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Percursos da imigração italiana do Sul do Brasil: entre regionalismos e a unificação

Por:   •  30/3/2021  •  Artigo  •  2.541 Palavras (11 Páginas)  •  123 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

ARTIGO FINAL

Disciplina: HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO SUL - HUM03066  

Professor: Fabio Kuhn

Aluna: Debora Mazzini


Percursos da imigração italiana do Sul do Brasil: entre regionalismos e a unificação

Em 1820, D. João VI estabeleceu um decreto que criava as denominadas colônias “oficiais” que iriam receber os imigrantes e suas famílias, que vinham para o país, de diferentes localidades com a promessa de lotes de terra e condições de trabalho. A partir desta determinação, foram construídos diferentes percursos pelos imigrantes vindos de diversas regiões da Europa para o país nos anos seguintes. Neste contexto, o artigo busca aprofundar os estudos e reflexões acerca da imigração italiana no Rio Grande do Sul, analisando como estes imigrantes provenientes de diversas regiões da Itália, interagiam entre si e com a localidade que se instauraram no sul do país. É importante ressaltar o reconhecimento dos imigrantes como um grupo heterogêneo, com diferentes valores que orientavam suas condutas, gerando conflitos e solidariedade nas colônias.

Ao analisar as regiões coloniais do Rio Grande do Sul, a partir de uma revisão bibliográfica de diferentes artigos e textos que analisam  caminhos traçados por grupos de imigrantes vindos da Itália no sex XIX, o presente artigo identificou três grupos principais para se compreender as relações sociais e construção identitárias da colonização, os católicos, os maçons e os austríacos. Desta forma, para uma melhor compreensão dos percursos traçados pelos imigrantes italianos, o texto foi divido em quatro momentos que buscam refletir desde o contexto histórico da imigração para se compreender de onde surgem os valores e costumes trazidos pelos imigrantes até os pequenos conflitos e estruturas sociais construídas nos principais territórios de colonização.

Contexto de vinda

Antes de se refletir sobre as relações, conflitos e estruturas sociais vivenciadas pelos italianos nas colônias do Rio Grande do Sul, é necessário para uma melhor compreensão de sua heterogeneidade situar o momento histórico e motivos que os traziam da Itália para o Brasil.

No século XIX a Itália é caracterizada pelas fortes identidades regionais, num contexto do país que recém passava pela unificação em 1870, com a tomada de Roma pelas tropas do Reino de Piemonte que era mais forte politicamente e militarmente, uniu os reinos da península itálica, no entanto cada região conservava sua cultura local. As novas formas de produção adotadas e o avanço do capitalismo, modificou as realidades econômicas, social e política do país. Com o crescimento industrial no meio urbano e os investimentos nos latifúndios para abastecimento de matérias-primas, os mais afetados foram os camponeses e pequenos comerciários, que buscaram na emigração alternativas para a sobrevivência, bem como resistência em relação ao sistema adotado. Desta maneira, a vinda para a América do Sul dos italianos representava para estes uma fuga da miséria que assolava os campos e cidades onde viviam na Itália, e para outros era uma perspectiva de melhores oportunidades de trabalho no cenário urbano. Por isso, muitos decidiram emigrar, com o intuito de melhorar as condições de vida (MAESTRI, 2005).

A vinda de imigrantes europeus para o Rio Grande do Sul, fez parte inicialmente de um projeto geopolítico do governo imperial no século XIX e início do século XX, que considerava a imigração um fator importante para preencher os chamados “vazios demográfico” no Sul do país. Pós independência, a decisão de manter as imigrações na região sul tem relação também com a ideia de fortalecer as fronteiras. Um aspecto importante neste contexto é a questão indígena, que parecia ser desconsiderada quando se pensava na ocupação de terras. Também a perspectiva da imigração num contexto de fim do trabalho escravo e substituição pelo trabalho livre, principalmente como uma substituição do negro escravo pelo branco europeu em um processo de colonização visto como civilizatório, baseado na pequena propriedade.

O processo imigratório no Rio Grande do Sul inicia em 1875 com a criação de núcleos coloniais, com a perspectiva da venda de terras devolutas do Império, o aumento agrícola e populacional na região sul, as principais colônias a receber imigrantes italianos foram Conde D’Eu, Dona Isabel e Caxias (Campo dos Bugres), e mais tarde em 1877 a colônia de Silveira Martins. Grande parte dos migrantes provinham do norte da Itália: Vêneto, Lombardia, Friuli e Trentino- Alto Ádige.

Segundo os estudos de Giron (1989), a imigração italiana não formava um grupo coeso em sua chegada ao Brasil, haviam três grupos politicamente antagônicos: os “austríacos” que defendiam o domínio da Áustria sobre a Itália; os “carbonários” que defendiam a unificação do país e os “católicos” que desejavam a manutenção do domínio papal sobre os Estados Romanos.

O recorte espacial presente neste artigo serão estas quatro colônias citadas, para se compreender sobre as relações estabelecidas pelos imigrantes italianos considerando suas ideologias e crenças conflituosas para construção de uma identidade nesta nova terra.

 

Conde d’Eu, Dona Isabel e Caxias

Nos anos 1870 a 1876, as colônias Conde D’Eu e Dona Isabel foram administradas pela Província, por meio de Comissões de Terras que eram encarregadas da medição e demarcação de lotes para a vinda dos imigrantes. A partir de 1876, se intensificou a chegada de italianos nestas colônias, sendo estas administradas pelo Governo Imperial por meio de diretores e funcionários nomeados no Ministério da Agricultura, Comércio e Obras. No mesmo período foi criada a colônia Caxias, no local chamado pelos tropeiros que subiam a serra em direção a Bom Jesus de “Campo dos Bugres”. As primeiras levas de imigrantes vieram do Piemonte e Lombardia, e depois do Vêneto.

Em 1884 essas colônias são, por Decretos de n. 9183 e 9182, elevadas à condição de povoações comuns e passam a ser administradas pelos municípios de São João de Montenegro (Conde d'Eu e Dona Isabel) e por São Sebastião do Caí (Caxias), na condição de distritos. A administração das colônias sistematizou o processo de povoamento e relacionamento com os imigrantes, sendo elo de ligação com as esferas maiores do poder político.

Não existia uma convivência pacífica voltada apenas para o trabalho e centralidade em lotes isolados nas colônias, as demandas de organização social, administrativa e de relacionamentos causavam brigas, crimes, distúrbios e desafios as ordens das autoridades frequentemente. Os principais conflitos nestas regiões, eram oriundos do enfrentamento de grupos de imigrantes com ideias antagônicas quanto à postura política e religiosa, além dos conflitos com as autoridades que não bem vistas pelos imigrantes. Num dos relatos apresentados no artigo de Luchese, é possível identificar os conflitos enfrentados na região devido as ideologias opostas e também a relação que se estabelecia com as autoridades sobre esta demanda.

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