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Resenha do livro: O ano mil - Georges Duby

Por:   •  24/4/2018  •  Abstract  •  2.538 Palavras (11 Páginas)  •  1.379 Visualizações

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         DUBY, Georges. O ano mil. Lousã: Tipografia Lousanense, 1986

         

         Georges Duby foi um historiador francês, especialista em Idade Média. O objetivo do livro O Ano Mil é apresentar e comentar como se portou a sociedade e a igreja durante o conturbado ano 1000. As fontes utilizadas em sua pesquisa foram diplomas notificando decisões reais, cartas pessoais, cartas eclesiásticas, transferências de possessões, obras literárias e poemas do período, que apareceram de fato a partir do século XV em arquivos na Inglaterra, Alemanha, França e Itália.         
         O primeiro capítulo intitulado como O Sentido da História, tem início com o apontamento de aspectos gerais sobre o ano mil, tido como trágico para a história. Segundo o autor, neste ano aconteceram coisas assombrosas e devido a religiosidade da época acreditava-se estar iniciando o fim do mundo. A Europa estava sendo assolada por tremores violentos e a passagem de um cometa seria o presságio final para que tudo acabasse.         
        No ano dos acontecimentos aterrorizantes, o imperador de Roma era Otão III, que tentava reunir o império, na esperança de adiar o fim dos tempos, uma vez que, acreditava-se que o fim do mundo só viria quando todos os reinos estivessem separados do Império Romano. Em contrapartida, havia a crença cristã, crença esta que pregava aos fiéis que o juízo final viria rigorosamente ao fim do ano mil.  Além disso, ao longo da obra, o autor deixa explícito todas as crenças do período que causava tanto medo. O ano 1000 d.C. seria o ano em que satanás, solto da sua prisão, atormentaria toda a terra - o que supostamente aconteceu –, entretanto, sem juízo final ao término do ano.         
        Georges Duby aponta uma nova preocupação da população ao passar do primeiro milênio. Questionam-se o fato de o ano 1033 representar os mil anos da paixão de Cristo. Sendo assim, seria possível que fosse o ano do fim do mundo, uma vez que, os mil anos do nascimento de Jesus passou sem grandes danos. O autor questiona a veracidade ao afirmar que:

Porque, a bem dizer, o que interessava a estes homens, não eram os acontecimentos, mas os signos e prodígios. Com efeito, a história não tinha outra função para eles senão a de alimentar a meditação dos fiéis, de aguçar a sua vigilância, e por esse motivo evidenciar as advertências que Deus prodigalizava às suas criaturas através dos milagres, presságios, profecias. (P. 43)

O segundo capítulo da obra trata dos mecanismos mentais. O capítulo se inicia falando sobre os estudos de Gerberto[1] que foi “a propósito (...), o mais sábio dos homens de seu tempo” (P. 47). Nessa primeira parte, o autor conta a história da vida do futuro papa, conta também um pouco da infância dele, e de como era inteligente. Por ser tão inteligente e ter uma vontade enorme de aprender, foi convidado pelo papa da época que logo depois comunicou ao Rei Otão das qualidades do garoto. A partir daí, Gerberto foi iniciando sua promissora carreira eclesiástica.         
        O autor fornece informações acerca das estratégias escolares do Baixo império, onde o Trivium e o Quadrivium não se desenvolveram de maneira sólida na Itália, o que obrigou o jovem Gerberto a buscar outras fontes de conhecimento em outros lugares, apesar da dificuldade, ele obteve êxito. A partir disso, o autor discorre sobre a carreira de professor de Gerberto em Reims. Nesse contexto, conta-se os métodos utilizados por ele para com os seus discentes. Gerberto tinha especialidade nas áreas de Lógica, retórica e, sobretudo, astronomia – área na qual ganhou bastante destaque ao representar aos seus alunos as constelações austrais, além do nascer e pôr do sol através de uma esfera de madeira.         
        No decorrer do capítulo, Duby faz alusão às instruções dos monges. Faz referência a escola monástica que diferia das escolas episcopais e também às mentalidades dos monges que, segundo o autor “tinham fugido aos prazeres do mundo, viviam no silêncio. Para que inicia-los nas artes (perversas) da eloquência e da persuasão?” (P. 57). A partir daí, o autor começa a fazer comparações entre o cotidiano e crenças monásticas com os dos eclesiásticos. Nesse contexto, há a apresentação de passagens bíblicas acerca do desejo de Deus, as diferenciações dos homens bons e maus, e a relação dos homens com o seu criador. Duby encerra o capítulo dizendo que

O mestre que lê diante de seus alunos um autor, Gerberto que traça sobre as esferas os signos das constelações, o monge que rumina as palavras dos salmos, esperando, segundo a palavra de São Paulo, aceder (através do visível ao invisível), penetrar enfim o enigma do mundo, ou seja, atingir Deus. (P. 63)

A terceira parte da obra trata das conexões do divino com o terreno. Traz observações sobre escrituras, hierarquia social e sobrenatural, relíquias e milagres. O autor mostra uma conexão entre os elementos naturais que representariam o “visível”, os quatro evangelhos e as virtudes humanas que representam o “invisível”. Ele descreve como seriam organizados os governos e a cidade de Deus, tendo em mente uma predestinação a qual colocaria cada um em seu devido lugar, montando, dessa maneira, uma organização política e social de acordo com a vontade de Deus, baseada sempre nas virtudes de cada um.         
         Na sua descrição de ambiente celeste, inicia falando que nada do que o homem imagina poder ver é a real imagem do que se constrói com o divino, que por mais que seja sábio o homem, não poderia alcançar o vislumbre do invisível se lhe faltar a fé no que rege os significados. Fica claro que o autor dispensa toda e qualquer análise cética sobre a construção dos significados e símbolos, afim de assim justificar a presença do ouro e da demonstração de riqueza, destoando quase que totalmente do verdadeiro significado do “invisível”. A ideia de aproximar a imagem do divino ao homem real é na verdade a busca de se fazer possível a visualização das virtudes divinas na imagem do homem, fazendo com que o mesmo sinta a presença do divino em si.         
        
