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Artimanhas de um gasto gato

Por:   •  27/11/2015  •  Resenha  •  939 Palavras (4 Páginas)  •  947 Visualizações

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O poema abaixo é de Ana Cristina Cesar, retirado do livro “Inéditos e dispersos”, da Editora Ática.

Artimanhas de um gasto gato

Não sei desenhar gato.

Não sei escrever gato.

Não sei gatografia

        Nem a linguagem felina das suas artimanhas

Nem as artimanhas felinas da sua não-linguagem

Nem o que o dito gato pensa do hipopótamo (não o de Eliot)

Eliot e os gatos de Eliot (“Practical Cats”)

Os que não sei e nunca escreverei na tua cama.

O hipopótamo e suas hipopotas ameaçam gato (que não é hopogato)

Antes hiponímico.

Coisa com peso e forma de peso e o nome do gato?

J. Alfred Prufrock? J. Pinto Fernandes?

o nome do gato é nome de estação de trem

o inverno dentro dos bares

a necessidade quente de tê-lo

onde vamos diariamente fingindo nomear

eu – o gato – e a grafia de minhas garras:

toma: lê o que eu escrevo em teu rosto

a parte que em ti é minha – é gato

leio onde te tenho gato

e a gatografia que nunca sei

aprendi na marca no meu rosto

aprendi nas garras que tomei

e me tornei parte e tua – gata – a

saltar sobre montanhas como um gato

e deixar arco-irisado esse meu salto

saltar nem ao menos sabendo que desenho

e escrita esperam gato

saltar felinamente sobre o nome de gato

ameaçado

ameaçado o nome de GATO

ameaçado o nome de GASTO

ameaçado de morrer na gastura de meu nome

repito e me auto-ameaço: não sei desenhar gato

não sei escrever gato

não sei gatografia

        Nem…

(2.10.1972)

A autora faz jogo de palavras, recorre à intertextualidade explícita, cria neologismos, faz da metalinguagem um tema. Diante disso, vamos aprofundar um pouco mais nossa leitura:

a) Destaque exemplos de neologismo (invenção de palavras) e discorra sobre sua importância no poema.

Neologismos são novas palavras criadas na língua, tais palavras normalmente surgem quando o escritor quer se expressar, mas não encontra a palavra ideal. O emprego de neologismos no poema é de extrema importância, pois através deles percebemos uma gama muito maior de sentidos no texto que vão além do que está escrito, mas se pode alcançar, sutilmente, o que está sendo insinuado.

Um neologismo utilizado pela autora é “gatografia” e diz respeito à escrita do gato, que pode tanto significar que o gato está escrevendo através dos arranhões que faz, as cicatrizes que deixa no rosto da dona. Como também poderia significar o desenhar o gato, como a autora mesma diz: não sei desenhar gato.

A seguir, encontramos outra criação da autora, a palavra “hipopotas” esta se refere à fêmea do animal hipopótamo. A autora faz o uso de tal neologismo para acentuar cada vez mais a sintetização das palavras pátrias que é uma tendência entre nós brasileiros, além de deixar o texto mais descontraído. Seguindo este último, ainda surge uma série de neologismos compostos pelo prefixo grego “hipo”, “hiponímico”, e “hipogato” que representa uma mistura entre hipopótamo e gato. Esses neologismos iniciados pelas mesmas letras foram formados aparentemente para dar uma musicalidade ao poema.

b) A autora fala da linguagem (do gato, mas também da linguagem do poeta) e, em especial, o papel do ser humano em nomear os seres. Que verbo sintetiza a opinião da autora sobre o ato de nomear?

A palavra que sintetiza essa opinião para o ato de nomear é o verbo “arco-irisar”, no sentido de adjetivo no texto. Essa palavra, segundo o dicionário, também, tem um valor de sentido de esclarecer, elucidar.

As ações podem ser de ficção, vendo que se trata de gatos. A poeta está se referindo a atividade de gatuno; nomear, escrever e desenhar, refere-se a truques- coisas "roubadas", enquanto usados como seu no texto, em citação explicita de obra de Drummond.

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