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Invisibilidade indígena no ensino de história

Por:   •  17/9/2019  •  Abstract  •  1.222 Palavras (5 Páginas)  •  125 Visualizações

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Para Rüsen, o professor deve entender a educação como o historiador deve entender a história. Mas, apenas possuir o entendimento não é suficiente, é necessário compreender também a melhor maneira de repassá-lo para que más interpretações não ocorram durante o processo de aprendizagem. Como também observa Rüsen, o ensino de história afeta o aprendizado de história, com isso, é importante que o professor mantenha-se alerta para que seu ensino não seja produtor de interpretações falhas e distorcidas da história que está sendo repassada.

Porém, ensinar história de forma que discursos não sejam ocultados ou alterados não é uma tarefa fácil quando o próprio material didático amplamente utilizado na educação básica carrega muitas falhas em si. O livro didático, por exemplo, sobretudo o de História, ainda está permeado por uma concepção positivista da historiografia brasileira, que primou pelo relato dos grandes fatos e feitos dos chamados “heróis nacionais”, geralmente brancos, ocultando, assim, a participação de outros segmentos sociais no processo histórico do país. Na maioria deles, despreza-se a participação das minorias étnicas, especialmente índios/as e negros/as. Assim, é possível identificar alguns livros didáticos como reprodutores de uma visão equivocada e transmissores de estereótipos e preconceitos, que passam a representar uma pseudo verdade absoluta.

Não é preciso ir longe para verificar essa afirmação: ao pensarmos nas imagens/textos difundidos ao longo dos anos pelo livro didático de História acerca das populações indígenas, percebemos que essas são reduzidas genericamente a categoria de índios/as, como se todas as etnias fossem iguais e partilhassem da mesma cultura. São ainda imortalizados pela literatura romântica produzida no século XIX, como nos livros de José de Alencar, como índios belos e ingênuos, ou valentes guerreiros e ameaçadores canibais. Ou seja, bárbaros, bons selvagens ou heróis. Porém, é certo que a cultura de um povo - de vários povos - vai muito além desse vago estereótipo que cabe em uma única frase.

Esse distanciamento da realidade é, em parte, produzido pela falta de representatividade de quem conta essa história. Ao observar livros destinados ao ensino de história percebe-se que a História do Brasil nos manuais didáticos começa com a chegada do colonizador. Os índios aparecem na História somente a partir desse contato com o homem europeu, retratados quase sempre em situação de inferioridade. Não há uma preocupação em mostrar uma História indígena anterior à colonização portuguesa. Além disso, em sua grande maioria, os conteúdos abordados nos livros didáticos falam dos índios no passado, como se esses não mais existissem e/ou fossem desprovidos de uma história silenciando ainda mais essas sociedades indígenas.

Como nos mostra Oliveira (2011, p.3-4) essa manipulação de narrativas não se trata de algo recente e sim algo construído ao longo de séculos. “No período colonial a Igreja e a Coroa (tanto portuguesa como espanhola) detinham um poder sobre a elaboração e difusão de conhecimentos a respeito das sociedades indígenas. (...) Neste cenário, as histórias contadas pelos cronistas, a partir de um ponto de vista eurocêntrico, estavam carregadas de representações inferiorizantes e degradantes das sociedades indígenas, contribuindo na exaltação da superioridade dos europeus e na legitimação das práticas de conquista e evangelização/colonização dos indígenas na América”. E essa explicação feita por Oliveira pode ser complementada pelas obras de diversos autores como Elias (1990) que nos explica que, “cultura e civilização são conceitos que surgem na Europa e que, já de início, ganham significados diversos entre as várias populações nacionais nascentes. Grosso modo, porém, esses termos parecem conotar a unidade ocidental e as diferenças internas a ela: se civilização é um resultado final de um processo que culmina no Ocidente, cultura designa as particularidades das populações ocidentais - os modos franceses, ingleses, alemães.”

Baniwa (2006, p. 49) em contrapartida nos fornece uma explicação para refutar o pensamento de superioridade europeu ao destacar que, “quando falamos de diversidade cultural indígena, estamos falando de diversidade de civilizações autônomas e de culturas; de sistemas políticos, jurídicos, econômicos, enfim, de organizações sociais, econômicas

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