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O Sambista Como Intelectual

Por:   •  18/3/2021  •  Trabalho acadêmico  •  2.313 Palavras (10 Páginas)  •  131 Visualizações

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A intelectualidade do sambista

Diogo Natan Correa Quintas[1]

Resumo

O seguinte trabalho busca mostrar a invisibilidade do sambista como intelectual, além de tratar como o samba, sendo um forte elemento da cultura nacional, tem uma grande contribuição social da cultura afro-brasileira e apresentar a importância do negro quanto sujeito histórico.

Palavras-chave: Intelectual; intelectualidade negra; samba

Abstract

The following work seeks to show the invisibility of the samba dancer as an intellectual, since they produce a popular music and not an erudite one, being disassociated from an intellectualized figure. It will deal with the musical hierarchy, the organic intellectuality of the sambista and the social invisibility of black people in Brazil.

Keywords: Intellectuality; black intellectuality; samba

Introdução

O presente trabalho busca evidenciar a invisibilidade do sambista como um intelectual e como o samba sofreu uma tentativa de distanciamento da cultura africana diante o projeto nacionalista de Vargas. Em um primeiro momento, será debatido o conceito de intelectualidade e a intelectualidade orgânica tratada em Gramsci e sob as luzes Zilda Martins, Maria Ângela Borges Salvatori e Giovanni Semeraro, de como o sambista pode ser associado a esse conceito, uma vez que busca o despertar de consciência da comunidade onde atua, individual e coletiva, enquanto unidade de resistência, função social e contestação à cultura hegemônica, e através da análise de duas músicas do sambista Wilson Batista, poderemos enxergar essa questão. Em seguida, a partir dos estudos de Karen Pêgas, será tratado como o samba representa um forte elemento cultura nacional e evidenciar a relevância da contribuição social, cultural, econômica e política que os afro-brasileiros possuem dentro da história do Brasil, sendo assim, apresentar a importância dos negros enquanto sujeitos históricos, sendo destacado outro sambista Paulo da Portela e sua importância relação com os acontecimentos da era Vargas

  1. O Conceito de Intelectualidade

Como início desse trabalho, é necessário tratar-nos acerca da pergunta, o que é intelectual? De acordo com a definição retirada do dicionário, a palavra tem origem do latim, intellectuale, e se relaciona ao intelecto, dotes de inteligência e espirito. Porém, necessitamos de uma formulação mais empírica do conceito, por isso iremos tratar de Marx e Engels, que no trabalho A ideologia alemã, destacam essa função como privilegiada, de certo segmento da classe dominante, que se dedica a pensar. Por essa analise acabamos por restringir intelectual como alguém que exclusivamente pensa, desassociando ao trabalho braçal, secundarizando e delegando essa função aos indivíduos de classe social explorada. (MARTINS, 2011)

Essa definição pouco abrangente é contestada por Gramsci, que entende por intelectual qualquer sujeito com capacidade criativa, onde muda apenas as atividades e as relações sociais, sendo assim, todo homem é intelectual, mas nem todos os homens tem na sociedade a função de intelectual. (SEMERARO, 2006)

Com isso, passa a existir dois grupos de intelectuais, os tradicionais que se vinculam a um determinado grupo social instituição ou corporação e que expressa os interesses particulares compartilhados pelos seus membros. Já os orgânicos são os que provem de sua classe social de origem e a ela mantém-se vinculado ao atuar como porta-voz da ideologia e interesse de classe, cabendo a eles a tarefa de tarefa de romper com a hegemonia burguesa a partir da formulação do questionamento e crítica social capazes de abalar e superar a ideologia dominante. (SEMERARO, 2006).

  1. Sambista como Intelectual Orgânico

Após a introdução do conceito de intelectual orgânico de Gramsci, iremos evidenciar como o sambista da década de 30, os intitulados ‘’malandros’’ tratavam em suas letras temas como analfabetismo, escola, educação, formação e experiencia. Podendo ser vistas como portadoras de uma tradição de luta por liberdade, herdados desde os tempos da escravidão. Outro fator interessante é sobre a vadiagem que era atribuída a esses grupos, uma vez que procuravam uma vida com alguma independência, resgatando a ideia do ‘’viver sobre si’’, sentido de liberdade ainda dos tempos da escravidão, que foi utilizado como uma forma de repressão por parte dos grupos dominantes, desesperados por uma nova forma de disciplina social. (SALVATORI, 2018)

 Utilizando os estudos de Bakhtin sobre a interação verbal e a linguagem como pratica social, onde o sujeito pode ser compreendido em termos de seu sentido em relação ao outro, além da utilização do humor como ferramenta de crítica social e de uma possibilidade de liberdade, já que o tom cômico questiona as estruturas sociais e a desigualdade (BAKHTIN,1987 apud SALVADORI, 2018). Com isso, sustenta-se a hipótese de que os sambas e marchas compostos pelos sambistas autodefinidos como malandros, repletos de ironia e humor, podem ser tomados como fontes históricas que realizavam críticas sociais. (SALVADORI, 2018).

Os estudos sobre música como uma fonte histórica tornaram-se comuns nos anos 80, onde passaram a vê-la como um mecanismo que dava acesso à cultura e ao cotidiano dos grupos populares. Diante esse ponto, pode-se evidenciar o trabalho de Hobsbawm, História Social do Jazz (1990), onde o autor traz uma análise sobre o jazz a partir da sua origem social, sendo uma música ligada a experiencia africana nos EUA, onde mescla ritmos africanos com europeus, além de ser uma cultura popular, onde as raízes desse ritmo originaram-se das tradições orais, sendo um ritmo visto como inferior e marginal. (SALVATORI, 2018).

 Boa parte da análise de Hobsbawm sobre o jazz pode ser visto no samba brasileiro, sendo também ligado a grupos marginalizados, com estruturas musicais marcados por ritmos de matriz africana. Sendo assim, é possível pensar os sambas, em especial os sambas de malandro, como histórias sonoras que carregam significados atribuídos às experiencias sociais especificas de um grupo. Além disso, o samba pode ser enxergado como uma ferramenta de educação poética, sentimental e política, tendo como referencial Marcos Napolitano, ao estudar as canções no período da ditadura, onde algumas canções do período buscavam realizar uma ‘’educação poética e sentimental da cidadania e do consumidor cultural que se supunha crítico ao regime militar’’ (...)” (NAPOLITANO, 2010 apud SALVADORI, 2018). Complementando Napolitano, pode-se vincular Antônio Candido, que enxerga a literatura como um instrumento de educação que humaniza e atua sobre a formação da sociedade, uma vez que de algum modo referência a realidade, possuindo caráter integrador e formativo mais intenso que a escola proporciona (CÂNDIDO, 2002 apud SALVADORI, 2018).

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