A lenda do amor

A Lenda do Amor*

(conto de tradição oral)

Era uma vez há muuuito tempo. Tanto tempo que Deus ainda não tinha inventado Adão e Eva. Dizem que naquela época existiam aqui na Terra apenas os sentimentos, que viviam espalhados por aí nos quatro cantos do Paraíso. Um belo dia o Amor... estava observando a vida dos sentimentos e reparou que estava tudo meio sem graça, meio parado. Resolveu então chamar a Astúcia e a Inteligência e pediu para as duas inventarem uma brincadeira para que os sentimentos pudessem brincar juntos. Elas se reuniram e inventaram o pique-esconde. As duas então decidiram como seriam as regras da brincadeira e logo chamaram os sentimentos para explicar. Estavam todos reunidos, e mal terminaram a explicação, a Loucura foi logo se manifestando.

“Uaaaaaaau! Que brincadeira legal! Pôxa vida, Inteligência, esse nome seu não é à tõa, né!

Mas eu gostei taaaanto dessa brincadeira que eu queria ser o pegador, pode ser eu, pode, pode...”

A Inteligência então perguntou para a Loucura:

“Espera aí, Loucura, vamos com calma. Para ser o pegador, precisa saber contar. Por acaso você sabe contar Loucura?”

“O quêêêê!!! Você está duvidando da capacidade da Loucura?! É claro que eu sei contar. Desde que eu era criança pequena eu sei o alfabeto inteiro”.

A Astúcia então disse: “Mas não é o alfabeto, são os números”

“Os números?!! Ah, números eu não sei... quer dizer que eu não vou poder contar, só porque eu não sei os números” e a Loucura começou a chorar. Mas repentinamente parou é disse: “Espera aí! Afinal de contas eu sou a Loucura e faço o que eu quiser, ninguém manda em mim, e eu vou contar e pronto acabou!”

E como todos já conheciam os famosos ataques da Loucura, ninguém era doido de ser contra ela. E lá foi ela contar:

“Vai ter que ser o alfabeto mesmo, né: e é A, é B, C, J, Y, Ç, K...”

E enquanto ela ficava lá contando, os sentimentos foram todos esconder. O primeiro foi o Amor, e ele escolheu uma linda roseira, carregadinha de rosas vermelhas e perfumadas, e escondeu-se atrás dela. Depois foi a vez da Paixão, e ela foi parar dentro de um vulcão que estava quase entrando em erupção, e ficou lá, pronta para explodir a qualquer momento. Foi então a vez do Orgulho, que procurou a montanha mais alta e ficou lá de cima observando a todos, “superior”.

Depois foi a vez da Humildade que mergulhou no fundo do mar, procurou a região mais profunda e lá ela ficou. A Esperança foi para o alto do arco-íris, e quando chegou lá em cima, olhou para baixo e enxergou o pote de ouro... porque ela acreditava que ele existia lá no final. Aí foi escorregando pelo arco-íris e escondeu-se dentro do pote de ouro. A Serenidade escolheu as águas calmas e cristalinas de uma lagoa e por lá se espalhou. Já a Dúvida ficou sem saber para onde ia. Primeiro pensou em esconder-se na copa de uma árvore, mas logo desistiu. Depois foi para a porta de uma caverna, mas também desistiu de ficar lá dentro. Acabou que na dúvida ela ficou parada no mesmo lugar. O Desespero não sabia para onde que ele ia. Olhava para todos os lados e percebeu que já estavam quase todos escondidos. Ele então resolveu sair correndo para uma direção qualquer. Foi então que encontrou a Angústia que estava na mesma situação. Deu as mãos para ele e saíram os dois correndo, não viram a Dúvida que estava parada na frente deles, tropeçaram na Dúvida e foram parar no fundo do poço. E por lá eles ficaram.

De repente a Loucura cansa de contar e resolve parar:

“... F, W, H, X, Ç, Ahhh, cansei de contar!!! Eu vou sair e vou encontrar todo mundo Atenção pessoal a Loucura está à solta!”

E quando ela deu o primeiro passo, logo na sua frente encontrou alguém...

“Preguiça!, mas você não saiu do lugar... vai ser a primeira”

E assim a Loucura saiu procurando e foi encontrando todos os sentimentos. Até que ela estava quase ganhando a brincadeira, faltava só um: o Amor.  E quando a Esperança ficou sabendo que só faltava ele, ela deu um grito que saiu do fundo de seu peito:

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