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O Caminho do Peabiru

Por:   •  25/3/2022  •  Trabalho acadêmico  •  3.463 Palavras (14 Páginas)  •  199 Visualizações

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O Caminho Peabiru

Aluno:José Osvaldo Henrique Corrêa

06/2008

LDNA

O Caminho de Peabiru

A cada dia novas descobertas históricas e arqueológicas vêm comprovar o respeitável grau de conhecimento dos povos nativos da América do Sul. Ajudando a superar a versão dos vencidos, de que a civilização, a ciência e o bem-estar chegaram às terras americanas com os europeus, e que os indígenas desta parte do posteriormente chamado Novo Mundo, à exceção dos incas e outras poucas tribos, eram pouco desenvolvidas.

Um desses grandes feitos indígenas, infelizmente pouco conhecido dos estudiosos brasileiros, é o chamado Caminho de Peabiru. Com mais de três mil quilômetros, o Peabiru foi, a estrada transcontinental mais importante da América do Sul até pouco depois da chegada dos europeus. Ele ligava, segundo estudos, os Andes ao oceano Atlântico, servindo como ligação entre os nossos guaranis e os demais povos sul-americanos. Fascinante, misterioso, polêmico, tido como sagrado, o Caminho unia o litoral do que hoje se conhece por Santa Catarina e São Paulo ao grande império inca no Peru. O Caminho Peabiru foi a mais importante via transcontinental da América do Sul. Era uma “estrada” indígena com tronco e ramais, formando uma rede. A palavra Peabiru é tupi-guarani e se traduz de variadas formas: “caminho forrado”, “por aqui passa caminho antigo de ida e de volta”, “caminho pisado”, “caminho sem ervas”, “caminho que leva para o céu”, entre outras. O Caminho foi descrito no século XVI como possuindo cerca de oito palmos de largura, e uma profundidade de 0,04 m sendo em partes forrado por gramíneas que impediam o crescimento do mato. Ao alcançar os Andes na Bolívia, o Peabiru se transformava em estrada inca, geralmente pavimentada com pedras, seguindo assim até Cuzco, e depois dirigindo-se ao litoral do Peru. Em outros trechos, conforme o ambiente circundante, a trilha era marcada com estacas, caso do Chaco, Pantanal e areais.

Em 1555 o ex-adelantado (adiantado ou adelantado era um funcionário do Reino de Castela que tinha a máxima autoridade judicial e governativa sobre um distrito Durante a conquista da América por Espanha, o rei concedeu o título de adelantado aos conquistadores que empreendiam expedições com meios privados e que se convertam em representantes da Coroa no território que conquistassem) do Paraguai, Álvar Núñez Cabeza de Vaca¹, contava sua caminhada desde a região dos pampas até Assunção usando “o caminho feito por estes índios, o Peabiru(...)”.

Em 1612 Díaz de Guzmán² falava também do “Peabeyú”, um caminho bem marcado. O padre Montoya, fundador das missões, fundador das missões do Guairá, escrevia em 1639 que viu “(...)um caminho que tem oito palmos de largura(...)”.

Ainda não é possível saber a rota exata do Caminho, mas é possível traçar um roteiro aproximado. (faz-se preciso esclarecer que, as denominações territoriais utilizadas aqui representam a forma contemporânea da nomenclatura) O tronco principal, que começava em São Vicente e Cananéia, seguia a direção rio Tietê, município de Itu, rio Paranapanema, rio do Ribeira do Iguape. Entrando no PR, percorria Doutor Ulisses, Cerro Azul, Castro, Tibagi, Reserva, Cândido de Abreu, Nova Aurora, Tupãssi, Assis Chateaubriand, Palotina, Guaíra. O Peabiru deixava o estado do Paraná por Guairá. Havia outra passagem por Foz do Iguaçu – a mesma usada por Cabeza de Vaca. No Paraguai a entrada se fazia por dois ramais. O primeiro era rio Mondai, Assunção, rio Paraguai, Chaco. O segundo, rio Iguatemi, Alto Chaco, Porto Casado. O Peabiru, então, seguia ao norte até a serra de Santa Luzia, perto de Corumbá. Em Puerto Suarez, penetrava na Bolívia. Passava por Cochabamba, Sucre, Potosi. Nesses locais existiam caminhos incas e era provavelmente ali que o Peabiru já se confundia com eles. A partir dali, a estrada inca seguia pelo Desaguadero, ou por uma linha paralela mais ao norte. Alcançava depois o Titicaca, entrando no Peru. Contornava o lago pelo norte e pelo sul. A bifurcação se unia em Cacha e rumava a Cuzco. A partir dali havia opções para alcançar o Pacifico. As mais próximas eram Tacna, Moquegua e Arequipa.

¹Álvar Núñez Cabeza de Vaca (Jerez de la Frontera, 1492 - †Sevilla, (?). Conquistador espanhol de família nobre, era neto de Pedro de Vera conquistador da Gran Canária.

²Ruy Díaz de Guzmán (Assuncão, Paraguai, c. 1558 –† 1624) Conquistador e cronista paraguaio; foi o primeiro escritor nascido na região do Rio de la Plata e o primeiro a utilizar o topónimo Argentina. Ruy Díaz de Guzmán, era filho de Alonso Riquelme de Guzmán e de Úrsula de Irala (por sua parte Alonso Riquelme era sobrino de Álvar Núñez Cabeza de Vaca, e Úrsula era filha de Domingo Martínez de Irala e uma aborigene).

Existem três hipóteses principais para o surgimento, a construção do Caminho de Peabiru. A primeira, seria a tese do Caminho da Terra Sem Mal essa hipótese supõe que o Peabiru tenha sido aberto pelos guaranis ou por povos anteriores – talvez os itararés. No caso há quem atribua uma conotação religiosa a essa possível obra guarani. Originaria do Paraguai, a tribo teria se deslocado para o litoral sul do continente entre os anos 1000 e 1300. O Peabiru teria sido aberto nessa migração, cujo objetivo era a procura de um paraíso sagrado, a Terra Sem Mal. A motivação religiosa teria transformado também o Peabiru em algo sagrado.

A segunda hipótese supõe a contrução do Caminho como uma iniciativa inca ou pré-inca. Neste caso, o Peabiru seria um meio para a prospecção de territórios do Atlântico, visando o comércio com as tribos selváticas do Paraguai, Mato Grosso, Paraná, São Paulo e Santa Catarina. Primeiro, uma estrada de comércio, depois, quem sabe, uma estrada de penatração definitiva nas poderosas civilizações andinas do Atlântico sul. Vários autores levantam essa hipótese: Romário Martins, Augusto Pinto, o Barão de Capanema e Caldas Tibiriçá. Como via de mão dupla, o Peabiru permitiu a chegada dos guaranis aos Andes. Mesmo sem relações duradouras, as idas e vindas de guaranis e incas pelo Caminho deixaram vestígios de certa influência cultural na astronomia, estatística, música, armamento e nos meios empregados no trato com a fauna e flora.

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