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O Rio Claro pelo Avesso

Por:   •  10/7/2018  •  Ensaio  •  636 Palavras (3 Páginas)  •  225 Visualizações

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F.F.C. Rio Claro pelo avesso. Cidade de Rio Claro, 24 de dezembro de 1978.

“Não sabia a razão por que havia de trabalhar toda sua vida em proveito exclusivo de um homem igual a si”. Esta foi a resposta dada por um escravo de Rio Claro quando lhe perguntaram o motivo de ter assassinado seu senhor.

Os donos de escravo não podiam aceitar a ideia de que uma consciência tão clara da realidade em que viviam e da necessidade de transformá-la estivesse brotando entre aqueles que eram subjulgados. Em abril de 1871, esses fazendeiros solicitaram ao presidente da província que enviasse uma guarnição militar permanente para o município de Rio Claro, a fim de reprimir as manifestações crescentes dos negros.

Estas revoltas nasceram da própria situação de vida à qual os escravos estavam submetidos. A consciência brotou no trabalho diário, na vivência das contradições, nas senzalas, nos quilombos, nas capoeiras. Os fazendeiros não podiam admitir isso, pois se o fizessem teriam de aceitar que o negro – ao contrário do que apregoavam esses senhores de terras – não era uma raça inferior a sua. Justificavam que o contato com o branco e a mistura de raças é que estavam levando a esse tipo de comportamento. Desta forma, não eram os negros, mas sim o fato desses se cruzarem com os brancos que estava gerando a busca da liberdade.

O discurso ideológico das elites rio-clarenses, no que se refere aos negros, não termina aí. Num livro recentemente editado aqui em Rio Claro, encontramos trechos do tipo: “Rio Claro sempre esteve na vanguarda dos movimentos em prol da abolição da escravatura e foi uma das primeiras províncias de São Paulo a libertar seus escravos” (Rio Claro. Coletânea Histórica” – Oscar de Arruda Penteado). O autor segue dando exemplos de escravos que foram libertados por seus senhores e fala sobre a alegria de ambos pelo ocorrido. Encerra o capítulo dizendo que “Rio Claro, oficialmente a 5 de fevereiro de 1888, dava liberdade total a seus escravos, com 93 dias de antecedência à gloriosa “Lei Áurea” de 13 de maio, assinada pela Princesa Isabel”.

Warren Dean em seu livro “Rio Claro: um sistema brasileiro de grande lavoura 1820-1920 “mostra que em 1871” os fazendeiros quase unanimemente acreditavam que a abolição da escravatura representaria a fuga em massa das lavouras e sua ruina financeira. Prossegue afirmando que “no período de 1846 a 1856, as alforrias num grupo médio de mil escravos eram aproximadamente de quatro por ano”, quase insignificante. Além disso, os escravos, para conseguir a alforria, “depositavam seus pecúlios com os juízes locais, os quais fixavam o seu valor e lhes concediam a alforria quando os depósitos fossem suficientes”, o significa que as alforrias não foram uma concessão dos fazendeiros, mas sim, que elas foram compradas pelos escravos. “Todavia, até os últimos meses da escravidão em Rio Claro, as oportunidades de um escravo morrer eram maiores do que as de conseguir alforria. Entre 1877 e 1884, cerca de 80 escravos morriam anualmente no município, contra 12 que eram libertados”. Entre 1871 e 1884, 90% dos escravos libertos eram ingênuos, quando já estava em vigor a Lei do Ventre Livre.

A fuga de escravos aumentava espantosamente e suas manifestações cresciam. Nas palavras de Dean, “Rio Claro estava cercada de sublevações”. Aponta o autor vários exemplos históricos que demonstram que os fazendeiros rio-clarenses nunca estiveram na vanguarda dos movimentos em prol da abolição da escravatura e, muito pelo contrário, sempre procuraram paliativos que visavam a permanência do regime escravista.

Lucas Ribeiro Prado, um abolicionista rio-clarense, afirmou que o escravo “de repente declarava que não queria mais servir ao seu senhor, ou era vendido a outro, ou fugia para não mais voltar, na conquista da sua liberdade, ou suicidava-se, ou queixava-se de doente, ou degolava o senhor. Tendo ficado tudo isso provado com os fatos repetidos, foi declarada a liberdade”.

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