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Maquiavel e a religião

Por:   •  2/12/2015  •  Artigo  •  2.705 Palavras (11 Páginas)  •  469 Visualizações

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A importância da moral religiosa segundo Maquiavel para a formação e manutenção do Estado.

Eliza Terra da Silveira*

RESUMO: O presente trabalho visa fazer uma ampla análise, acerca do pensamento de Maquiavel sobre a importância da moral religiosa para a formação e manutenção do Estado. Analisando-se todo o contexto de transformações e crises pela qual não só Florença estava passando, mas também toda a Itália e a Igreja.

Palavras-Chaves: Maquiavel, Política, Estado, Moral religiosa, Itália.

ABSTRACT: This paper aims to make a comprehensive analysis, about the thought of Machiavelli on the importance of religious morality for the formation and maintenance of the state. By analyzing the whole context of changes and crises in which not only Florence was going through, but also throughout Italy and the Church.

Key Words: Machiavelli, Politics, State, religious Moral, Italy.

        Primeiramente, para uma melhor compreensão do pensamento de Maquiavel, devemos ter em mente que a Itália estava passando por uma série de transformações advindas do Renascimento, sendo que a mesma se encontrava dividida em pequenas soberanias que constantemente guerreavam entre si. Podemos citar os dois poderes rivais que são a Cúria e o Capitólio e um terceiro que são os barões da velha nobreza romana que ameaçavam não só a cidade, mas também o próprio papado.

        Portanto, como nos afirma, Paul Larivaille “todo o período é marcado pela luta, na maior parte do tempo estéril, que os magistrados romanos travam para salvar uma autonomia nem um pouco política mas administrativa e sobretudo financeira, que lhes escapa cada vez mais.” (LARIVAILLE, p. 51).

        Além também dos principados que se encontravam em formação, havendo ainda a alta corrupção do clero em decorrência do poder temporal exercido pelos papas e a “mundanização” crescente dos assuntos espirituais que ultrapassava o domínio estritamente religioso e moral comprometendo seriamente o destino de toda a Península.

        A Cúria que era o órgão central do governo da Igreja, com algumas estruturas próprias dos Estados Pontifícios e que tinha uma grande influência na política dos papas do Renascimento, encontrava-se tomada pela corrupção. Onde a Igreja primitiva, dera lugar a uma ostentação de riquezas advindas das grandes somas arrecadadas para a Cúria no mundo inteiro. Além também da alta corrupção do clero, que vivia uma vida desregrada e mundana, com vários escândalos amorosos, assim como a venda de simonia, indulgências e sacramentos para enriquecimento pessoal.  

        No entanto, com as mudanças de mentalidade na Itália, com o Renascimento e o humanismo a sociedade tornou-se cada vez mais crítica em relação a essa corrupção dos membros da Igreja. Dessa forma quando Maquiavel afirma que:

“É, portanto, à Igreja e aos sacerdotes que os italianos devem estar vivendo sem religião e sem moral; e lhes devemos uma obrigação ainda maior, que é a fonte da nossa ruína: a Igreja tem promovido incessantemente a divisão neste malfadado país – e ainda a promove. Com efeito, só há união e felicidade nos Estados sujeitos a um governo único e a um só príncipe, como a França e a Espanha.” (Discorsi, p.62).

        

        Podemos notar neste excerto que Maquiavel acusava a Igreja de ser a causa de todos os males por qual a Itália vinha passando e por não ter conseguido se tornar um país unificado assim com a França e a Espanha. Para Maquiavel o poder temporal exercido pelos papas foi o que provocou a divisão do Estado italiano, pois para assegurar sua supremacia a Igreja não hesitou em chamar potências estrangeiras para a Itália em seu auxílio. Segundo Maquiavel esse poder temporal também corrompeu a missão espiritual que a Igreja tem, ou seja, a sua função na estrutura social da sociedade que é de onde provém a coesão interna do povo.

        Maquiavel ainda a acusava de ser a causa da descrença do povo quanto fala: “Temos a prova mais marcante desta decadência no fato de que os povos mais próximos da Igreja Romana, a capital da nossa religião, são justamente os menos religiosos.” (Discorsi, p. 62). Para Maquiavel essa descrença do povo, originada pela corrupção dos dirigentes da Igreja, acabou por desfavorecer a moral religiosa que deveria servir para fortalecer as leis humanas, mas que devido, a todos esses fatores acabou por enfraquecê-la.

        Portanto, devido a todos esses conflitos e crises que permeavam a Itália, Maquiavel tenta buscar assim como vários de seus contemporâneos, uma solução que garantisse a paz e a consolidação de seu país. Pra tal firma-se na religião dos antigos (pagã) como sendo a prova de que a moral religiosa através do mandamento divino é a fonte para o fortalecimento e para a manutenção de um Estado, pois somente com ele é possível fazer com que o povo respeite as regras políticas e as leis humanas. “(...) os romanos respeitavam seus juramentos mais ainda do que as leis, convencidos que estavam de que a potência dos deuses é maior do que a dos homens.” (Discorsi, p. 57).

        Para Maquiavel um bom governante deve usar sempre a fé do povo para levá-los a obediência da lei civil. Sendo que somente os príncipes com virtude são capazes de levar o povo a temer a desobediência ao Estado, fazendo-os a acreditar que o não cumprimento das leis é uma ofensa a Deus. Pois, “De fato, nunca nenhum legislador outorgou a seu povo leis de caráter extraordinário sem apelar para a divindade, pois sem isto não seriam aceitas.” (Discorsi, p. 58).

        Um bom governante segundo Maquiavel, deve sempre conservar e manter os fundamentos da religião, para que não se corrompa, conservando-a manterá unida tanto a religião quanto seu Estado. Mas, uma vez corrompida, acarretara na dissolução do vivere civile e conseqüentemente a ruína do Estado. Sendo assim, um príncipe jamais deve achar que a religião está inteiramente ao seu serviço desprezando os cultos ou as cerimônias religiosas, pois: “O índice mais seguro da ruína de um país é o desprezo pelo culto dos deuses (...).” (Discorsi, p. 61).

        Um príncipe deve sempre saber interpretar os sinais da natureza tidos pelos povos como sinais do divino ao seu favor. Sendo que, é desse comportamento de governantes sábios que se nasce à crença nos milagres. Vê-se aqui que o olhar sobre a religião para um soberano é diferente do olhar de um súdito. Enquanto, o soberano busca na religião uma ferramenta para garantir sua autonomia e poder, o súdito a tem como um respeito originado do temor a Deus.

        No entanto, Maquiavel adverte que um príncipe jamais deve se corromper, deixando transparecer que tal façanha é uma simples manipulação dos grandes a favor dos seus próprios interesses. Para tanto, Maquiavel afirma que tal façanha deva ser usada para fortalecer o Estado, mas também para contribuir para o bem comum, que é de onde advêm à força de seu governo. Sendo assim cita:

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