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AS PERSONAGENS FEMININAS REPRESENTADAS EM A LETRA ESCARLATE DE NATHANIEL HAWTHORNE

Por:   •  6/4/2018  •  Trabalho acadêmico  •  2.891 Palavras (12 Páginas)  •  586 Visualizações

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AS PERSONAGENS FEMINANAS REPRESENTADAS EM A LETRA ESCARLATE (1850), DE NATHANIEL HAWTHORNE

Nascido no Estado de Massachusetts, em Salém, no ano de em 1804, Nathaniel Hawthorne escreveu diversos contos, porém iniciou sua carreira publicamente como romancista em 1850, com o romance A letra escarlate, no qual o autor confronta os valores da sociedade puritana do século XVII com o que é intimamente humano. Hawthorne, enfrentou diversos problemas de saúde e sem maiores esperanças na literatura, morreu em 1864. Considerado um dos maiores romances dos Estados Unidos da América, “A Letra Escarlate” retrata a história de Hester Prynne, uma mulher nascida na Europa e que é enviada a Salém, cidade estadunidense colonizada por puritanos ingleses, pelo marido com a promessa de que este iria até ela assim que resolvesse seus assuntos pendentes. Nesse tempo Hester tem uma relação adultera que resulta em uma filha ilegítima, “pecado” e crime que deveria ser punido com morte, porém como seu marido está desaparecido há dois anos, Hester é presa e obrigada a usar letra “A”, bordada em vermelho em suas roupas para mostrar a todos o seu crime. É condenada também a uma espécie de exposição de seus crimes, ficando em um púpito em frente a todos da cidade, em um desses momentos de exposição, a personagem principal é questionada e recusa-se a contar quem é o pai de sua filha. Nesse momento há a chegada de um médico que é o marido de Hester Prynne, cujo nome apresentado para a cidade é Roger Chillingworth. Este então, faz uma visita para cuidar da pequena Pearl e Hester no cárcere em que ambas se encontram, ele pede à mãe para que seu segredo não seja revelado, e jura que acabará descobrindo quem é o pai da criança mesmo que a cidade não o saiba, e diz que dele irá vingar-se.

O tempo passa e Hester é libertada da prisão. Ela e sua filha Pearl acabam indo morar em uma cabana afastada da cidade, consequentemente, isolada da sociedade em questão. Contudo, Hester começa a costurar para as pessoas que a procuram, vive uma vida simplória, porém seu talento como costureira faz com que vivam sem dificuldades financeiras. De fato, Hester ainda ajuda pessoas mais pobres que acabam sendo mal agradecidas. O que chama atenção é o fato de que a menina, filha de Hester, por mais que esteja isolada do contato humano além da mãe, aparenta ser mais inteligente do que o comum.

Outro fato que chama atenção ao leitor é de que o Reverendo Dimmesdale começa a adoecer com o passar do tempo e acaba por ir viver com o médico Roger Chillingworth. A questão que continua a piorar o estado de saúde do Reverendo é o remorso que este carrega por ser o pai de Pearl. Ao contrário, Hester vem se mantendo cada vez mais forte, assim como a filha, e sempre ajudando à todos os que precisam. Os pais da criança decidem fugir após Hester revelar a verdade sobre seu marido, porém Chillingworth havia descoberto o segredo de ambos e torturado Dimmesdale em segredo e acaba impedindo a fuga. Quando este assume sua culpa diante da cidade, acaba vindo a falecer. Um ano após a morte do seu objeto de vingança, o médico também vem a falecer e deixa para Perl uma grande fortuna. Assim, Hester e sua filha somem, deixando implícito o fato de que foram para a Europa. Acredita-se que Perl casou-se e vive bem em algum lugar da Inglaterra. Anos mais tarde, a dona da letra escarlate retorna à sua cabana, auxiliando mulheres que como ela foram desvirtuadas, e veio a falecer também após anos de auxílio porém, quando faleceu foi enterrada ao lado do Reverendo Chillingworth sob os escritos: “NUM CAMPO SEVERO, IMENSO, NEGRO E TRISTE, GRAVADA A VERMELHO, A LETRA A SUBSISTE!” (HAWTHORNE, 2006, p. 225).

Em “A Letra Escarlate” as personagens apresentam uma forte relação com o meio, ficando expresso na narrativa os aspectos da sociedade da Nova Inglaterra. Este fato torna a obra de extrema relevância para a literatura americana. De fato, a presença social na literatura não é novidade, mas segundo Cândido:

“Dizer que ela exprime a sociedade constitui hoje verdadeiro truísmo; mas houve tempo em que foi novidade e representou algo historicamente considerável. No que toca mais particularmente à literatura, isto se esboçou no século XVIII, quando filósofos como Vico sentiram a sua correlação com as civilizações, Voltaire, com as instituições, Herder, com os povos. Talvez tenha sido Madame de Staél, na França, quem primeiro formulou e esboçou sistematicamente a verdade que a literatura é também um produto social, exprimindo condições de cada civilização em que ocorre. (CANDIDO, 2006, p. 29).

        Vemos então que Cândido vai de encontro com Adorno, que diz que “A priori, antes de suas obras, a arte é uma crítica da feroz seriedade que a realidade impõe sobre os seres humanos” (ADORNO, 2001, p. 13). Assim, a literatura sempre apresentará perspectivas de análise por meio do contexto social, além de aspectos estéticos, por meio da literatura é possível visualizar a cultura, ideologia e as relações sociais.

No romance de Hawthorne podemos ver como a intimidade humana é mal vista na sociedade puritana retratada no contexto de “A Letra Escarlate”. O puritanismo surgiu no século XVI, influenciado por João Calvino (1509-1564), se alastrando por uma briga monárquica pelos séculos seguintes e tornou-se muito influente na Inglaterra, o que acabou chegando à então colônia da Nova Inglaterra, os atuais Estados Unidos da América. Este movimento religioso propunha a pureza da igreja, do indivíduo e da sociedade bem como a integração da mesma. Ou seja, o puritanismo foi uma doutrina religiosa, mas era também uma espécie de doutrina política que constituía a organização da sociedade estadunidense. Partindo dessa contextualização, é perceptível como o romance retrata como esse pensamento puritano afetava as personagens, em especial o casal que carrega a culpa consigo, Hester Prynne e o Reverendo Dimmesdale, bem como tal fato une a letra bordada e a criança originada do, para a época, crime. Tudo isso reflete em como a mulher puritana deveria ser ainda mais submissa para ser digna de algum afeto social.

O romance tem início com a humilhação pública de Hester Prynne, contudo a narrativa se inicia com a traição de Hester ao seu marido que está desaparecido há anos. Para o puritanismo, o adultério era um crime hediondo, sendo a pessoa condenada à humilhações públicas quando não a morte, é claro que a mulher sofria maiores condenações nesses casos como sofre até hoje, em especial quando se trata de convenções sociais de uma sociedade conservadora, como afirma Lipovetsky:

[...] o ascetismo protestante não se desenvolveu exclusivamente em solo americano. Ora, na Europa onde nasceu, seus efeitos sobre a relação com o sexo não são em parte alguma equivalente ao que se pode observar do outro lado do Atlântico. Em segundo, a hipótese puritana não permite compreender o fato novo de que já não é a concupiscência como tal que se vê lançada ao opróbrio, mas o sexo como relação de poder, como sujeição e opressão do feminino. À condenação puritana dos prazeres sensuais sucedeu a excomunhão de todas as relações de dominação dos homens sobre as mulheres na esfera do sexo. Semelhante politização do sexo não pode ser reduzida a um vestígio do ascetismo secular protestante.” (2000, p.90)

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