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Fichamento Coronelismo uma Politica de Compromissos

Por:   •  29/8/2016  •  Trabalho acadêmico  •  4.319 Palavras (18 Páginas)  •  1.037 Visualizações

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Fichamento: JANOTTI, Maria de Lourdes Mônaco. O coronelismo: uma política de compromissos. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1981. 88 p. (Tudo é história; 13).

PÁGINA

Introdução

P. 7

“[...] entende-se coronelismo o poder exercido por chefes políticos sobre parcela ou parcelas do eleitorado, objetivando a escolha de candidatos por eles indicados. O Coronel é sempre alguém de reconhecida autoridade e prestígio que possui, potencialmente, possibilidades de atender às demandas de sua clientela, sejam elas públicas ou privadas”

P. 7

“A maioria dos autores associa o crescimento do poder coronelístico à força eleitoral que os coronéis desempenharam na República”

P. 7-8

“Entretanto, as raízes do coronelismo já estavam sedimentadas no Império e, com a República, o Coronel apenas amplia o seu papel dentro da nova estrutura política”

P. 8

“É muito comum nos meios de comunicação, apresentar o Coronel como um fazendeiro rústico, autoritário, brutal, ignorante, dispondo da vida dos demais habitantes do lugarejo em que reside. Este é um estereótipo que vem sendo consagrado e, comumente, ridicularizado. Mas todo estereótipo é restritivo, empobrecedor, embora contenha um fundo de verdade”.

P. 9

“Os coronéis podem ser vistos como representantes da oligarquia agrícola-mercantil que controla o poder público e orienta suas decisões no sentido de afastar as demais classes do poder e de manter seus privilégios”

P. 10

“[...] apesar de alguns coronéis terem conseguido reconhecimento nacional de seu prestígio, como Pinheiro Machado, a maioria restringe seu raio de ação à política local, sem acesso às esferas decisórias”

P. 11

“A dominação é exercida através de um encadeamento hierárquico rígido, no qual o Coronel representa o poder local, imediatamente superior ao do pai da família. O papel do Coronel só é compreensível quando se distinguem as bases econômico-sociais que lhe conferem autoridade, quando se precisa a posição que ocupa na hierarquia política e quando se explicita a função que exerce dentro das classes proprietárias”

P. 11

“O coronelismo se expressa num encadeamento rígido de tráfico de influências”

P. 11

“Forma-se uma pirâmide de compromissos recíprocos entre o eleitorado, o Coronel, o poder municipal, o poder estadual e o poder federal”.

P. 12

“O poder pessoal, decorrência linear do econômico, se fortalece desde a Colônia, onde o poder público não se estrutura plenamente. A antiga expressão “Homem de valor, homem de posição” contém implicitamente a aceitação social do poder privado. O exercício do mando político, desde a segunda metade do século XIX, pelo Coronel é necessário e fundamental para o regime republicano”

P. 12

“O Coronel, auto-suficiente em seu município, é atrelado a novos compromissos subordinando-se a uma organização partidária mais complexa ou, em sua ausência, a um jogo político bem mais sofisticado”

P. 29

Capitulo: Subordinação do domínio: compromissos com a República

P. 35

“Campos Salles (1898-1902) sacramentou o pacto do poder pela aplicação da “Política dos Governadores”: “No lugar do presidente de província todo-poderoso, viria instalar-se o todo-poderoso governador de Estado (...)”

P. 37

“Os governadores garantiriam a eleição para o Congresso Nacional de representantes dóceis ao Presidente da República. Por sua vez, a Presidência não interferiria nas eleições estaduais. Os governadores escolheriam candidatos de sua confiança para comporem as Assembleias estaduais, garantindo a maioria situacionista”

P. 37

“Para a realização desses acordos, o município sufragaria nas urnas os candidatos escolhidos pela oligarquia. Por esta razão, tornou-se ele, necessariamente, o centro das maiores manipulações do sistema. Como o poder municipal era fraquíssimo e quase nada poderia oferecer ou pesar nessa barganha, os coronéis revestiam-se da autoridade municipal. Eles comandavam o “eleitorado de cabresto” e, portanto eram os lídimos integrantes do pacto. Conseguiriam os votos e, em troca, reconheciam-lhes a autoridade política.”

