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Conto De Escola: A Escola Do Conto

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Por:   •  3/6/2014  •  3.279 Palavras (14 Páginas)  •  1.245 Visualizações

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Conto de Escola: a Escola do conto

Alfredo Rabelo Costa

A arte literária e seu caráter mimético

A poesia é uma das mais altas categorias de expressão interior que se vale o ser humano.

Para Aristóteles, a poesia enquadra-se como arte de imitação, porém existem diferenças na forma de imitar entre os gêneros poéticos. Segundo o estudioso grego, “seus meios não são os mesmos, nem os objetos que imitam, nem a maneira de imitar”. Para ele, em sua Arte poética “ a imitação é produzida por meio do ritmo, da linguagem e da harmonia”1.

Porém, sabe-se que a definição aristotélica não é válida para todo texto literário, e sim para a poesia, mas não necessariamente para a prosa literária, uma vez que naquela época não existiam romances, novelas, contos, entre outros. Para Alfonso Reyes, um incansável no estudo de mimese, Aristóteles emprega o termo para se referir “à expressão, Poe meio da arte, do tipo que o artista tem na alma. É a imitação de uma presença subjetiva”2, ou seja, o resultado daquilo que foi criado, imaginado, fantasiado pelo artista. Poderíamos, então, sustentar a idéia, que a arte literária hoje, nutre-se pelo seu alto grau de expressão e ficcionalidade, seja ela poesia (entenda-se poesia como texto literário escrito em verso) ou na prosa literária.

Fica claro, assim, que a mimese na poesia valeu-se até por volta do século XVIII quando os conceitos modernos de poesia e arte literária passam por algumas reavaliações. E bom lembrar, que para o pensador e estudioso grego, a poesia mimética é aquela que imita a natureza.

Os níveis do texto literário em Conto de escola

A obra literária a ser analisada neste trabalho é o conto “Conto de escola”, de Machado de Assis, que foi publicado no livro Várias Histórias em 1896.

No nível fabular da narrativa literária temos o enredo, a história sendo contada por narrador. Vamos ao enredo do Conto de escola:

O tema do conto é a corrupção e a delação. A história inicia-se quando Pilar ainda no caminho da escola fica hesitado em ir a outro lugar: Morro ou campo. Mas de repente, Pilar volta-se à idéia de ir mesmo à escola, pelo fato de ter na lembrança a surra que levou de seu pai, exatamente pelo motivo de não ter ido até a escola e metido no campo. Pilar deixa de pensar no morro ou no campo momentaneamente e dirige-se até à escola. Uma vez na sala de aula, Pilar, juntamente com os outros alunos começam os trabalhos. O trabalho naquele dia era um exercício de sintaxe e o professor Policarpo lia o jornal em sua mesa como era de costume. Em um dado momento, Pilar ouve alguém lhe chamar: era o filho do professor, Raimundo. Raimundo propôs a Pilar uma negociação: entregava uma moeda a ele, enquanto este fazia a lição de sintaxe ao Raimundo.

Pilar ainda hesitou, mas aderiu a proposta de Raimundo, e assim o acordo se cumpriu. Porém, um dos meninos, atento, observava a transação entre os dois colegas, e depois que ela estava consumava, Curvelo (era o nome do menino que os observa) decidiu contar ao professor.

Mostrando atitude, o professor Policarpo, então, aplicou-lhes doze bolos com a palmatória a cada um dos meninos, além de ofendê-los verbalmente. Pilar, por sua vez, entendeu que iria resolver a situação com o Curvelo depois que saíssem da escola. Mas Pilar não conseguiu pegar seu delator, uma vez que este fugiu ao serem liberados do horário de aula. Pilar foi para sua casa e lá chegando justificou à mãe suas mãos inchadas: “menti a minha mãe, disse-lhe que não tinha sabido a lição”. Dormiu! Sonhou! E ao acordar, ainda possuía a idéia de buscar a moeda. Saiu de sua casa “como se fosse trepar ao trono de Jerusalém”, pelo fato de estar de roupas novas. Na rua, encontrou um grupo de fuzileiros que ia ao som do tambor e Pilar resolveu segui-lo, esquecendo-se da escola, da moeda e dos meninos que fizeram com que ele apanhasse do professor no dia anterior.

No nível atorial estudamos as personagens que compõem a obra.

Podemos no conto em análise, considerar quatro personagens. Essas personagens além de cometerem ações contraditórias, apresentam um perfil que se liga àquele do homem comum, no cotidiano. As personagens são: Pilar, Raimundo, Curvelo e o professor Policarpo.

Pilar é narrador-personagem, caracterizando-se como principal. A história desenvolve-se em torno deste personagem. Tudo, de forma o de outra, relaciona-se a ele. Menino de aproximadamente 10 anos, Pilar já age como adulto, negociando, observando as conseqüências das suas atitudes e buscando a mentira como forma amenizadora da sua dor.

É importante realçar, que este personagem é traçada pelo escritor Machado de Assis, para, no conto, representar o homem mais aproximado da realidade, buscando a sobrevivência no mundo capitalista. Por isso. Pilar tendo a consciência que é o mais inteligente da turma, utiliza-se desse fato para tirar proveito, como é o caso da compra e venda de favores entre os dois garotos, que demonstram bem estarem em um meio capitalista. O que causa estranheza é o personagem ser ainda uma criança e já possuir características que são atribuídas aos adultos.

Pilar é convencido e vaidoso, corrupto e mentiroso, o que torna a sua figura ainda mais real, viva, sem deixar de observar que o autor usa recursos altamente expressivos para construir sua principal personagem (referindo-se a este conto). A narrativa é contada por Pilar adulto um momento de escola na sua fase infantil.

Já Raimundo, apesar de aplicado, era de inteligência tarda, mole e sempre resolvia seus exercícios muito depois dos colegas. Além disso, o medo que sentia do pai (o professor Policarpo) era tanto que se atrapalhava mais ainda nas resoluções do dia-a-dia. A esse perfil psicológico de Raimundo, acrescentam-se às suas características físicas , como o narrador nos conta: “Era uma criança fina, pálida, cara doente; raramente estava alegre”. Raimundo, por achar que não tem capacidade para resolver as atividades e que o Pilar (“era dos mais inteligentes”) poderia não querer lhe ajudar na tarefa, resolve oferecer uma moeda a ele como forma de pagamento pelo trabalho feito (“o toma lá; dá cá”). Essa idéia de venda de favores é típica do capitalismo selvagem o qual a nossa sociedade vive, e é retrata na obra para, mostrar o caráter, tanto de Raimundo, que corrompe, quanto de Pilar, que é corrompido.

Curvelo, colega de classe de Raimundo e Pilar, é uma personagem que se destaca dentre os demais, mas não pela inteligência ou aplicação, e sim pelo comportamento

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