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O Resumo Gladis

Por:   •  13/7/2021  •  Ensaio  •  982 Palavras (4 Páginas)  •  76 Visualizações

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Segundo Carlo Ginzburg,após analisar as ideias do crítico russo Viktor Chklovski, o estranhamento se constrói como mecanismo da arte para reavivar nossos sentidos que eventualmente ficam “amortecidos” diante do corriqueiro. Neste sentido, através de um percurso sobre as obras de Tolstói, Marco Aurélio e Marcel Proust o historiador se vale de algumas concepções para atingir o seu “ideal” de estranhamento. Para ele, na tradição de Tolstói, “o estranhamento é um meio para superar as aparências e alcançar uma compreensão mais profunda da realidade.”(pág.36) Já Proust teria uma percepção ao contrário de Tostói ao “proteger o frescor das aparências contra a intrusão das ideias, apresentando as coisas “na ordem da sua percepção”, ainda não contaminadas por explicações casuais.” (pág. 36). Entretanto, apesar de caminhos opostos, Ginzburg encontra  pontos de contato em ambos os autores ao afirmar que eles “apresentam as coisas como se vistas pela primeira vez”(pág.37). Para o autor, a ideia central de estranhamento se desdobra no meio dos historiadores no momento em que estes atribuem significação aos fatos analisados sob uma ótica de esvaziamento de sentido. Assim, a partir do estranhamento, do contato “ingênuo” com a fonte é que o historiador passa a construir uma significação mais profunda dos fatos. “compreender menos, ser ingênuos, espantar-se, são reações que podem nos levar a enxergar mais, aprender algo mais profundo, mais próximo da natureza.” (pág.29). A partir desta concepção, o acontecimento, segundo a visão de Arlette Farge, é festejado pelo historiador e assim este “inclui-o em seu procedimento como aquilo que traz a justificação do quer demonstrar”(pág.73). Neste sentido, o estranhamento e o acontecimento não seriam dissociáveis, mas complementares na medida em que o historiador se utiliza dessa visão “ingênua”, encantada do acontecimento para vislumbrar suas possibilidades de representação. Deste modo, o estranhamento como fórmula de resgate da essência das coisas atingiria a “irregularidade” própria do acontecimento, tornando-o o fio condutor para um relato permeado de provas e justificativas para o discurso apresentado. Portanto, ao atingir um grau de estranhamento o historiador não deixa de “amar o acontecimento” mas o utiliza para atingir o âmago daquilo que deseja representar em seu relato. Ademais, Farge afirma que cabe aos historiadores “tratar o excesso, a disfunção, reelaborar os sentidos e “pensar” o peso das palavras e sua estranha maneira estar entre diversos lugares ao mesmo tempo”(pág. 79). Não seria esse ordenamento de excessos a própria reelaboração de um estranhamento? O historiador não parte de um estranhamento da fonte, da testemunha para constituir seu relato em diferentes lugares dentro de um mesmo tempo? Ginzburg talvez respondesse esses questionamentos com uma afirmativa ao aproximar a ideia de estranhamento com o gênero das adivinhas: “para ver as coisas devemos, primeiramente, olhá-las como se não tivessem nenhum sentido: como se fossem uma adivinha”(pág.22). E continua mais adiante: “o estranhamento é um antídoto eficaz contra um risco a que todos nós estamos expostos: o de banalizar a realidade(inclusive  nós mesmos).”(pág.41) Desta maneira, Farge, se aproxima de Ginzburg ao dizer que a tarefa do historiador é “fazer falar o acontecimento, por certo, mas permanecendo surpreso por ele”(pág.83). Assim, para evitar a rasidão de representação dos acontecimentos o historiador deve partir de uma posição de estranhamento, de surpresa ante aos fatos.

De acordo com Prost “para um historiador, a definição de um enredo consiste, antes de mais nada, em configurar seu tema; ele nunca o encontra já pronto, tem de construí-lo, modelá-lo por um ato inaugural e constitutivo que pode ser designado como a criação de enredo.”(pág.218). Neste sentido, o historiador constrói a sua fórmula de narração através da possibilidade de escolha de cenários, episódios, personagens e forma de relato que, pode ser ressignificado, à medida do revisionismo do próprio historiador. “A construção do enredo é o ato fundador pelo qual o historiador recorta um objeto particular na ilimitada trama de acontecimentos da história. No entanto, essa escolha implica ainda outro aspecto: ela constitui os fatos como tais.”(pág.219). Deste modo, para se “visualizar” o acontecimento deve-se adentrar nas variáveis do enredo. para Prost. além disso, o historiador deve estar atento as sinuosidades do caminho de configuração narrativa, uma vez que a depender do enredo cada representação terá uma importância relativa. “A criação de enredos configura, portanto, a obra histórica e, inclusive, determina sua organização interna”(pág.220). Nesta perspectiva, o filósofo Slavoj Zizek define o enquadramento, através da psicanálise, como fantasia e que esta fantasia se constitui como desejo; “literalmente nos ensina como desejar”(pág.30). Assim, o autor prossegue afirmando que a fantasia como, formulação de um enquadramento, é necessária não para nos distanciar da realidade, mas promover a superação de uma visão ingênua desta ao nos fazer aceitar suas inconsistências. “Em nossa existência cotidiana, ficamos imersos na “realidade”, estruturada e sustentada pela fantasia mas essa própria imersão nos torna cegos ao arcabouço da fantasia que sustenta nosso acesso à realidade.”(pág.32). Desta maneira, Zizek adentra pela formulação de Heidegger sobre a essência da técnica, traduzida por “enquadrar”. De acordo com esta definição “no momento em que nos tornamos conscientes e assumimos plenamente o fato de que a técnica em si, em sua essência, um modo de enquadramento, nós a superamos-é essa a versão de Heidegger de travessia da fantasia.”(pág.34). Através deste percurso, filosófico e psicanalítico, o filósofo chega a sua reformulação de acontecimento: “acontecimento como algo que enquadra-como uma guinada em nossa relação com a realidade-para o acontecimento como uma mudança radical dessa realidade em si.(pág.35). Neste sentido, a definição de enquadramento de Zizek se aproxima da visão de enredo de Prost à medida que ambas as concepções colocam os fatos narrados como objeto de recorte de uma realidade por parte do historiador, assim para se constituir um relato o historiador deve-se valer também da superação dessa mesma realidade apresentada, pois a formulação do enredo significa a trajetória por representações cuja verdade se configura a partir da relativização do enredo, da visão do historiador, do enquadramento. Isto é, a forma de análise dos acontecimentos.

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