P. 38

“O candidato para ser eleito precisava ter o cômputo dos seus votos reconhecido em várias instâncias, dependendo do cargo pretendido. No final dessa tramitação sempre se encontrava uma Comissão de Verificação de Poderes, que diplomava os eleitos. Nas Assembleias Estaduais reconheciam-se os eleitos para as Câmaras Municipais e para as próprias Assembleias Estaduais (Senado Estadual e Câmara dos Deputados, onde o regime era bicameral).”

P. 38

“As Comissões de Verificação de Poderes atuavam, portanto, como expurgadoras dos candidatos indesejáveis, sob a alegação de fraudes ou irregularidades burocráticas, que impediam a sua posse. Esta atividade ficou conhecida como “degola”.”

P. 39

“Embora não se possa afirmar que todo fazendeiro ou todo grande comerciante era um coronel, também é impossível desvincular o coronelismo do mandonismo local. Os barões do café sucederam aos senhores de engenho, os trabalhadores livres aos escravos, mas a população rural continuou submetida ao poder individual. Privada de direitos, isolada dos centros urbanos, permanecia ela sob o mando do patrão todo-poderoso, que tinha a polícia a seu favor.”

P. 39-40

“O aumento do eleitorado, embora pequeno em relação à população do país, atribuía ao coronel encargos. O chefe político herdara as estruturas do mandonismo, mas, com a extensão do voto, era obrigado a submeter-se a poderes superiores ao dele. Subordinava-se aos chefes da política estadual que nem sempre tinham os mesmos interesses do pequeno mandatório: “Daí, o anedotário contundente. Borges de Medeiros (grande oligarca gaúcho) interrompe um chefe político que diz pensar...- Engano, coronel, o senhor pensa que pensa, mas quem pensa sou eu...” (Raymundo Faoro, Os Donos do Poder).

P. 41

CAPÍTULO: BENÇÃO, PADRINHO: COMPROMISSOS SOCIAIS.

P. 41

“O Coronel nem sempre era um grande fazendeiro. Mas era um chefe político, de reconhecido poder econômico, que conseguiria apoio e prestígio junto ao governo estadual, na razão direta de sua competência em garantir eleições situacionistas. Portanto, o coronelismo não foi apenas uma extensão do poder privado, mas o reconhecimento da força de alguns mandatários pelo beneplácito do poder público.”

P. 42

“O Coronel fazendeiro era aquele que mais se aproximava do histórico senhor de engenho da antiga sociedade patriarcal. Constitua-se ele, também, em um elo na evolução do poder pessoal que se situava entra a antiga sociedade escravocrata e a moderna sociedade capitalista. Como esta passagem não se efetuou nem de forma revolucionaria e nem uniformemente, em todo país, enquanto a burguesia se esforçava por constituir um Estado Nacional, o Coronel permanecia como um dos componentes do particularismo regional, que, paradoxalmente, auxiliava o processo de centralização do Estado”

P. 42

“Em geral, o acerto das condições de trabalho era apenas verbal, registrando-se, no entanto, variadas situações contratuais. Conforme a região, os trabalhadores recebiam diferentes denominações: moradores, que podiam ser meeiros – também chamados camaradas ou colonos – que habitavam a fazenda; alugados, que apenas cumpriam momentaneamente uma tarefa determinada; agregados, de definição mais complexa, que se constituíam em camaradas ou em pequenos sitiantes dos arredores; arrendatários, que cultivavam terras consideradas, na maior parte das vezes, estéreis ou de necessário desbastamento”

P. 43

“Nas regiões de imigração, onde se estabeleceram contratos diferentes de trabalhos, os choques entre proprietários e colonos eram mais freqüentes. Mas, como o estrangeiro não votava, o contestador era afastado com violência do local para não contaminar os demais com sua rebeldia, sem afetar o domínio eleitoral coronelístico. Dependo das características econômicas de cada região, havia diferença nas relações de trabalho, mas em toda ela subsistia um único princípio: direitos dos fazendeiros, obrigações dos trabalhadores rurais.”

P. 44

“Se a fazenda fosse vendida, os moradores poderiam ou não permanecer nas terras, conforme o acordo com o novo proprietário.”

P. 44

“Admite-se, sem nenhuma preocupação crítica, a ideia de que, normalmente, várias gerações de trabalhadores de uma mesma família permaneciam na mesma propriedade. No entanto, a realidade é bem outra. O trabalhador rural se caracteriza muito mais pela sua mobilidade do que por sua fixação num mesmo local”.

