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RUMO AO MARANHÃO: TEIAS MIGRATÓRIAS E MEMÓRIA DIVIDIDA

Por:   •  2/11/2020  •  Resenha  •  1.408 Palavras (6 Páginas)  •  138 Visualizações

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Universidade Estadual do Maranhão

São Luís, 01 de novembro de 2020.

Aluna: Jordana Dourado Rodrigues

Professora: Márcia Milena Galdez Ferreira

        SOBRE A AUTORA:

Márcia Milena Galdez Ferreira é doutora em História Social pela Universidade Federal Fluminense em 2015 e mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Maranhão em 2005. Atua principalmente nas seguintes áreas: História e Memória, História Agrária, História das Migrações e do Trabalho, História das Religiosidades e ensino da História. Atualmente é coordenadora do curso de Licenciatura em História da Universidade Estadual do Maranhão.

RESENHA: RUMO AO MARANHÃO: TEIAS MIGRATÓRIAS E MEMÓRIA DIVIDIDA.

Entre 1930 e 1960, o campo maranhense sofre intensas modificações, especialmente no que diz respeito ao aumento demográfico oriundo das migrações ocorridas, sobretudo, por piauienses e cearenses que, motivados por questões particulares, sejam estas relacionadas a necessidade própria de vivência ou campanhas governamentais, permeiam e dão corpo a uma das maiores regiões do estado: o Médio Mearim. Ainda há uma intensa problemática acerca da historiografia da migração maranhense, sobre quem, afinal, dá corpo a esse cenário, bem como suas motivações e significados.

Levando em consideração a região do Médio Mearim, apreende-se que este local fora historicamente adaptado as atividades migratórias, e inúmeras razões podem ser compreendidas, como a possibilidade de enriquecimento, fuga da miséria, escape de questões ambientais, sendo este último aspecto, principalmente relacionado as secas ocorridas no nordeste brasileiro, sobretudo no estado cearense.

Por outro lado, assiste-se aos intensos deslocamentos espontâneos, motivados pela ideia do Eldorado Maranhense. Vale ressaltar que diversos são os interessem que permeiam a história da migração maranhense no século XX, portanto, retirando-se da falsa ideia de que o migrante é um ser passivo e vítima, especialmente frisando as atividades provenientes do coco babaçu, a propagação da ideia de terras devolutas e acessíveis, juntamente a fertilidade da região, ou seja, há a possibilidade de enriquecimento e sustento familiar.

Devido à pouca produção documental referente a migração maranhense no século XX, a história oral configura-se como importante fonte, desse modo, levando em consideração as narrativas provenientes de migrantes e descendentes, mas sempre levando em consideração que a fonte recorrida, embora utilizada como método, não é totalizante e muito menos percebida como forma de preenchimento de lacunas.

Cada indivíduo carrega consigo uma historicidade, a qual resulta na maneira como ele se insere socialmente, observa e apreende o mundo. Desse modo, a forma como narra a experiência vivenciada possui a subjetividade que lhe é própria e, a partir disso, selecionar, “filtrar” e interpretar são as tarefas primordiais para o trabalho com a história oral. É “reencontrar o eu no tu” e, de maneira criteriosa, julgar o que são as expressões de vivência e ter em mente que, mesmo depois de várias etapas, a certeza nunca será atingida. (ALBERTI, 2004, p.18).

Um dos méritos da história oral é ter, além da dos documentos escritos e oficiais, acesso a relatos daqueles que presenciaram diretamente o fato sobre o qual nos debruçamos. As narrações sempre trazem um algo a mais sobre o assunto que não está explícito nas publicações da mídia e nos documentos oficiais. Sobre isso, Alessando Portelli afirma que

Entrevistas sempre revelam eventos desconhecidos ou aspectos desconhecidos de eventos conhecidos: Elas sempre lançam nova luz sobre áreas inexploradas da vida diária das classes não hegemônicas. Deste ponto de vista, o único problema colocado pelas fontes orais é aquele da verificação [...].

Mas o único e precioso elemento que as fontes orais têm sobre o historiador, e que nenhuma outra fonte possui em medida igual, é a subjetividade do expositor. Se a aproximação para a busca é suficientemente ampla e articulada, uma seção contrária da subjetividade de um grupo ou classe pode emergir. Fontes orais contam-nos não apenas o que o povo fez, mas o que poderia fazer, o que acreditava estar fazendo e o que agora pensa que fez. (PORTELLI, 1997, p.31)

Portanto, o trabalho com a história oral é criterioso, enigmático e ao mesmo tempo revelador, pois a relação de valorização do indivíduo é reciproca. Ao abordar a pessoa e mencionar o que se espera daquele diálogo, o sujeito logo menciona não saber “ajudar naquilo”, mas no decorrer da entrevista, ocupa um espaço privilegiado: de detentor de conhecimento. Percebe que mesmo conversando com pesquisadores que detém certa erudição, possuem um alto grau de informações de grande relevância e a partir desse fluir da conversa, entrevistado e entrevistador partilham e discorrem sobre experiências.

É de extrema importância analisar que, dentre os 21 municípios pertencentes ao atual Médio Mearim, a sua grande maioria possui nomes relacionados a possibilidade de boa vivência em terras maranhenses, por exemplo: Bom Lugar, Esperantinópolis, Igarapé Grande, Olho d’Água das Cunhãs etc. Como supracitado, diversas campanhas governamentais, além das ideias difundidas entre os grupos, difundem a ideia de terra propícia para plantio, com bons invernos, local onde “as folhas nunca secam, onde as águas sempre correm” (ALMEIDA, 1995 apud FERREIRA, 2015).

Como já mencionado, o migrante não deve ser visualizado como personagem passivo, embora seja impossível desvencilhar, sobretudo nas narrativas, as problemáticas referentes as secas oriundas principalmente no Ceará, em contrapartida, apreende-se o ideal de economia familiar, do arroz, coco babaçu, o clima chuvoso, que propiciava boas plantações e terras sem dono.

No final dos anos de 1970, em decorrência da Lei de Terras Sarney, personagens antes não mencionados, como grileiros, fazendeiros e empresários demonstravam que o tempo de terras devolutas atingia seu fim definitivo e entrava em cena violentas disputas para dominação territorial. (BARBOSA, 2015). Essa realidade atinge homens e mulheres que precisam modificar suas formas de trabalho e, muitas vezes, seu local de moradia. Intensifica-se a negociação de terras devolutas e assiste-se ao avanço da grilagem e da pecuária extensiva, que transformam drasticamente diversas áreas rurais do Maranhão, dentre as quais, o Médio Mearim.

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