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Aspectos Filosóficos da Vida Ribeirinha

Por:   •  14/7/2023  •  Trabalho acadêmico  •  1.674 Palavras (7 Páginas)  •  48 Visualizações

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Universidade Federal do Amapá – UNIFAP

Campus Santana (CSTN)

Curso de Licenciatura em Letras Português (CLLP)

Introdução à Filosofia

Prof. Paulo Roberto Mendonça

Aluna: Suely Cabral Quintela

Introdução

   O presente trabalho tem como objetivo explicitar os aspectos culturais da comunidade ribeirinha Foz do Mazagão Velho, localizada no distrito de Mazagão velho, município de Mazagão, à aproximadamente 43 km da capital de Macapá, no estado do Amapá. Pensar na referida comunidade tendo como aspecto cultural a relação intrínseca  do Rio com os indivíduos que residem as margens dele, deslizando suas embarcações rumo ao  destino que almejam. Para além disso, o modo como vivem e como se estabelecem, tendo em vista que a água é presente nos vários aspectos de sua vivência. Escrevo esse texto não somente como acadêmica do curso de letras/Português mas também como filha de ribeirinhos, moradora da Foz de Mazagão Velho  por 18 anos, desse modo as vozes desse texto estão misturadas em terceira e primeira pessoa, de acordo com o modo que me foi permitido.

Muitos estereotipam aqueles que pertencem às comunidades ribeirinhas como indivíduos sem cultura, que não sabem falar de forma que julgam correta, entre outras coisas. Nota-se que daí inicia-se o preconceito, desconsiderando todos os saberes e vivência empregados no cotidiano de tais indivíduos. É preciso entendermos que ao direcionar o pensamento para cultura devemos entendê-la que seu sentido é amplo e particular de cada realidade, para isso, Santos  (1995) afirmará:

Cada realidade cultural tem sua lógica interna, a qual devemos procurar conhecer para que façam sentido as suas práticas, costumes, concepções e as transformações pelas quais estas passam. É preciso relacionar a variedade de procedimentos culturais com os contextos em que são produzidos. As variações nas formas de família, por exemplo, ou nas maneiras de habitar, de se vestir ou de distribuir os produtos do trabalho não são gratuitas. Fazem sentido para os agrupamentos humanos que as vivem, são resultado de sua história, relacionam-se com as condições materiais de sua existência. Entendido assim, o estudo da cultura contribui no combate a preconceitos, oferecendo uma plataforma firme para o respeito e a dignidade nas relações humanas. (SANTOS, 1995, pg. 8)

    Por esse motivo é errôneo apontar quem tem cultura e quem não tem, pois cultura é determinante da especificidade de cada região e do modo de vida de cada comunidade. Dito isso, conheceremos um pouco da cultura da Foz de Mazagão velho nos aspectos do  cotidiano. Dividirei o texto em três partes; A maré como ponto de partida e os transportes de locomoção dos ribeirinhos mazaganenses; a segunda será  sobre a alimentação: um contato direto com a natureza e a terceira observações do cotidiano ribeirinho.

A maré como ponto de partida e os transportes de locomoção dos ribeirinhos mazaganenses:

Fonte: arquivo da autora /Suely Quintela. [pic 1]

