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Estrada de Ferro Caminho das Águas – EFCA Ipatinga/MG

Por:   •  3/11/2015  •  Trabalho acadêmico  •  2.090 Palavras (9 Páginas)  •  645 Visualizações

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Estrada de Ferro Caminho das Águas – EFCA

Ipatinga/MG

Um Caso de Paixão pela Preservação Ferroviária

Depoimento e Dados Coletados por José Mauro Cardoso de Oliveira

Primórdios

A história da EFCA tem como peça fundamental a locomotiva nº 4 da Usina de Açúcar Pureza, em São Fidelis, no norte do Estado do Rio de Janeiro. Esta usina tinha como meio de transporte de cana uma pequena ferrovia, com quatro locomotivas a vapor e uma diesel mecânica pequena, com uma característica pouco comum que é a bitola de 80 cm. No final da década de 70, os proprietários da usina resolveram transportar sua produção de cana através de tratores e caminhões, decretando, assim, o fim da ferrovia e a venda do seu material, quase todo de origem alemã.

        Meu pai soube da venda da sucata da ferrovia através de um amigo e logo me comunicou o fato, sabedor que era da minha intenção de preservar uma locomotiva a vapor. Assim que tirei férias na USIMINAS S/A em 1978, fomos até a Usina Pureza para verificar a possibilidade de se adquirir uma de suas locomotivas, que foram colocadas à venda. Lá chegando, fomos informados pelo chefe do escritório que no mês anterior fora vendida para a Prefeitura de Conceição da Barra – ES a locomotiva nº 2, Oreinstein & Kopel, nº de série 11582 de 1928, da Alemanha. Sabendo de minha intenção, esse senhor lamentou, dizendo que essa seria a locomotiva apropriada, pois era de pequeno porte, de fácil manuseio, e que restava somente na usina a locomotiva nº4, muito grande e pesada. Imaginei logo que se tratava de uma locomotiva semelhante às gigantes Mikado da Estrada de Ferro Leopoldina, que pesavam aproximadamente 98 toneladas. Assim mesmo insisti em vê-la, somente para aproveitar a oportunidade da visita. Qual foi a minha surpresa? Lá estava a nº 4, Arn Jung, nº de série 7407, de 1937, também alemã, de apenas 18 toneladas! Imediatamente percebi que aquela máquina me serviria amplamente. Porém nem me dei conta, no momento, de que ela não era de bitola de 1,0 m como seria desejável, já que a maioria das ferrovias brasileiras era dessa bitola. Entrei em negociação com os proprietários da usina e firmei um protocolo de intenção para adquirir a locomotiva nº 4 no ano seguinte, pois eles precisariam dela para retirar os trilhos e materiais da ferrovia desativada. Logo depois fizemos, com amigos ferroviários, algumas visitas técnicas para verificar a máquina em funcionamento e aprender um pouco da sua operação com seu maquinista. No mesmo ano de 1978 completei o processo de compra do equipamento, juntamente com trilhos, dormentes, ferramentas e ferragens. Adquiri também o terreno para construir um abrigo e a nova ferrovia para que pudéssemos iniciar efetivamente sua preservação e uso. Em janeiro de 1979 transportamos a nossa locomotiva para a sua nova casa em Além Paraíba – MG, onde ela permaneceu em nossa propriedade sendo devidamente preservada por 20 anos, na pequena linha férrea com trilhos TR15, de 250 metros aproximadamente.

 

 A Ferrovia Caminho das Águas

A Prefeitura Municipal de Ipatinga, nos idos de 1999, tencionava incrementar o Parque Ipanema, planejado pelo paisagista de fama internacional, Roberto Burle Marx, interligando-o com o Novo Centro e, ao mesmo tempo, resgatar e preservar a cultura e história da cidade, que nasceu à beira da Estrada de Ferro Vitória a Minas, criando opções para diversificar seu potencial turístico, ampliando as áreas de lazer da população.

          Fui consultado sobre a possibilidade de trazer de Além Paraíba para Ipatinga a locomotiva para tracionar trens na futura ferrovia a ser construída no Parque Ipanema. Após negociações com a prefeitura, firmamos um contrato de comodato para cessão gratuita e operacional da máquina. Com a locomotiva disponível, a prefeitura iniciou a construção da linha férrea, estação, oficina, dois giradores e dois carros de passageiros.

        Essa locomotiva a vapor, importada da Alemanha pela Usina de Açúcar Pureza, tem uma fornalha adequada para a queima de lenha e bagaço de cana, conforme especificação do fabricante. A chaminé tipo balão evita o risco de incêndio na vegetação do entorno, podendo queimar galhos e lenha resultantes da poda de árvores da cidade.

        Para a construção dos dois carros de passageiros estilizados foram fornecidos, pela Associação Brasileira de Preservação Ferroviária – ABPF, quatro truques na referida bitola. Contando com o apoio de sua equipe técnica a Prefeitura de Ipatinga construiu os carros de passageiros em suas próprias oficinas de serralheria e carpintaria, contratando o ferroviário aposentado da RFFSA, Sr. José Carlos Faria, de Além Paraíba/MG, para projetar e coordenar a execução. Cada carro tem capacidade para acomodar 34 passageiros sentados, num percurso onde pode ser vista e apreciada a natureza.

A Construção da Estrada de Ferro

Construída na rara bitola de 80 cm, possui 2,6 km de extensão, rampa máxima de 1% no Km 0,4 e 0,5 , raio mínimo de curva de 60 metros no Km 1,1 e trilhos TR 37 usados, adquiridos da Ferrovia Centro Atlântica – FCA, bem como AMV’s, pregos, placas, tirefões e talas de junção. A estrada de ferro foi construída em 60 dias e, tanto em seu projeto como execução, respeitaram-se os critérios das normas ambientais. Além do uso da escória de aciaria como lastro, a mesma usada na Estrada de Ferro Vitória a Minas; foram utilizados dormentes de eucalipto tratado, madeira oriunda de plantação de manejo sustentável. Os dois giradores instalados nas extremidades da ferrovia foram construídos em Ipatinga e medem 10 metros de diâmetro. Esse equipamento é de suma importância para a segurança da operação, uma vez que em uso não há necessidade de trafegar com a locomotiva em recuo. Poucas estradas possuem esse equipamento, inclusive a própria ABPF adquiriu semelhantes há poucos anos atrás.

        É importante observar que o traçado da linha férrea é quase todo dentro do espaço do Parque Ipanema e o nome “Caminho das Águas” foi dado devido a mesma estar margeando o Ribeirão Ipanema, principal curso d’água que corta a cidade, afluente do Rio Doce.

A Construção da Oficina e Estação

        A arquitetura da Estação Ferroviária Pouso de Água Limpa e da Oficina foi inspirada , na parte externa, nas estações ferroviárias do interior de Minas Gerais e o seu nome teve origem no próprio nome da cidade que, no idioma Tupi I+PA+TINGA, significa Pouso de Água Limpa.

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