P. 45

“Compondo decisivamente o cenário social, onde evoluiu o coronelismo, destacavam-se, ainda, os pequenos proprietários dos bairros rurais e os habitantes dos centros urbanos, ambos constituindo-se na maior parte do eleitorado rural”.

P. 45

“O fraco comércio, o limitado mercado de consumo, as reduzidas exigências das necessidades do cotidiano, a ausência quase absoluta da produção industrial conferiam-lhes uma fisionomia rural. Pontos de encontro entre proprietários e comerciantes, aonde lavradores vinham vender ou trocar seus produtos, estas cidades foram reprodutoras das relações agrárias, muito mais do que centros impulsionadores de transformações progressistas.”

P. 45

“Victor Nunes Leal defende a posição de que enquanto mais fraca a autoridade municipal, mais forte era o poder coronelístico. A total autonomia municipal só pode ser cogitada teoricamente.”

P. 46-47

“Os políticos sempre defenderam, aparentemente, a autonomia municipais, não importando a que facção estivessem adstritos. Na realidade, porém, os legisladores diminuíram sempre a capacidade decisória dos municípios. Explica-se esta dubiedade pela importância eleitoral que os municípios possuíam. Interessava a todos aparentar “boas intenções” em conceder maiores prerrogativas, especialmente em matéria de impostos, mas, na medida em que as oligarquias tinham um projeto de domínio do país, baseado na centralização, convinha tornar o menos possível explícitos os direitos municipais e bem evidente a sua dependência das concessões federais: “Sem recursos para ocorrer às despesas que lhes são próprias não podia deixar de ser precária sua autonomia política.”

P. 48

“Somente em 1946 houve regulamentação da matéria para todo o território nacional. A elegibilidade dos prefeitos foi uma prolongada e difícil conquista democrática, que consagrou, na realidade, nos pequenos centros, a supremacia  de um chefe político sobre os demais: “O Coronel dos coronéis”, que vencia nos diferentes distritos.”

P. 48

“Por todas estas questões, avulta para a vida municipal a importância das boas relações entre o Coronel e os chefes políticos estaduais. Através do chefe político é que o município pleiteava e recebia reforços para sua minguada receita.”

P. 48-49

“Como já se observou o coronelismo define-se por uma ascendência política, econômica e social, primeiramente em nível local, podendo ir aumentando sua influência a círculos cada vez mais amplos. Nem todos os coronéis tinham acesso ou participação nas decisões das oligarquias governantes. Os pequenos coronéis limitavam-se a gerir a política do lugarejo e a seguir sempre o situacionismo no plano estadual e federal.”

P. 49

“Ora, a luta entre coronéis era comum, mas entre Coronel e Governador teria conseqüências bem mais amplas; por isso imperava o bom senso, evidenciado pelas palavras do Coronel pernambucano mudo: “O governo mudou, mas eu não mudo: fico com o governo” (Ulisses Lins de Albuquerque, Um Sertanejo e o Sertão).”

P. 49

“Ao Coronel ligavam-se extensa clientela política, numerosa parentela e dependentes de ordem diversa. A clientela política de um Coronel variava de acordo com sua área de influência, os compromissos locais e seu prestígio pessoal. O Coronel poderia ter controle direto e indireto sobre o eleitorado. Havia o Coronel que visitava grande parte de seus eleitores com muita freqüência, assim controlando diretamente seus votos. Também era comum enviarem “cabos eleitorais”, que repassavam as ordens do chefe. Subindo, um pouco, na hierarquia, encontra-se o Coronel que tem sob compromisso outros chefes locais que dominam diferentes distritos. No ápice desta superposição de autoridades situam-se os chefes das oligarquias nas Comissões Diretoras do Partido Republicano.”

P. 50

“Nos inícios da república o voto significava vínculos afetivos, morais, de dependência diversa. Com o desenvolvimento das relações capitalistas, passou a ser mercadoria negociável. O papel que desempenhava o Coronel no processo eleitoral garantia a sobrevivência de um sistema político que alijava as classes populares. O processo eleitoral regulado pela Constituição estabelecia prazos para a inscrição dos eleitores. A cada eleição deveria ser feita nova lista de eleitores. Desde esse momento inicial configurava-se a influência do Coronel. Trazendo pessoas do campo para a cidade, oferecia transporte, almoços, roupas, calçados, etc. Promovia quermesses e diversões. Na impossibilidade de trazê-las, enviava-lhes o formulário de inscrição, desrespeitando as normas estabelecidas.”

