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Análise Simbólica do Conto: A Bela e a Fera A Tale Basco - Adaptação do Conto de Charles Perrot de Le Notti

Por:   •  16/1/2020  •  Ensaio  •  2.922 Palavras (12 Páginas)  •  124 Visualizações

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Análise Simbólica do Conto: A Bela e a Fera A Tale Basco - Adaptação do Conto de Charles Perrot de Le Notti Piacevolo

Por Aline Reguine

O tema central desse conto é a busca da Fifine em tornar-se mãe de si mesma e integrar o seu animus. Diferente de contos de fadas que contém disputas e conflitos com a mãe ou a madrasta como Cinderela, Branca de Neve, Bela Adormecida e Rapunzel etc, em A Bela e A Fera, não há nenhuma relação “mãe e filha” que gere desentendimentos que favoreça o desenvolvimento e amadurecimento da heroína como mulher. A força motriz para o desenvolvimento feminino é o mal, ou seja, o lado negativo da maternidade. Se uma mulher não passa por esse estágio com sua mãe, ficará com um buraco em sua expressão feminina e desenvolverá uma profunda insegurança para ser tornar mulher e mãe.

Histórias que mostram a relação “mãe e filha” nos dizem que a mulher desenvolve sua personalidade e sua identidade, enquanto ser feminino, a partir de sua relação com a mãe. E quando a figura materna é ausente como na Bela e a Fera, essa mulher acaba desenvolvendo grande insegurança em relação a quem é, caindo muitas vezes na armadilha do animus (lado masculino da mulher) e se igualando a ele. Ao se igualar ao animus, a mulher lesa suas relações, pois esse masculino interior tende a afastá-la de sua própria vida e levá-la à solidão.

Ao ser iniciado com “havia” podemos afirmar que esse tempo verbal facilita a entrada no inconsciente, convidando para a entrada no simbólico, fora do tempo e do espaço. Levando para um tempo ilusório, onde a imaginação se permite chegar. Contar histórias de reis, príncipes e princesas, como quem viu ou viveu o que fala, repete essa história com uma emoção renovada encantando as crianças com o possível e o impossível e os adultos com vislumbre de um caminho que lhes devolva o sonho.

O conto se inicia com um rei que tinha três filhas, o rei sempre vemos em leituras simbólicas como uma energia yang, masculina, rei também representa uma escolha divina, porque Deus é quem coroa um rei através de um papa. Ao mesmo tempo esse rei tem três filhas, sendo que há um desiquilíbrio na relação entre essas três filhas já que "ele costumava trazer ao seu palácio belos rapazes para apresentar as duas filhas mais velhas, mas não dava nenhuma atenção a todos os jovens que queriam se apresentar para a sua filha caçula" apesar dela ser “a mais bonita e a mais amável".

Enquanto as demais filhas eram cortejadas por “belos rapazes”, Fifine era preterida. Ao pedir uma flor para o seu pai, podemos fazer uma associação entre a flor e à deusa Afrodite que indica uma busca de amor erótico e transcendental, bem como a união com seu oposto. Fifine deseja inconscientemente quebrar esse pacto de união com o pai e experimentar o amor por outro homem. Isso significa que a menina deseja sair da experiência do apego à lei masculina – representada no pai – que transforma um homem em Fera, para o amor carnal através do seu lado feminino, do seu desejo e sentimento.

A figura do rei está no limite do sacerdócio. O numeral três em “um rei que tinha três filhas” já infere que haverá um movimento de evolução, transformação e culminação, já que segundo o Tao esse numeral representa a trindade.

Na China, como o rei é o intermediário entre o céu e a terra, esse termo é representado por três traços paralelos: céu, homem e a terra, ligados no meio por um traço vertical. Três é um número perfeito para os chineses.

Não se ganha uma batalha sem o rei. O rei também deve assegurar a prosperidade dos seus súditos. No início do conto ao afirmar que "havia um rei que tinha três filhas" é possível perceber um desequilíbrio entre o número de personagens: um masculino e três femininos. Podemos inferir a partir desse número que o menor é o que está faltando, logo indica um resgate necessário do masculino, ou seja, o animus da heroína.

As "duas filhas mais velhas" dentro das funções psíquicas classificadas por Jung são as funções auxiliares e também elementos de sombra. A "filha caçula" é a nossa heroína, a manifestação do Ego, da consciência, ela é “a mais bonita e a mais amável”. Porém como é a filha mais nova, como função psíquica, podemos afirmar que é também a função inferior que precisa ser resgatada.

Segundo o Dicionário dos Símbolos, o personagem “Filha do Rei” representa a água, a que acalma a cólera, a que consegue salvar a vítima, aplacar e oferecer a proteção inesperada, além de representar a Virgem Maria.

Retornando a figura do rei, observamos que o primeiro receptáculo do animus é a figura paterna, nesse conto, observamos o rei como primeira representação do animus da Fifine para só depois, ao longo do conto esse animus ser transferido para outros referenciais masculinos que rodeiam a mulher, no caso, a Fera.

Quando a filha mais nova pede uma flor, ela manifesta a Energia Primária/Pontos 1 ao 3 do Círculo Psico-Orgânico representado pelo Ouróboros-Grande Mãe/Fonte – Eu Preciso. O símbolo flor significa o princípio passivo, amor e harmonia.

No momento que o rei "estava retornando para casa, passou por um belo castelo, e viu um jardim cheio de flores." é o movimento de entrada no inconsciente, especialmente quando uma voz fala com ele no momento exato em que ele pegou algumas flores de uma só vez.

O termo castelo se refere a um espaço de difícil acesso, a uma transcendência e a uma conjunção de desejosa uma construção sólida e de difícil acesso, também representa a transcendência. Proteção, conjunção de desejos.

A carruagem em que ele estava e desceu tem como significado o transporte da alma e se funde ao condutor quando o rei desce dela para "pegar algumas flores de uma só vez." Um ramo de flores ou ramalhete significa a perfeição espiritual.

Como função psíquica podemos afirmar que o Rei, nesse conto, é uma consciência egóica porque tem problemas e necessita de uma renovação. Essa apresentação do problema (ou a crise) revela o elemento mais problematizado.

Quando a caçula afirma "Meu pai, não se preocupe. Eu vou." ela manifesta a Energia Psíquica do Guerreiro em Ação no Mundo/ Pontos 4 a 6 do Círculo – Patriarcado – Eu quero/tenho/desejo.

No conto, vemos Fifine envolvida em uma ligação afetiva muito forte com o pai. A mãe não é citada, aumentando, assim, a supervalorização da figura paterna. O fato de não ter mãe simboliza uma fraqueza e incerteza sobre a feminilidade da heroína, o que a deixa suscetível à dominação dos conceitos masculinos.

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