Expressões Do Nacionalismo Na Cultura Brasileira
Por: Caroline Ferreira da Silva • 22/7/2025 • Resenha • 2.364 Palavras (10 Páginas) • 7 Visualizações
Resenha
Texto: A militarização da infância: Expressões do nacionalismo na cultura brasileira. Publicado na revista Cedes, ano XX, nº52, novembro/2000.
Autora: Fátima Maria Neves.
Aluna: Caroline Ferreira da Silva
Disciplina: História da Educação
Curso: Artes Visuais – Licenciatura
Termo: 6º
RA: 151032416
O texto submetido à resenha foi “A militarização da infância: Expressões do nacionalismo na cultura brasileira”, de autoria da professora Fátima Maria Neves, e apresenta os primeiros resultados de uma pesquisa histórica sobre a cultura escolar, no contexto das escolas primárias paulistas, no período de 1892-1968, tanto no aspecto curricular quanto nas práticas denominadas civico-patrióticas, como a criação de batalhões infantis, grupos de escotismo e celebrações cívicas. As fontes manuscritas que serviram de base para o trabalho da pesquisadora são periódicos educacionais da época localizados no Arquivo do Estado de São Paulo. O referencial teórico parte da interseção entre a História Cultural – fundamentada em Chartier e Certeau – e a História do Currículo, chamando a atenção para a necessidade de se prestar muita atenção nos processos internos da escola, já que as práticas nessas instituições, quando se consolidam, acabam por influenciar o contexto social e cultural onde estão inseridas. Essa progressão de conteúdos e práticas: saberes a ensinar, condutas a inculcar e o conjunto de práticas que permitem a transmissão de saberes é a base da concepção de cultura escolar abordada pela autora e indicativos para a construção de uma história social do currículo.
O artigo então retorna ao fim do século XIX para contextualizar sua proposta. O ponto de partida é a questão da educação popular, que foi o centro da política, como nunca antes na história brasileira. Não como projeto de libertação e autonomia do povo, mas como instrumento para a reforma social e para o progresso da civilização que apoiasse a consolidação de políticas e de ordem. Com o advento da república, em 1889, isso ficou ainda mais evidente. Com o veto à participação de analfabeto nas eleições, grande parte da população ficou de fora da cidadania política. A necessidade de uma escola primária, que atendesse os interesses do Estado e, que ao mesmo tempo, inserisse esse grupo marginalizado no exercício democrático, se fez urgente. Em São Paulo, houve expansão de ofertas de vagas, pela criação de escolas públicas e por meio da renovação educacional. Esta consistia na inserção de novas disciplinas e conteúdos culturais e adoção de novos métodos e processos pedagógicos, com destaque para o método intuitivo, uso de diversos materiais didáticos e a implantação dos Grupos Escolares, fundamental para a escolarização em massa e ideal para atender aos princípios da racionalidade técnica e da divisão do trabalho. Com exceção de reformas metodológicas e organizacionais, esse projeto estabelecido nas escolas primárias paulistas, no início da república, permaneceu por várias décadas, sem mudar profundamente o projeto político-cultural da República: a formação alicerçada na ciência e nos valores morais e cívicos, mantendo a ideologia patriótica e de construção da nacionalidade.
A origem da educação militar nas escolas primáruas paulistas tem o marco da renovação defendida por Rui Barbosa em seu “Parecer sobre a Reforma do Ensino Primário e várias instituições complementares da instrução pública” (1882), onde ele, de forma minuciosa e persuasiva, defende as vantagens de matérias que deveriam estar no chamado currículo enciclopédico. A saber, Educação Física, Música e Canto, Desenho, Língua Materna, Rudimentos das Ciências Físicas e Naturais, Matemática, Geografia e Cosmografia, História, Rudimentos de Economia Política e Cultura Moral e Cívica. Na sua conceituação de educação integral dada para a Educação Física, emergem as funções morais, cívicas, disciplinadoras e higiênicas atribuídas a esse ensino no século XIX.
Em 1892, foi introduzida a disciplina Ginástica e Exercícios Militares. Apesar dos métodos e estratégias pedagógicas não serem claros para essa matéria por alguns anos, há, na Revista de Ensino, no início do século XX, vários artigos sobre educação militar, tendo como base o livro de instruções para o Exército Brasileiro. A prática desse tipo de exercício deu origem à formação dos batalhões infantis. Concebidos como meio de estímulo aos alunos, os postos eram ocupados por aqueles que se destacassem por comportamento, aplicação e garbo militar. Eram simulacros de corporações militares, tinham horários próprios e regras de enfardamento, uso de espingardas de madeira, cinturões etc. Com a vocação para as celebrações cívicas, os batalhões infantis, além de colaborarem para a “invenção das tradições”, reforçaram o imaginário sociopolítico da República, com todo o encantamento que provocava na sociedade da época, aliás, aquele corpo unido e harmônico era uma representação de como devderia ser a pátria e a nova ordem.
Apesar dessa ordem, havia certa desorganização em relação à padronização no ensino militar entre as escolas – compartilhavam, no entanto, do sentimento de patriotismo, moralização dos hábitos, eugenia e disciplina corporal. Com o advento da Primeira Guerra Mundial, os exercícios militares entraram em decadência e as escolas primárias acabaram abolindo esse tipo de ensino de seus programas, mantendo a ginástica. Os batalhões eram criticados em vários países da América Latina e a questão era discutida em países como Alemanha, Argentina e França, já com uma inclinação de substituir os exercícios militares pelo escotismo, que manteve durante muitas décadas o espírito militar inspirador da educação física, moral e cívica.
Contudo, a onda de nacionalismo, pós-primeira guerra, era forte no Brasil, influenciando o surgimento de movimentos e campanhas que pregavam a elevação moral e política e queriam a instituição do voto secreto, a erradicação do analfabetismo e a obrigatoriedade do serviço militar. Tais mobilizações eram formadas, principalmente, por políticos e intelectuais insatisfeitos com o poder da oligarquia e o que a autora chama de “desvirtuamentos da República”. A educação, então, despontava novamente como a solução para todos os males do país e, por consequência, era dada ênfase na educação cívica como elemento central para a moralização, para o patriotismo e para o nacionalismo. Nesse contexto, surgiu a defesa do escotismo. Vale citar os objetivos elencados no texto, retirados dos estatutos e regulamentos da Associação Brasileira de Escoteiros:
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