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A IDENTIDADE SOCIOLINGUÍSTICA DAS TRAVESTIS DO MUNICÍPIO DE CACOAL

Por:   •  26/12/2017  •  Trabalho acadêmico  •  2.857 Palavras (12 Páginas)  •  324 Visualizações

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A IDENTIDADE SOCIOLINGUÍSTICA DAS TRAVESTIS DO MUNICÍPIO DE CACOAL.

Mirian Barbosa da Silva

RESUMO: O presente artigo tem como tema: A identidade sociolinguística das travestis de Cacoal, para a realização deste se fez uso do método dedutivo e indutivo de caráter descritivo e analítico, sendo desenvolvido com pesquisa bibliográfica para reconhecimento do objeto de pesquisa, que mostrou a importância e o porquê da existência das gírias na formação da identidade linguística desses indivíduos, juntamente com pesquisa de campo de caráter explanatório e laboratorial quantitativo-qualitativa para o levantamento de dados que confirmaram quais são as gírias mais usadas nos discursos das travestis, quais são seus significados e como surgiram. Visto que por se tratar de um grupo socialmente discriminado, as travestis têm um vocabulário bastante particular para se protegerem de pessoas alheias ao grupo no ato de fala. Esses indivíduos têm papéis relevantes para a variação linguística, e isso está intimamente relacionado com suas práticas sociais. O interesse desta pesquisa é compreender como elas utilizam a língua para se firmarem culturalmente e também para se protegerem de uma sociedade cada vez mais preconceituosa, já que as gírias presentes na linguagem desta comunidade de fala não são bem aceitas por muitos indivíduos da sociedade, sendo que enquanto signo de um grupo linguístico se comporta como um instrumento de defesa para que somente os falantes do grupo conheçam o sentido hermético dessas palavras. Todavia por essas expressões se tornarem conhecidas por muitos simpatizantes a referida linguagem transforma-se num código que não seja imutável. Assim se confirmou neste estudo o conjunto de palavras/gírias mais utilizadas pelas travestis do município de Cacoal/ RO.

Palavras- chave: Linguagem; Identidade; Gírias; Travestis; Sociolinguística.

APRESENTAÇÃO

O presente artigo desenvolveu estudos sobre a identidade sociolinguística das travestis do município de Cacoal e teve como finalidade descrever peculiaridades sobre essa construção linguística, como ela se dá, quais são os fatores que a influenciam.

Este trabalho buscou levantar o léxico comum presente na comunicação das travestis de Cacoal que passou a existir e a ser usado com o intuito de proteger suas informações de falantes da língua portuguesa que não pertencem ao grupo, além de explanar o significado dessas gírias e suas origens.

Analisou-se ainda neste estudo, como as integrantes deste grupo utilizam o gênero gramatical da língua portuguesa para afirmar suas identidades e de que maneira acontece a construção linguística das travestis, como ela se desenvolve no meio social sendo particularizada por este grupo linguístico.

Este artigo é dedicado principalmente ao público transexual, sendo também devotado a todos os pesquisadores e leitores que se interessam a estudos da sociolinguística, para que tenham entendimento de que a linguagem elaborada e utilizada pelas travestis de Cacoal no processo de comunicação vai além de palavras herméticas ao grupo, fazendo parte, portanto, de um vasto e importantíssimo estudo da sociolinguística.

Dessa forma este estudo buscou compreender que a construção discursiva funciona como uma faceta muito favorável para a formação de uma identidade para esta comunidade de fala, levando em consideração que a língua falada é segundo Tarallo (1999) “heterogênea e variável”.

Foi pesquisado o conjunto de palavras e expressões a fim de apresentar o léxico comum entre as participantes da pesquisa. O artigo foi desenvolvido por meio de pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo de caráter explanatório e laboratorial, os dados foram analisados, comparados, conferidos e compilados para serem apresentados nesta pesquisa de forma dissertativa e por meio de tabela que apresentaram os resultados obtidos.

Este estudo em sua essência se justifica por sua natureza formadora de opinião e também em virtude do interesse social. É importante que a sociedade conheça os membros de grupos menores que vivem dentro dela a fim de entendê-los. A nosso ver, se a sociedade conhecer melhor seus membros, e suas funções sociais será menos preconceituosa.

LÍNGUA E LINGUAGEM

Pode-se expressar que o estudo da linguagem como ciência da linguística, tende a descrever e explicar os fenômenos que ocorrem na língua, por isso, abrange os diversos aspectos da linguagem, tanto de forma individual como coletiva. A língua é dinâmica, e passa por transformações constantes no decorrer do desenvolvimento e evolução da sociedade.

Ao analisarmos uma sociedade extensa constituída por vários falantes, pode-se pensar em vários fatores sociais, como de inclusão, exclusão, estabilidade, ou de mobilidade, que são fatores que controlam a competência da fala de certa comunidade e que se usa na variação linguística. O linguista Marcos Bagno afirma que:

[...] a sociolinguística surgiu na década 60 nos Estados Unidos, graças, sobretudo aos trabalhos de William Labov, que veio mostrar que toda língua muda e varia, isto é, muda com tempo e varia no espaço, além de variar também de acordo com a situação social do falante. (2004, p. 43).

Deste modo, entende-se a sociolinguística como correlação entre formas linguísticas variantes, sendo, formas diferentes de dizer a mesma coisa com o mesmo valor da verdade, em determinados fatores sociais, seja a escolaridade, classe socioeconômica, etnia, cultura, sexo entre outros.

Fazendo uma suposição, pode-se, constatar necessariamente que algumas variantes tenham o mesmo significado e o mesmo valor de verdade. Porém, por outro lado, opostas na significação social e estilística, pois os falantes não aceitam á primeira vista o fato de que duas ou mais expressões distintas signifiquem exatamente o mesmo, o que leva os falantes na maioria das vezes a atribuir significados diferentes a mesma coisa, Tarallo diz que “[...] variantes linguísticas são, portanto, diversas maneiras de dizer a mesma coisa em um mesmo contexto, e com o mesmo valor de verdade”. (TARALLO, 2000, p. 8)

O que se pretende com este trabalho é a afirmação de um estudo sobre as travestis que compõem uma comunidade de fala e atribuem em seus discursos um sentido peculiar, um significado restrito que, quase sempre, é acessível, à frequentadores mais assíduos ou já conhecidos do mesmo espaço.

Bourdieu explica este fenômeno da seguinte forma “[...] a configuração travesti, com suas especificidades sóciofísico-culturais, é construída na fluidez de significados elaborados em suas práticas sociais, suas trocas sexuais, seu corpo e, como tentamos argumentar, na maneira que esses indivíduos utilizam a linguagem para fabricar seu repertório de identidades”. (BOURDIEU, 1986)

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