P. 50-51

“O alistamento dos eleitores passava então a ser composto pela Junta Eleitoral presidida pelo Juiz de Paz e, posteriormente, por outros juízes da Comarca. Na elaboração dessas listas havia pouco escrúpulo, sendo incluídos cidadãos analfabetos, menores de idade e até pessoas de falecidas. É interessante lembrar que a Constituição não fazia nenhuma referência à impossibilidade do voto feminino; no entanto, nem se cogitava em solicitá-lo”.

P. 51

“Quando um analfabeto apresentava-se para votar, os próprios componentes da Mesa preenchiam as cédulas e assinavam as listas de presença. Aos indesejáveis, sob qualquer alegação, mandavam prender.”

P. 51

“Dessa forma, nada havia de livre ou de secreto na maneira de votar; porquanto sempre existiu a coerção, inclusive com a presença maciça de capangas do Coronel”.

P. 51-52

“Deve-se às discordâncias entre coronéis e/ ou entre o Coronel e o Governo do Estado o aparecimento de candidaturas de oposição, raramente, porém, aparecendo um candidato independente”

P. 52

“Quando a oposição se apresentava fortalecida, o Coronel usava de vários expedientes para impedir sua eleição”.

P. 52-53

“Embora o procedimento eleitoral tenha sofrido alterações no decorrer da República Velha, as eleições a “bico de pena” continuaram a ser empregadas. O policiamento municipal, além de insuficiente para manter a ordem por ocasião das eleições, era controlado pelos coronéis. O cargo de delegado de polícia, até 1906, era exercido voluntariamente e sem remuneração, logicamente por pessoa de confiança do Coronel.”

P. 53

“As numerosas denúncias de fraudes não tinham maiores conseqüências, após o período eleitoral.”

P. 54

“Discute-se muito a natureza da violência e da barganha no domínio do Coronel. [...] A dominação oligárquica sempre foi violenta, podendo assumir tantos formas mais sutis de coerção, quanto procedimentos da maior crueldade, variáveis de acordo com o lugar e a ocasião. De forma genérica, pode-se aceitar que nos Estados mais prósperos equilibram-se os interesses individuais e coletivos pela preponderância do Partido sobre as famílias oligárquicas, ao contrário do que sucede nos estados mais pobres, onde o poder local é soberano (Edgard Carone, A Primeira República). Isto é tanto mais válido quanto mais próximo se está nos fins da Primeira Republica. Todavia, houve casos em que pesaram tanto as exigências de salvaguardar a imagem do partido, quanto à incolumidade do prestígio familiar.”

P. 56-57

“[...] Victor Nunes Leal, que define o “coronelismo como um sistema político dominado por uma relação de compromisso entre o poder privado decadente e o poder público fortalecido”. A submissão da polícia local ao grupo político dominante, a participação de inúmero familiares e dependentes do chefe político neste episódio, sugerem que se indague sobre a natureza dos compromissos sociais do coronelismo. Um dos pontos interessantes de serem notados é o reconhecimento tácito que a comunidade tem da autoridade do Coronel. Abandonada pelos poderes públicos no que se refere à saúde, à justiça e à instrução, pois o município não tinha condições de atendê-la, via o Coronel como protetor natural”

P. 57

“Os poderes da República eram personificados no presidente, no governador, nos deputados. Assumia o coronelismo uma conotação de “direito natural” do mais forte e do mais rico. Ser rico entre os pobres, não era ser rico no sentido absoluto. Dependendo dos recursos econômicos da região, o Coronel podia ser apenas um pequeno fazendeiro, ou um latifundiário cuja sólida fortuna provinha de atividades bancárias ou mercantis. Solidamente enraizada na proteção e na lealdade, a sociedade rural repousava na troca de favores de homem para homem. O Coronel oferecia proteção e exigia irrestrita adesão. Em algumas localidades isoladas, o chefe comportava-se como um pequeno senhor feudal, chegando alguns a ter força armada própria e até cunhar moedas. As relações de compadrio tão difundidas no coronelismo “suavizavam as distâncias sociais e econômicas entre o chefe e o chefiado”.

