexões sobre sua história e legado durante período medieval que se relacionem com as sagas.

Palavras Chave: Medieval, Escandinávia, Literatura, Sagas Islandesas, Identidade Escandinava.

Existiu um período chamado de Era Viking que durou aproximadamente dos anos 874 até meados de 1030. A Escandinávia durante este período começa a aparecer para o resto da Europa. Os nortenhos fizeram um grande movimento de expansão, atacando com veemência o território inglês e navegando até terras que depois viriam a ser a Rússia, Groelândia e Islândia.[1]

A tradição histórica diz que a “Era Viking” se iniciou com o saque ao mosteiro de Lindisfarne em 793 e se encerrou em 1066 quando o rei da Inglaterra, Haroldo, derrotou um grande grupo de nortenhos sobre o comando do norueguês Haraldr Harðráði.[2]

        

Lembrar-se-á, porém, o quão estranha é essa idéia que se popularizou no período e que até hoje está entranhada no imaginário popular. O viking se confunde com um pirata quando aproximado da tradução original, porém, em nossa época pós-romântica, muitas vezes é usado coloquialmente para todo habitante da Escandinávia. Não existe algo como uma etnia viking ou uma religião viking ou construções vikings. O que mais perto chegaria de satisfatório para a nomeclatura deste período talvez fosse Era Norse (diferente de Nordic, mas com diferenciação inexistente no latim para o termo).[3] 

“Escandinavos são uma ficção geopolítica sem sangue. Não existe qualquer palavra satisfatória para este povo nessa época [i. e. era Viking], (…). Eles eram todos falantes de línguas com parentesco próximo que são agora classificadas como a família de línguas nórdica antiga, e assim se qualificam, em teoria, como uma “comunidade de fala”; eles podiam lutar sem intérpretes. Pelo séc. X, a versificação num dialeto islandês-nórdico ocidental era uma habilidade digna de audiências de Dublin a Novgorod, se não mais distantes, mas tratava-se de cortejos recrutados de locais distantes, receptivos a novas palavras e sotaques estranhos, menos conectados por língua materna do que outros. A versão mais tardia de islandês antigo tornou-se o meio para uma grande literatura na qual todos os povos nórdicos são, de fato, unidos por uma tradição, mitologia, religião e ética comuns; mas isso era uma convenção literária, mais eloquente da Islândia do séc. XIII que da era Viking. Assim o problema permanence, e a palavra Norse sera usada para o povo e Nordic para a cultura, na falta de algo melhor. Em todo caso, o plano é desvincular essas populações dos princípios organizacionais que são frequentemente aplicados a elas: o continuum germânico, a mitologia do Norte, a formação de estados/identidade étnica/urbanização, civilização Viking e assim por diante, com o rangente zeppelin da europeização pairando sobre as cabeças. Uma terminologia étnica confusa será fiel a esse propósito.”[4]

 As Íslendingasögur (Sagas Islandesa) são narrativas que nos contam as histórias das principais linhagens do medievo Islandês durante a Era Viking. Foram produzidas de 1150 a 1350. Vale ressaltar, que, além da Islândia, também se passam na Noruega, Groelândia e em menor grau em território inglês. A narrativa possui estilo rápido e é imbuída de clareza ímpar se diferenciando por completo de outros gêneros, exceto talvez das epopéias gregas com as quais possui várias semelhanças. [5]

Uma saga não é uma lenda, conto, texto poético,épico, texto religioso.[6]

        

As sagas mais do que histórias heróicas de bravura tinham papel de criar e manter uma identidade nacional. Unificavam cultura e povos daqueles que tinham colonizado a Islândia, quais, mesmo que vistos pelos ingleses como todos iguais – “homens do norte” (northman) - possuíam visões de mundo e culturas diversas. Representavam as lendas, acontecimentos históricos, e, muito mais profundamente, as visões de mundo e os maneirismos incrustados naqueles falantes do nórdico-antigo. Inspiraram a existência do que hoje se vê como cultura germânica em suas mais profundas e antigas raízes, criando vários ideais e mitos que ressoam idolátricos até os dias de hoje.

        As Íslendingasögur possuíam temas diversos: temas legendários (fornaldarsögur), temas de reis (konungasögur), temas sobre famílias (íslendingasögur), temas contemporâneos (sturlunga saga), temas de bispos (biskupasögur), temas de cavalaria (lygisögur). [7]

        A Islândia teria sido colonizada por questões de escassez de terra ou em razão das políticas que iam de encontro com a propriedade local do rei norueguês Haraldr. Fazendeiros aristocratas com suas famílias e escravos se mudaram para a ilha que até então era povoada por irlandeses e escoceses.

        O Íslendingabók de Ari Þorgilson nos conta sobre a conversão dos vikings pagãos ao cristianismo europeu e pela primeira vez traz a idéia do “Islandês” como um povo próprio, daí a importância para a consciência de uma nacionalidade que se diferenciasse do norueguês (seu principal colonizador). Transcendendo a importância à Islândia, mais tarde serviu de legado de algo que fosse uma consciência e cultura nórdica.[8]

        Além de todo aspecto rico em historicidade, tanto no tempo em que as próprias histórias se passam (pré-cristianismo) tanto pelo que acabamos absorvendo pelas diversas características próprias que acompanharam a sua escrita (cristianismo), temos um aprendizado subjetivo sobre a identidade, de, transcendendo o Islandês, do escandinavo em si. [9]

As histórias tratam de indivíduos heróis dentro do alinhamento do que era mais apreciado no mundo nórdico, diga-se de passagem, de valores não consonantes ao mundo cristão. Os personagens eram guiados por um senso de honra e orgulho em todas suas jornadas. A maioria das aventuras começa com algum tipo de atentado a estes sensos do personagem ou de sua família, pois, uma vida sem honra não seria digna e o maior de todos os valores seria uma reputação honrável. Todo esse cerne moral teria na palavra drengskapur o resumo de toda sua substância. Drengur (algo que poderia ser traduzido como hombridade de maneira subjetiva) seria a excelência das características dos heróis das sagas e poderia estar presente tanto em homens quanto em mulheres. Os personagens estão longe de ideais romantizados, sendo praticamente um contraponto a estes ideias que depois inundariam os contos cristãos, porém não nos fica óbvio qual seria o linear moral da história, pagão ou cristão. As histórias vieram de tradição oral de tempos pagãos, com personagens pagãos, tais quais com moral pagã, porém seus destinos muitas vezes trágicos por conseqüência de suas vaidades e orgulho carniceiro nos fazem questionar se àqueles que escreveram as histórias, já em tempos cristianizados feudais, não teriam dado um linear-história cristão.[10]

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