A quarta parte da obra procura descrever “os prodígios do primeiro milênio”. Como o próprio título indica, discorre sobre os acontecimentos incomuns ocorrentes no início daquele momento. A abordagem se restringe à figura dos cristãos e ao temor pelo fim do mundo, junto com a ideia de um juízo final. Com isso, vinha acontecendo algumas catástrofes que indicavam, segundo suas crenças, a chegada de Jesus e a execução de uma “vingança” pelos pecados cometidos.         
        Alguns destes eventos passaram a ser recorrentes, sinalizando que estava ainda mais perto o fim dos tempos. As mortes de figuras importantes, sempre vinham acompanhadas de fenômenos fora do comum, como o Cometa, que mostrou um dos primeiros descontroles do mundo em 1014, destruindo igrejas e gerando mortes. Além disso, tiveram os Eclipses, que teve como marco, a revolta de alguns personagens da nobreza durante o nascimento dos apóstolos, que se rebelaram contra o papa, fato que os fizeram ser expulsos do cargo. Esse acontecimento mostrou a falta de fé daquele milênio e as consequências que isto estava trazendo. Ademais, o combate das estrelas, as estrelas traziam para eles o significado de desarmonia, período em que houve morte de alguns papas, conflitos civis e rebelião para com os mesmos.         
        Todavia, houveram outros fatores que surgiram junto com o juízo final além dos supracitados. Estavam baseados na ideia de perturbação na ordem natural dos homens, com fatos que faziam acreditar na ideia de monstros, surgimento de seres inusitados e deformações na estrutura humanas. As epidemias, por exemplo, significaram desordem na estrutura do homem, mas que com a fé e apego a “seitas”, haveria cura.  Contudo, uma das piores situações abordadas foi a fome, que por razão do solo infértil, causou a necessidade de sobrevivência, gerando o consumo de carne humana. Humanos devorando uns aos outros para sobreviver era, para os cristãos, o fim do mundo realmente. Todo esse caos era visto como castigo para os homens que, apesar de tudo, ainda pediam por clemência.         
        Outros fatores conturbaram o momento, a falta de caridade dos homens, o questionamento sobre as crenças, os movimentos anticristo, a penetração desses homens dentro de espaços religiosos, eram fatores tidos como heresia e subversão do tempo, daquele ano só se esperava o pior.
         
         
O quinto capítulo, que possui o título “Interpretação”, traz as perspectivas da igreja e testemunhos de pessoas que viveram durante o ano mil. Pessoas essas que foram atormentadas com a liberdade de satanás. Duby traz as acusações da igreja em torno dos fiéis, culpando-os pelos acontecimentos que se sucederam após a entrada desse ano: a fome, chuvas, e as descobertas de seitas heréticas. Os erros do clero e dos monges seriam os culpados pela calamidade da Europa.         
        
Dispondo de testemunhos, Duby retrata como Satanás aterrorizou a sociedade, chegando a aparecer para monges, fazendo-os saírem dos caminhos de Deus. No subtítulo que retrata as forças benéficas, o autor discorre sobre a relação de monges com as visões do bem e do mal, e que estes ao serem escolhidos para enxergar as lutas do mundo espiritual, logo adoeciam e morriam. O autor também retrata a questão de como a cor da pele influenciava nas questões eclesiásticas no período medieval. Acreditava-se que todas as forças advindas do mal teriam a cor negra ou a pele negra, bem como as forças do bem teriam cor clara, os anjos teriam a pele branca.         
        
De acordo com testemunhos utilizados pelo autor, as pessoas que diziam ter visto o satanás, descreviam-no como um bicho assustador, que aparecia a todos sempre aos mesmos horários tentando desvirtuá-los do caminho do bem. Com grande poder de persuasão, utilizava-se dos discursos pregados, distorcendo-os a seu favor.         
        
No sexto capítulo, há uma discussão acerca dos rituais e tradições religiosas da época em questão referentes à purificação e expurgação das almas, onde todos esses ritos eram baseados nos medos da população do ano mil e também dos séculos anteriores. O autor inicia o capítulo tratando das punições que excluíam os indivíduos da crença, seja por meio da excomunhão ou até mesmo através de fogueiras, penitências individuais -  onde o autor fala das punições mais pessoais, que tinham o intuito de demonstrar os arrependimentos do seus pecados, como por exemplo as peregrinações, esmolas e macerações.         
         No decorrer do capítulo, o autor trata das guerras santas e das lutas pela paz, citando tratados e acordos feitos para não invasão e destruição de objetos tidos como sagrados. Duby encerra o capítulo falando das peregrinações coletivas, onde faz alusão às penitências e viagens que eram feitas em grupo, tais viagens tinham como principal destino a cidade de Jerusalém, que tornou-se, nas palavras do autor, o objeto das mais exaltantes e mais salutares peregrinações.                 
        No sétimo capitulo, Duby discorre em torno das mudanças religiosas que ocorrem naquele período, fazendo críticas aos “monges que nada de santos tinham”, e mostrando como a igreja católica se apropriou disso para implantar novos costumes e regras aos grupos das comunidades as quais eles detinham o poder.

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