P. 57-58

“O compadre recebe e transmite homenagens, de igual para igual, comprometido a velar pelos afilhados, obrigados estes a respeitar os padrinhos” (Raymundo Faoro, Os Donos do Poder). O cumprimento habitual que a “gente do coronel” lhe dispensa era uma expressão já usada na sociedade escravocrata: “Bênção, padrinho”, acompanhada quase sempre pela resposta: “Deus te abençoe, meu filho” (ou, meu cabra, meu homem, meu negro). “De um lado reconhece-se a autoridade paterna, e, por outro lado, o direito sobre o outro, pelo uso do possessivo meu.”

P. 58

“Os funcionários da administração estadual, muitas vezes indicados pelo próprio Coronel, isolados da capital, por grandes distâncias, viam-se sujeitos às injunções da política local. O Coronel lhes garantia condições de permanência no cargo e até facilidades no cotidiano da vida privada. O problema de moradias de aluguel foi sempre agudo nos pequenos centros. Eram as propriedades dos chefes políticos que abrigavam juízes, delegados ou professoras e muitas vezes abasteciam suas despensas.

P. 58

“De natureza diversa era a ligação com o funcionalismo municipal. Todos deviam seus cargos ao chefe, haviam sido indicados ou eleitos por ele; prefeitos, vereadores, soldados, contínuos, escriturários, etc.”

P. 58-59

“Sobre toda pequena sociedade desce seu véu “protetor”; o chefe da estação, o telegrafista, o tabelião, o pároco, o farmacêutico, o comerciante, o médico, o advogado sofrem, direta ou indiretamente, o jugo do seu prestígio. Na sua área rural exercia sua prepotência mais direta sobre seus moradores, “sua gente”, habitantes de suas terras (quando o Coronel era fazendeiro). Os sitiantes, tradicionalmente homens livres, pequenos proprietários, que compunham a maior parte do eleitorado rural, geralmente estavam ligados ao Coronel por relações de compadrio, por necessitarem de sua influência para conseguir financiamentos das safras”.

P. 59

“Comumente o Coronel era procurado para resolver questões referentes a limites de propriedades, a heranças, a pagamentos atrasados, a venda de animais, a casamentos complicados, a educação de crianças, e tantas outras que lhe aparecessem.”

P. 59

“Soluciona dissídios forçando o “acordo” entre as partes, o seu prestígio é o aval da “sentença”. A garantia é dada, segundo o dito popular, “pelo fio de sua barba”, isto é, a palavra do Coronel substitui o contrato escrito. Estabeleceu-se, assim, uma interminável teia de compromissos que pode ter como pólos extremos um vaqueiro e um governador de Estado.”

P. 60

“Resultam dessas transações, em todos os escalões, favores e obrigações que implicam no favoritismo, na cobrança da lealdade, na impossibilidade do rompimento de vínculos e na violência como alternativa da desobediência. A lei do Coronel imperava tanto na roça quanto na cidade, ele possuía uma polícia própria, denominados seus membros, segundo a região, de capangas, jagunços, “gente do Coronel”, camaradas ou cabras...”

P. 61

“Diversos critérios de “persuasão” eram empregados. Usava-se punir para servir de exemplo um agregado, um dependente, um capataz, ameaçando assim aos demais. Na cidade, igualmente, jornais eram empastelados, armazéns queimados, estoques comerciais destruídos. Empregava-se como principal arma a desmoralização pessoal, a calúnia, o corte de crédito, até a agressão e expulsão.”

P. 61

“O homem comum não tinha saídas, nem opção por novos caminhos, mesmo a fuga representava, quando possível, ligar-se a outro Coronel.”

P. 61

“A cada privilégio que desfrutava correspondia uma série de obrigações que devia cumprir e delas prestar contas aos seus dependentes, aos demais proprietários e aos outros coronéis.”

P. 61-62

“O Coronel devia constantemente se esforçar para não diminuir sua capacidade em arranjar empregos, e atender a reivindicações. Representante do poder público, suas ligações na esfera do poder estadual deviam estar sempre no auge das possibilidades de conseguir os melhoramentos que o município exigia.”

