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A Representação Feminina Em O Cortiço

Por:   •  23/9/2019  •  Ensaio  •  1.446 Palavras (6 Páginas)  •  150 Visualizações

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Universidade Federal do Rio Grande do sul - UFRGS

Faculdade de Letras

Clássicos da Literatura Brasileira A

Professor William Moreno Boenavides

Elisa Perondi Raizler

A Representação Feminina em O Cortiço

Neste ensaio vamos analisar a representação feminina em O Cortiço, de Aluísio Azevedo. O Cortiço foi publicado em 1890, e é um dos melhores exemplares modelo da literatura naturalista brasileira. O naturalismo, uma das ramificações do realismo, foi um movimento que retratava o ser humano em seu “natural”, levando-o de volta a seu princípio, a mercê dos instintos biológicos. O naturalismo retirava do ser humano sua capacidade racional, ou, pelo menos, a sobrepunha sob o “lado animal”, usando-se de artifícios como a “zoomorfização”, ou simplesmente “animalização”, que consiste em descrever pessoas e/ou seus atos relacionado a comportamentos comuns de animais selvagens. Também apropriava-se de termos científicos e embasava-se em teorias como o determinismo biológico, racial e de meio. Como retratava esse “instinto animal”, a sexualização das personagens e o sexo como necessidade são presentes nas narrações, de modo tão incisivo em certos livros que estes chegaram a ser considerado pornografia pelos críticos da época.

O Cortiço é marcado em toda sua estrutura pelo naturalismo, apesar de, segundo Mendes (2000), ser de “mais fácil digestão” que outros livros do mesmo movimento. As personagens mulheres, independente de suas classes sociais, seguem a ideia naturalista de serem guiadas pelo instinto e agirem de forma animalesca, seja pela selvageria e promiscuidade, pela submissão ao “macho”, ou pelo trabalho braçal extensivo. Podemos, porém, perceber uma diferença na instintividade masculina e na feminina, onde, no caso das mulheres, agissem apenas por agir, sem total ciência de seus atos, mas no caso dos homens, ficava “reservada a compreensão de sua instintividade, já que é macho” (Aguiar, Nachtigall, Vargas e Schüssler, 2008).

Rozangela Carvalho, em seu artigo “A Figura Feminina sob a Visão Naturalista na Obra ‘O Cortiço’”, analisa as diferentes mulheres colocando-as em grupos: as Solteiras, as Adúlteras, as Lavadeiras, a Mulher Subordinada e a Mulher Mãe. Podemos usar dessa divisão para trabalhar outro meio de análise, a comparação, usando especialmente o que Carvalho diz a respeito das Solteiras e da Mulher Subordinada. Para essa comparação analisaremos as diferenças e semelhanças entre as personagens Rita Baiana (Solteira), Piedade e Bertoleza (Mulheres Subordinadas) e Pombinha (que termina como Adúltera).

Uma diferença fácil de ser percebida é a cor da pele. Piedade e Pombinha são mulheres brancas (Piedade sendo portuguesa), e Rita Baiana e Bertoleza são mulheres negras (Rita de pele mais clara, a dita “mulata”, e Bertoleza de pele escura, ex-escrava). O livro, sendo embasado fortemente no determinismo racial e escrito num meio de teorias racistas sendo (re)afirmadas, tende a colocar as mulheres negras como “fortes”, seja na capacidade braçal (Bertoleza) ou no “poder de sedução” (Rita Baiana), e as mulheres brancas, por sua vez, como fracas e frágeis, incapazes de agir por si. Outra dualidade que pode ser marcada é entre Submissas e Revoltosas, sendo Bertoleza e Piedade submissas aos homens com que vivem, ainda que estes pouco se importem com elas, já Pombinha (no final do livro) e Rita capazes de decidir por fazer o que bem entenderem e lidar com os homens como desejarem. Nenhuma das quatro possui um final que possa ser desejado, não havendo qualquer referência a se considerar o comportamento de Bertoleza ou Piedade como certo, muito menos o de Rita ou Pombinha como errado.

A comparação mais feita entre essas mulheres, porém, é a de Rita com Piedade, e suas respectivas representações como o Brasil [sexual, ardente, “um corpo que goza” (Mendes, 2003)] e a Europa [retrógrada, perdendo seu apelo, “morna e insípida” (idem)]. Nessa visão, Jerônimo é o bom homem português, que se deixou seduzir pelas maravilhosidades de Rita/Brasil e abandonou Piedade/Europa. Durante todo o livro encontramos passagens que demonstram essa substituição do recanto natal pelas terras tropicais, da troca do chá preto pelo café com um gole de parati, ao levar da música melancólica portuguesa pela eufórica brasileira. Rita e Jerônimo acabam juntos, mas em um relacionamento baseado em cachaça e sexo, que parece levar a ruína de ambos (o que pode ser visto como uma analogia ao destino do Brasil fruto daquela relação). Na funcionalidade geral desse caso, Rita Baiana é descrita como a clássica “mulata brasileira”, desapegada, que passa longe de sonhar em casar, mas está sempre de caso com algum homem, “de braço com um e olho no próximo”. A maior sexulialização feminina no livro, talvez a única feita especialmente como sua “maior qualidade”, pertence a ela. Fora Rita, onde sua “selvageria animal” pesa no lado da insaciabilidade sexual, as outras mulheres tendem a ser descritas como parte da massa viva, fazendo trabalhos pesados de lavadeiras, ou como seres submissos, seja aos maridos, como Piedade, ou as vontades da mãe, Pombinha.

Pombinha é um caso peculiar, pois, diferente de Rita, foi vista como “pura” a maior parte do livro, sem sequer ter tido sua primeira menstruação. Pombinha é a “flor do cortiço”. Bem educada, letrada, esperando “virar mulher” para poder casar-se. Porém, o que parece desencadear sua final transformação foi a relação sexual forçada que teve com Leóne.

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