         Um traço marcante na cultura ribeirinha da Foz de Mazagão Velho é a relação com o rio como um relógio, que dita os horários do indivíduo em vários momentos do seu cotidiano. Dessa forma, os moradores dessa comunidade  se guiam pelo nível da maré ( diz respeito ao nível da água, se está enchendo ou vazando). Para uma viagem mais longa, por exemplo,  é necessário saber se a maré estará a favor do percurso da embarcação, o que significa uma viagem rápida, ou se estará navegando em um rumo oposto,  assim uma viagem mais demorada e consequentemente mais combustível a ser utilizado.  As embarcações são diversas; catraias e lanchas são utilizadas para viagens longas como para Santana, Mazagão Novo  ou para as ilhas vizinhas, além de serem usadas  para transportar alunos para suas respectivas escolas. As rabetas, cujo tamanho é menor, é de uso comum a quase todas famílias ribeirinhas, é usada no dia-a-dia para lugares mais próximos, o que se observa sobre a rabeta, é que  até mesmo crianças se arriscam a “pilotar" , o que pode ocasionar acidentes. Tem também as canoas, que são usadas mais para atividades de pescas. Na questão das pescas, o rio também tem grande influência como mediador do tempo. As atividades de pescarias também são medidas por ele. Por exemplo, o que chamam de  “pacuema”, que se trata do momento em que a água está mudando de nível,  segundo os mazaganenses, é o melhor horário para colocar malhadeira (artefato usado para captura de peixes) nesse momento eles dizem que ela para, não fica  escoando nem para um lado, nem para o outro. Para a pesca do camarão, a vazante da água é o melhor horário. Para as caçadas, quanto melhor a água cheia, invadido a terra, melhor é , isso estende para atividade madeireira também, pois com a água adentrado as matas, fica mais fácil arrastar as peças de madeira. Sobre o trabalho com madeira, já nem é uma prática tão comum quanto antes, há na comunidade uma fiscalização rigorosa visando a preservação do meio ambiente.

Alimentação: contato direto com a natureza.

Aproveitando o ensejo de ter citado a pescaria, falaremos agora do aspecto cultural a mesa dos ribeirinhos. A foz de Mazagão velho, comparado a outros municípios ,é um interior próximo as cidades como Santana, Macapá e Mazagão, dessa maneira, há facilidades em ir a cidade comprar  carne bovina, frango entre outras. Porém, a maior parte da alimentação consumida pelos indivíduos são extraídos da própria natureza que os rodeiam em abundância. O açaí funciona como prato principal, toda alimentação deve ser acompanhada da poupa da fruta, mas, para chegar à mesa dos moradores, há todo um processo. Para apanhar o açaí da árvore é necessário usar uma faca e um acessório que denominam de peconha, esse acessório será colocado em volta dos pés e assim o indivíduo subirá a árvore e escalará até chegar no cacho da fruta, cortando-o em seguida. Depois desse processo, é preciso tirar o fruto da vassoura do açaí, “debulhando-os" e em seguida, jogar água fervida, depois disso bater na batedeira e estará pronto para ser servido. Na maioria das vezes são os homens que são responsáveis por esse processo, porém, muitas mulheres  se arriscam à essa atividade.

[pic 2][pic 3]

Imagem: Assunção Costa/ facebook[1]              imagem: reprodução/ Rede Amazônica[2]

      A pesca do camarão além de ser executada para fins econômicos, tal  como é o açaí, é também utilizada para alimentação. Os camarões são capturados através de armadilhas, feitas com talas e cipós ou até mesmo, fio de náilon. Para atrai-los até a armadilha, usa-se o que os ribeirinhos chamam de “poquecas" , que são pequenas porções de babaçu embrulhados com folhas e amarradas com grelos. As poquecas são colocadas dentro do matapi , que é amarrado em uma corda e fixado com uma vara próximo à praia.  Quando se pretende comercializar o camarão, após cada despesca, os camarões são guardados em um viveiro, objeto esse igual a uma caixa, telado para que os camarões não fujam.  Já para a captura do peixe, são usados malhadeiras, linhas de pesca e também, os moradores produzem um artefato que chamam de “pari" feito com talas, emparelhadas e amarradas com cipó. É colocado no início de um pequeno igarapé na enchente, impossibilitando os peixes de escaparem quando o nível da água diminui. Claramente a vida ribeirinha está interligada com a natureza, extraindo o que ela oferece sem deixar de preserva-la, através de manejo, plantando ou quanto aos peixes, respeitando o período de defeso ( época em que os peixes se reproduzem, sendo proibido a pesca visando a preservação).

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