P. 62

“O pequeno chefe precisava obedecer aos grandes oligarcas, como condução básica da manutenção de sua força local. O governo estadual jogava constantemente com os coronéis de menor importância, retirando-lhes o apoio de acordo com suas conveniências e transferindo-o aos seus rivais. Em regiões mais amplas, em que vários coronéis compartilhavam o poder, faziam-se e desfaziam-se alianças com freqüência, provocando verdadeiras guerras privadas: “Toda a história da Primeira República é formada por lutas desse tipo, muito mais pela opressão dos coronéis a seus inferiores. Os oprimidos eram principalmente os inferiores do Coronel contrário...” (Maria Isaura Pereira de Queiroz, O Coronelismo numa Interpretação Sociológica)”.

P. 63

“O continuísmo no poder de membros de determinadas famílias, apesar das sensíveis transformações após 1930, representava a solidez da influência do grupo familiar, na história contemporânea do Brasil.”

P. 63

“Os coronéis de maior expressão eram comumente os chefes de numerosa parentela, unida entre si tanto pela ascendência ou descendência (legal ou bastarda) quanto por compadrio ou casamentos. Nem sempre a parentela possui o mesmo nome, mesmo que tenha ligações consangüíneas. Desde os tempos coloniais os vínculos de parentesco se estabeleceram no Brasil por linha materna ou paterna.”

P. 64-65

“A estrutura interna da parentela poderia variar desde o igualitarismo, entre as diversas famílias, até diversos tipos de estratificação, de acordo com as condições econômicas da região.”

P. 65

“Uma parentela poderia ser chefiada por vários coronéis, o que tornava sua fragmentação muito mais fácil, ficando cada Coronel com uma parte da antiga parentela com a qual formava novo tronco de ligações.”

P. 65

“A solidariedade política sedimentava-se na solidariedade familiar; o Coronel preferia repartir equitativamente os cargos públicos e os votos entre candidatos pertencentes à sua parentela, pois estaria assegurando, assim, a estabilidade de sua permanência na chefia política. Não estavam muito distantes os senhores do governo estadual, do Coronel do interior. A confusão entre a coisa pública e a particular eram inerentes ao patrimonialismo da Primeira República. Bom exemplo da extensão do controle oligárquico da família Acioli no Ceará, é o quadro de distribuição de cargos e funções que se segue: - Presidente do Estado – Nogueira Acioli; - Secretário do Interior – José Acioli...[...]”

P. 66

“E quem afirmar que no Ceará há uma oligarquia, é porque é muito maldizente (Martim Soares, O Babaquara, citado por Edgard Carone, A Primeira República. Texto e Contexto).”

P. 67

CAPÍTULO: Janus Rural: Compromissos com o passado e com o futuro

P. 67

“O típico chefe político do passado era o fazendeiro. O Coronel bonachão ou com fama de valente era obedecido sem nenhuma contestação. Suas fazendas possuíam poucas condições de conforto, cercando-se de algumas raras inovações tecnológicas, como o rádio, o ventilador, o jipe. A mecanização, na fazenda, era quase inexistente. Entre Coronel e sua gente estabeleciam-se ligações paternalistas e patronais. A vida cotidiana desses coronéis se assemelhava muito à vida de qualquer fazendeiro da região.”

P. 69

“Á medida que desenvolviam as funções urbanas do município, sua importância econômica, e, conseqüentemente, eleitoral, também crescia. O poder coronelístico passava, então, a ser exercido por pessoas que não detinham, necessariamente, a posse da terra.”

P. 69

“Embora muitos autores observem que os antigos chefes políticos perderam seu prestígio para advogados, jornalistas, médicos, delegados e prefeitos, as pesquisas históricas revelam que não houve uma simples substituição de dirigentes, antes define-se uma nova composição de forças, entremeada por novas situações econômicas. Os profissionais liberais, em geral, faziam parte de parentela ou da clientela do Coronel. Falando com desenvoltura, conhecendo os trâmite legais, quase sempre bem informados, traziam eles o Coronel para o presente e dele necessitavam, pois os votos lhes advinham dos compromissos passados. Exerciam, pois, sua autoridade, escorados pelos antigos donos da situação e só se rebelavam quando velhos compromissos, entravando acordos políticos, afetavam novos interesses econômicos.”

P. 69

“Quando aparecia, na região, um político que nela não possuía raízes familiares, para obter êxito e prestígio tinha que granjear para suas fileiras o grupo de oposição e representar os interesses de novos grupos econômicos.”

