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O Fichamento do Texto: Cultura Política e Ditadura

Por:   •  4/10/2021  •  Pesquisas Acadêmicas  •  1.964 Palavras (8 Páginas)  •  150 Visualizações

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MOTTA, Rodrigo Patto. Cultura política e ditadura: um debate teórico e historiográfico. Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 10, n. 23, p. 109  137, jan./mar. 2018. 

Daniel Ribeiro Ferreira Junior

Conforme o próprio autor, o objetivo do texto é apresentar contribuições acerca da utilização do termo “cultura política” no campo dos estudos historiográficos.

        “Se a categoria cultura política vinha sendo utilizada de maneira crescente desde há alguns anos, especialmente devido ao impacto da renovação da história política e ao giro culturalista, a atual crise brasileira trouxe novos estímulos para pensar o país perscrutando tradições arraigadas e dilemas estruturais”.

        Nesta perspectiva, pensar o termo dentro do cenário brasileiro torna-se necessário, uma vez em que o país atravessa nos últimos anos uma grave crise no campo político. Trazer à tona tais discussões permite refletir alternativas viáveis para os problemas aqui enfrentados.

        Motta inicia sua discussão situando historicamente o surgimento da utilização do termo. Para ele, “a inspiração teórica remota encontrase em autores do século XIX, que já se interessavam pelos impactos de valores e comportamentos culturais sobre a política. No entanto, o desenvolvimento sistemático do conceito deuse no contexto pósSegunda Guerra, época em que as ciências sociais norteamericanas se internacionalizaram e se envolveram com a lógica da Guerra Fria”.

        Além disso, conforme suscita o autor, o termo era pensado a partir de determinadas delimitações espaciais, o que abria uma possibilidade de ser uma categoria conceitual etnocêntrica. No entanto, as várias discussões teóricas sobre o conceito, permitiram com que este trouxesse boas contribuições para pensar a política em conexão com a cultura.

        “Os historiadores se apropriaram desta construção teórica das ciências sociais, notadamente a partir do “retorno” e da renovação da história política nos anos 1980 e 1990, mesmo período em que o giro culturalista se fez sentir nos meios historiográficos”.

        “Entre os franceses, destacaramse, entre outros, Sirinelli e Berstein, cuja contribuição veio a se tornar muito conhecida no Brasil [...], o grupo francês teve como maior fonte de inspiração a antropologia, de cujo conceito de cultura se apropriaram. Eles sugeriram outra forma de conceber cultura política, partindo de duas críticas principais ao modelo norteamericano: primeiro, rejeitaram suas implicações etnocêntricas; segundo, consideraram inadequada a perspectiva nacional, tida como excessivamente generalista. Sua proposta é pensar a categoria em termos plurais, buscando identificar as diferentes culturas políticas que integram e disputam um mesmo espaço nacional”.

        “Em uma tentativa de contribuir para o debate, em 2009 publiquei um texto em que propus a superação da aparente dicotomia entre os dois modos de conceber cultura política, no singular e no plural. Em outras palavras, a proposta era evitar a contraposição polar entre a perspectiva nacional e a matriz pluralista”. A intenção do autor era de evitar uma polarização em termos de “perspectivas nacional e a matriz pluralista”.

        “O campo da política supõe o protagonismo de agentes que fazem escolhas: há sempre margem para a opção entre diferentes caminhos de ação. Assim, não há que supor oposição entre a influência de padrões culturais e o arbítrio dos agentes políticos”.

“Por outro lado, embora cultura política implique relações sociais, valores e imaginários estruturados, bem enraizados na sociedade, isso não significa a impossibilidade de mudança”.

“Fundamental reiterar a importância de estudar o fenômeno em dimensão comparativa, entendendo que a partir do contraste entre culturas políticas diversas poderemos perceber melhor suas características e peculiaridades, que ficam mais visíveis quando comparadas com outras realidades e tradições”.

“Com base nas contribuições tanto de cientistas sociais quanto de historiadores, no mesmo texto publicado em 2009 sugeri uma conceituação para cultura política: conjunto de valores, tradições, práticas e representações políticas, partilhado por determinado grupo humano, que expressa/constrói identidade coletiva e fornece leituras comuns do passado, assim como fornece inspiração para projetos políticos direcionados ao futuro”.

Essa conceituação do autor é extremamente importante na medida em que faz interagir o conceito antropológico de cultura interligada as construções individuais e coletivas dos sujeitos. Em outras palavras, coloca o indivíduo enquanto um ser político. No entanto o autor adverte que: “há, por exemplo, quem utilize cultura política em sentido próximo a ideias políticas, ou mesmo a imaginários políticos. No entanto, correse o risco de reduzir o seu potencial analítico já que, nessas versões, não se levam em conta as práticas e ações políticas que, simultaneamente, expressam e ajudam a construir as culturas políticas”.

A partir dessas reflexões teórico-conceituais, o autor parte para a compreensão das estruturas políticas brasileira. Para isso o autor se apropria de algumas reflexões de determinados ensaístas mais conservadores, para compreender “as estruturas que mantêm as tradicionais desigualdades sociais do Brasil”.

De acordo com Mattos, “eles elaboraram insights interessantes para pensar a cultura brasileira, apontando tipos de comportamento que se enraizaram na tradição, com notável incidência política, como patrimonialismo, cordialidade, paternalismo, autoritarismo, personalismo, clientelismo, pragmatismo, além das tentativas de escamotear conflitos e buscar a integração social, cujo ponto culminante é a conciliação/acomodação”.

“É necessário afirmar que a existência de cultura política implica um imaginário, neste caso, nacional, um conjunto de representações que contribui para instituir o grupo como comunidade política”. Sendo assim, compreende-se o porquê no Brasil, houve ao longo dos anos a tentativa de se criar uma narrativa para a construção do país, onde os diversos atores interpretam os mais diversos papeis.

Essas narrativas tidas a partir das “representações construídas por meio de imagens mentais ou visuais que são disseminadas, reproduzidas e reapropriadas ao longo do tempo, processo em que atuam tanto a memória como a historiografia, além da literatura, da cultura visual e das diferentes mídias”.

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