P. 73

“Não há dúvidas quanto ao fato de que houve coronéis que chegaram a esta posição sem serem fazendeiros. Por outro lado, a maioria acabou por se tornar proprietário de terras. Se o poder coronelístico afirma-se na relação direta da fraqueza do poder municipal, suas bases agrárias são quase imprescindíveis. Religiosos também chegavam a coronéis. O mais célebre de todos foi o Padre Cícero Romão Baptista, hoje venerado como santo, em todo o nordeste. De personalidade carismática, adquiriu logo reputação de milagreiro. Romarias se sucediam em Juazeiro, beatas, penitentes, jagunços e cangaceiros buscavam sua proteção.”

P. 74

“Estreitamente ligado à oligarquia Acioli, e ao médico deputado federal Coronel Floro Bartolomeu da Costa, exerceu considerável influência no sertão do Ceará, onde também era fazendeiro.”

P. 75

“O governo ora apoiava um grupo, ora outro, aplicando a política de “dividir para reinar”.

P. 79

“A própria morte de um Coronel não extingue o poder coronelístico. Seu prestígio político e social é transferido para o outro indivíduo que nem sempre é um membro de sua família. Muitas vezes, um elemento distante de sua parentela, ou, ainda, um político de destaque é reconhecido tanto por outros coronéis como pela própria clientela, por ter maiores condições de liderança e possibilidades de canalizar vantagens para um município. No entanto, a sucessão mais freqüente cabe ao filho do Coronel.

P. 79-80

“A preocupação do Coronel em impedir que, com sua morte, se desvaneça o império de sua influência, faz com que tome medidas práticas para assegurar a sua continuação. Ainda em vida, não raro coronéis apresentam à sua clientela, agregados e parentes, o seu futuro sucessor. É uma investidura quase solene. Transfere para o novo Coronel todos os compromissos firmados no passado, que serão as bases dos compromissos futuros.”

P. 80

“Autores insistiram no ocaso do coronelismo, talvez por não terem se detido na observação dos seus novos compromisso. Após a Revolução de 30 modificações são registradas nas relações coronelísticas, ma não a ponto de determinar sua extinção. Não há dúvida que Getúlio Vargas se valeu dos coronéis do sertão, dos estancieiros gaúchos e mesmo dos fazendeiros paulistas para tomar o poder e nele se manter. O mesmo poder-ser-ia dizer de todos os governos da República, até hoje.”

P. 80

“O coronelismo demonstra, portanto, ter uma estrutura bastante plástica, adaptando-se a sucessivos momentos históricos. Dessa forma o poder local não se enfraquece com a mesma intensidade em todo o país. Ele se mantém, sob nova roupagem, ou se extingue nas áreas de maior concentração urbana, persistindo, nos mesmos moldes, em regiões de economia tradicional. Nesse sentido, a Revolução de 30 apenas representa um momento em que se dá um novo pacto social, onde as oligarquias não estão ausentes.”

P. 82

“Diversas manifestações da violência coronelística, por exemplo, podem ser encontradas nos noticiários da imprensa, o que demonstra ser bastante discutível falar-se hoje no fim do coronelismo, mesmo num Estado de economia capitalista.”

P. 83

Considerações Finais

P. 83

“Durante a Primeira República, diversos coronéis chegaram a lugares de proeminência. Muitos apontam Pinheiro Machado, Washington Luís, Epitácio Pessoa, como representantes do prestígio coronelístico. Todavia, é necessário distinguir os diversos papéis que desempenharam. Nas regiões em que iniciaram a sua chefia, onde tinham total controle dos votos, suas relações eram semelhantes às de qualquer grande Coronel.”

P. 83

“Enquanto no desempenho de altas funções públicas, representaram interesses econômicos mais amplos da burguesia agrária e financeira. Em jogo de tal envergadura em que se debatem as classes dominantes – de regiões com desenvolvimento econômico diverso -, ajustando-se às exigências do capitalismo internacional, pouco peso tem nas suas decisões a origem coronelística de seu poder.”

P. 83-84

“Grande parte das interpretações sobre o coronelismo estão viesadas pela idealização do Estado liberal. Nesta perspectiva é inadmissível a sobrevivência do poder pessoal. Por esta razão, o coronelismo foi visto como anomalia ou excrescência.”

P. 85

“O Coronel significou neste projeto o irracional e, por isso, percebido como um fenômeno surpreendente. No entanto, antes de se constituir num entrave, o coronelismo foi peça fundamental numa das etapas da luta da burguesia pela submissão da Nação.”

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